3.25.2011


DEIXEM DE IR A "JARDINS ZOOLÓGICOS"



Quando as pessoas são hipócritas entre si, o problema é delas e lá saberão o que fazer. Agora quando são hipócritas entre si e com isso prejudicam outras espécies, o caso muda de figura.
Já vou tendo pouca paciência para intelectuais que gozam e criticam reality shows ou a programação das nossas televisões, mas depois masturbam-se "intelectual" e "socialmente" em facebooks, blogs e outros que tais, participando em reality-shows auto-(re)criados até à exaustão.

Tudo bem, aceito que os que reclamam de tudo isto não desliguem a televisão, não vão a manifestações porque não acordaram a tempo ou se distraíram com qualquer afazer pessoal, aceito que não possa já ir ao cinema sem ser em gaiolas gigantes a que deram o nome de centros comerciais ou shoppings, aceito que essas gaiolas ensurdecedoras sejam o limite da criatividade de centenas de pessoas que se repetem semanalmente nos mesmos rituais atávicos; aceito que não possa ir à praia junto a minha casa a partir de março, pois o que deveria ser um lugar "saudável" se transforma num parque de estacionamento e de trânsito caótico porque as pessoas não se lembram que um das funções dos seus membros inferiores é andar (e podem fazê-lo com várias ajudas desde bicicletas, patins em linha, trotinetes, skates,e tc), enfim a lista continuava.

Agora, o que não aceito é que à custa de formas de entretenimento mórbido outras espécies morram. Não falo das corridas de galgos ou de pitbulls, não falo da pesca, ou da caça. Falo do Knut, um pobre urso polar que foi transformado em mercadoria de marketing de um jardim zoológico de uma das cidades supostamente mais evoluídas da Europa, Berlim ( http://www.publico.pt/Sociedade/morreu-knut-o-urso-mais-famoso-do-mundo_1485835 ). Não aceito que pessoas que se chamam a si mesmos pais levem os seus filhos, que dizem estar a educar para o futuro, a prisões onde a diversidade da vida é transformada em produto de entretenimento barato e sem sentido. Atiram-se moedinhas aos elefantes, umas sardinhas aos ursos e diz-se "ai que giro" ou "ai que medo" conforme a sensibilidade, mas depois vão todos para casa felizes por terem visto bichinhos giros, tirado umas fotos de circunstância e cumprido o sagrado dever de passar uma tarde em família. Mas, claro, essas famílias vão para casa de carro, mesmo que morem a 30 mins de distância, pois o giro é ver o ursinho polar ali ao pé de nós atrás de umas grades. Que importa que os outros, ainda na vida selvagem, vejam os seus habitats cada vez mais destruídos pelo aquecimento global, pesca excessiva, e outras coisas mais directamente relacionadas com a actividade humana?

De notar que zoológico significa "estudo relativo a animais". E nesses antros faz-se tudo menos estudos e nem as desculpas, que alguns utilizam dizendo que têm projectos de recuperação de espécies, servem para amenizar a brutalidade desses sítios, pois esses estudos devem ser feitos em locais mais recatados. Tal como aconteceu com o Knut, muitas dessas espécies acabam por desenvolver doenças terríveis devido a alterações comportamentais derivadas da exposição permanente aos guinchos, risos e demais ruídos dos humanos que os vão "ver".

O knut morreu e independentemente do que venham a dizer os responsáveis do jardim sobre a sua morte, a causa mais imediata e inegável é o seu esgotamento por ter sido transformado em cabeça de cartaz de um espectáculo miserável. O irónico e absurdamente hipócrito é que os que causaram a sua morte, ou seja, todos os que o foram visitar naquele sítio, criam agora um livro de condolências e fazem-lhe homenagens. Quantos mais vão ter de morrer para que passemos a entender que a vida é para ser sentida, partilhada e, acima de tudo, respeitada em todas as suas dimensões e que as outras espécies não são objecto de uso do homem para seu bel-pazer? Os "jardins zoológicos" são extensões dos antigos circos romanos. Se os queremos de volta, coloquemos neles apenas homens, tal como acontecia na altura, façamos touradas só com homens e não com touros, façamos corridas de apostas só entre homens e não com cavalos, cães ou galos. Se querem ver animais em exposição, vão ao Red Light Distric em Amsterdão onde pelo menos 3000 prostitutas estão expostas em vitrinas (e agora até já vão pagar impostos). Façam o que quiserem entre humanos, pois estes ainda são dotados de livre-arbítrio e temos uma eternidade para pagar as nossas dívidas. Agora, pelo menos, no meio de toda a nossa cobardia, hipocrisia e atavismo, não sujeitemos outras espécies aos nossos vícios e à nossa pequenez.

Se não queremos o Big Brother, a solução é simples. Desliguemos a televisão.

Se não queremos ser assassinos de animais como o Knut, a solução também é simples: DEIXEM DE IR A "JARDINS ZOOLÓGICOS". Porque a ignorância já não é desculpa.


(Obrigada)
Filipa M. Ribeiro

La vida es un tango y el que no baila es un tonto

La vida es un tango y el que no baila es un tonto
Dos calhaus da memória ao empedernido dos tempos

Onde a liquidez da água livre

Onde a liquidez da água livre
Também pode alcançar o céu

Arquivo do blogue

Acerca de mim

A minha foto
Escribalistas é órgão de comunicação oficial de Joaquim Maria Castanho, mentor do escribalismo português