DEIXAR DE GOSTAR DE TI É DIFÍCIL
(MAS NÃO É IMPOSSÍVEL)
E só tentar atira-me pró buraco
Deixa-me zonzo, põe-me tão frágil
Suja-me a alma, e fico num trapo
Amarfalhado, a bater mal, ser vil
E tirano nos afetos e no trato
Com os demais, excravo de abril
Qualquer coisa abjeta no exato
Ponto d'além de velho ficar senil.
Sim, desta vez é que não me escapo
D'esgotar todas as minhas reservas,
Ficar c'a resiliência num fiapo
E dias como noites, só de trevas.
Hei de ir prà pândega, hei de curtir
Tapar o céu, aproveitar o contato
De quem se ligar na minha, der o salto
Prò prado florido, e ser primaveril
Mesmo na ventania e chova a rodos,
Hei de andar na roda com todas e todos.
Não é fácil sei, mas hei de conseguir
Já que é isso que me resta e queres,
Enfim, se pensar em ti, hei de sorrir
E hei de exclamar: «Ora… – Mulheres!»
Joaquim Maria Castanho