6.06.2014

BIODIVERSIDADE E EVOLUÇÃO



A floresta espontânea e as espécies da flora portuguesa, entre as quais podemos destacar, pela nobreza do porte e notada significação ambiental, cultural e económica, o grupo das quercíneas, a que pertencem todos os carvalhos, como o carvalho cerquinho, alvarinho ou roble, o carvalho negral, mas também o sobreiro e azinheira tão vulgares no nosso território, que, por se encontrarem inequivocamente adaptadas à nossa realidade e cotidiano, apresentam um elevado fator de sustentabilidade aos níveis da conservação da natureza, do equilíbrio climatérico e da qualidade do ar, fixando o CO2, concorrendo assim para estabilidade e recarga dos aquíferos, para a preservação e para a regeneração dos solos, bem como agindo no combate aos incêndios pela reconhecida resistência e capacidade regenerativa que todos lhe constatamos.

Árvores que estão connosco desde as origens dos tempos e que, por isso mesmo, fazem parte da nossa cultura, da nossa história, da nossa identidade, não só desde os tempos em que a castanha e a bolota eram uma componente fundamental da nossa dieta alimentar, porquanto se podiam denominar a batata da nossa antiguidade e idade média, que só veio a integrá-la após os descobrimentos quinhentistas, mas também por fazerem parte da nossa memória, do nosso imaginário e poética, do nosso património material e imaterial, da nossa religiosidade como da nossa onomástica, quer nos nossos nomes como na toponímia dos lugares, como por exemplo, da "capital" do Alentejo, Évora, cujo nome deve a um étimo de origem céltica, eburone, que significa teixo.

Contudo, e não obstante, esta floresta, autóctone e de geração espontânea, desempenha também e ainda um papel económico e social de relevada importância, com significativos reflexos no setor agroindustrial e energético, que, mas não excluindo, vão muito para além da simples e generosa produção lenhosa, alimentação de gados de insuspeita qualidade, ajudando inclusive à produção de mel, frutos e aromáticas, atividade cinegética e turismo de natureza, pelo que geram emprego e riqueza, justificando assim que o mundo moderno e civilizado lhe atribua um estatuto legal conforme a sua importância e lugar ocupado no ecossistema, como o (a)dote também como símbolo de resiliência, atualização e combatividade que melhor espelha a natureza e caráter das gentes alentejanas.   

Honremo-la, portanto, pelo que ela é, mas também por quem somos. E não a condenemos à solidão e ostracismo, e sobretudo, permitam-nos deixá-la conhecer novos vizinhos e companhias. Pois é esse o desígnio e o desafio do futuro, irradiando definitivamente as monoculturas que sufocaram durante anos e anos as florestas autóctones e espontâneas, como foi o caso dos eucaliptos e pinheiros bravos, facilitando agora a multiplicação de oportunidades e espécies gerada pela biodiversidade, que sugere ser a única forma de acrescentar sustentabilidade ao nosso ecossistema, a de propiciar multiplicidade e diversão ao que já é por si mesmo múltiplo e diverso.


Joaquim Castanho    

Sem comentários:

La vida es un tango y el que no baila es un tonto

La vida es un tango y el que no baila es un tonto
Dos calhaus da memória ao empedernido dos tempos

Onde a liquidez da água livre

Onde a liquidez da água livre
Também pode alcançar o céu

Arquivo do blogue

Acerca de mim

A minha foto
Escribalistas é órgão de comunicação oficial de Joaquim Maria Castanho, mentor do escribalismo português