3.17.2011

Uma escola para tolos?


Por João Ruivo



http://www.educare.pt/educare/Opiniao.Artigo.aspx?contentid=90393CD536DFF36DE0400A0AB8001D4D&opsel=2&channelid

Com o decorrer dos anos, os governantes, lá no alto do seu douto saber, entenderam que, já agora, os professores e a escola poderiam também cumprir uma imensidão de funções até então cometidas ao Estado, às famílias e à sociedade.

O teimoso prosseguimento da implementação das atuais medidas de política educativa anuncia uma clara mudança de paradigma: a transição do modelo sixty da "escola para todos", para o modelo pós-modernista da "escola para tolos"
A grande reforma educativa sorvida dos quentes e vibrantes anos do final da década de sessenta, consubstanciada nas filosofias do maio de 68, apontava para uma escola aberta, universal, inclusiva, interclassista, meritocrática, solidária, promotora da cidadania e, até, niveladora, no sentido que deveria esbater as desigualdades sociais detetadas à entrada do percurso escolar.
Os professores passavam a ser mediadores da aprendizagem, promotores da socialização e do trabalho partilhado. Os alunos metamorfoseavam-se em aprendentes ativos, participativos, concretizadores, colíderes da sala de aula e do rumo a dar às planificações. Os pais, descolarizados ou iletrados, por vergonhosa opção de quatro décadas de ditadura, entregavam os seus filhos naqueles centros de promoção do sucesso social. Era a escola aberta à comunidade, uma escola moderna, que se impunha à escola tradicional. Era, enfim, a escola para todos.
Com o decorrer dos anos, os governantes, lá no alto do seu douto saber, entenderam que, já agora, os professores e a escola poderiam também cumprir uma imensidão de funções até então cometidas ao Estado, às famílias e à sociedade. Mesmo que não tivessem tido preparação para isso, os professores tinham demonstrado que sabiam desenvencilhar-se e, sobretudo, que não sabiam dizer não.
E desde então, essas passaram também a ser tarefas e funções da escola e dos seus docentes. A partir desse momento singular, passámos a ter uma escola que, por acaso, também era um local de aprendizagem formal, mas que, sobretudo, se foi desenvolvendo como um espaço de aprendizagens sociais, informais, socializadoras. E foi assim que se baralhou e se desvirtuou uma escola que, altruisticamente, queria ser para todos, transformando-a numa escola onde tudo cabia. Era a escola para tudo.
Mais recentemente (reportando-nos ao baronato de Maria de Lurdes Rodrigues e ao principado de Isabel Alçada), entendeu-se que a escola gastava muito e os professores, numa indolência secular, pouco faziam. Logo, quem sabe? até poderiam ser substituídos uns pelos outros, à molhada, degradantemente. Ou até secundarizados por "skinnerianas" máquinas de ensinar, que apressadamente se viram batizadas de Magalhães, porque os governantes portugueses gostam que a História, tal como as telenovelas, se repita.

A Liga Árabe acabou de propor uma resolução formal ao Conselho de Segurança da ONU pela criação da zona de exclusão aérea sobre a Líbia. Depois de semanas de um impasse internacional, este é o momento da verdade, se nós não conseguirmos persuadir a ONU a agir agora, nós poderemos testemunhar na Líbia um dos maiores massacres deste novo século.

As forças do Kadafi estão esmagando os manifestantes cidade por cidade. Se eles retomarem o país, uma retaliação brutal aguarda os líbios que desafiaram o regime. Relatos de tortura e assassinato já estão vazando das áreas retomadas.

Cidadãos líbios comuns estão pedindo que o mundo não os abandone. A comunidade Avaaz está profundamente comprometida com a não-violência, mas a imposição de uma zona de exclusão aérea para manter os aviões de guerra do Kadafi no chão é um caso específico onde uma ação militar liderada pela ONU é realmente necessária. Um questionário enviado para a nossa comunidade mostra que 86% das pessoas apóiam a zona de exclusão aérea. Agora, no momento em que o voto da ONU se aproxima, chegou a hora de aumentar ainda mais a nossa pressão.

Nós torcemos quando o povo da Líbia saiu às ruas e agora não podemos, e não devemos, ignorar o seu pedido de ajuda neste momento tão difícil. Mesmo se você já participou, clique abaixo para enviar uma mensagem para o Conselho de Segurança da ONU:

http://www.avaaz.org/po/libya_no_fly_zone_3/?vl

A ONU está dividida, mas a situação está mudando rapidamente. A China, Rússia e Alemanha são contra enquanto a Liga Árabe, a Confederação Islâmica, o Reino Unido e a França são a favor. Os EUA e Índia estão em cima do muro. Este não é o velho debate Ocidente versus Oriente, nem, como alguns suspeitam, uma conspiração de interesses petrolíferos. O Conselho Nacional de Transição da Líbia, que a França reconheceu como o governo legítimo está desesperadamente pedindo uma zona de exclusão aérea e apóio internacional. Porém a cada dia que passa, o perigo aumenta de que qualquer ajuda chegará tarde demais.

Uma zona de exclusão aérea sozinha não é a solução final, ela deverá ser apoiada por sanções direcionadas e congelamento das contas do regime, a interrupção da transmissão das declarações do Kadafi incitando a violência, e mais países reconhecendo diplomaticamente o Conselho Nacional de Transição da Líbia. Mesmo tudo isso poderá não ser suficiente. Porém aqueles que opõe uma ação forte devem se perguntar se, com dezenas de milhares de vidas em jogo, eles estão dispostos a defender a passividade.

A lei internacional e o Conselho de Segurança da ONU deixaram claro que, quando crimes contra a humanidade são cometidos, a comunidade internacional tem a responsabilidade de proteger os povos destes crimes, mesmo que o agressor seja o seu próprio governo. Mesmo que ainda não conhecemos a total magnitude dos crimes do Kadafi, nós não podemos virar as costas neste momento. Clique para enviar uma mensagem urgente para os delegados do Conselho de Segurança da ONU:

http://www.avaaz.org/po/libya_no_fly_zone_3/?vl

Na melhor das hipóteses, o Kadafi irá reagir à resolução da ONU sobre a zona de exclusão aérea, parando os ataques aéreos. Porém se ele não parar, a imposição da zona de exclusão aérea terá que ser feita com ataques diretos aos caças que ele tentar usar e possivelmente ataques aéreos aos sistemas de mísseis antiaéreos. Há também a possibilidade de uma zona de exclusão aérea levar a um envolvimento militar mais profundo na Líbia.

Enquanto o mundo (e a Avaaz) criticaram fortemente a guerra do George W. Bush no Iraque, e defendemos soluções pacíficas para conflitos em muitos lugares, este não é o Iraque. Se não agirmos logo, a Líbia poderá se tornar Darfur, com graves crimes contra a humanidade cometidos contra comunidades inteiras. O regime do Kadafi tem um longo histórico de tortura, massacrando o seu próprio povo e financiando o terrorismo internacional. Mas o povo líbio está unido contra as tropas do Kadafi -- mesmo a sua própria tribo e cidade natal se distanciou das suas ações.

A situação da Líbia, e a reação internacional a ela, é complexa, com muitos atores e agendas, assim como o futuro de uma Líbia pós-Kadafi ainda é incerto. Esta complexidade deve guiar o cuidado que temos em nossas ações porém, pelas vidas de dezenas de milhares de líbios, nós não podemos ficar parados. Vamos tomar a melhor decisão que podemos e agir, agora.

Com esperança,

Stephanie, Ricken, Ben, Alice, Benjamin, Rewan e toda a equipe Avaaz

Leia mais:

Forças de Kadafi continuam avançando; aeroporto de Benghazi é bombardeado:
http://www.estadao.com.br/noticias/internacional,forcas-de-kadafi-continuam-avancando-aeroporto-de-benghazi-e-bombardeado,692670,0.htm

Resolução sobre zona de exclusão aérea na Líbia chega ao Conselho de Segurança:
http://www.jn.pt/PaginaInicial/Mundo/Interior.aspx?content_id=1806717

Aviões de Kadafi bombardeiam principal reduto rebelde em Benghazi:
http://noticias.terra.com.br/mundo/noticias/0,,OI4995259-EI17594,00-Avioes+de+Kadafi+bombardeiam+principal+reduto+rebelde+em+Benghazi.html

ONU não chega a consenso sobre a Líbia:
http://oglobo.globo.com/mundo/mat/2011/03/15/onu-nao-chega-consenso-sobre-libia-924013475.asp

Sarkozy pede que ONU adote zona de exclusão aérea sobre a Líbia:
http://www.estadao.com.br/noticias/internacional,sarkozy-pede-que-onu-adote-zona-de-exclusao-aerea-sobre-a-libia,692829,0.htm

La vida es un tango y el que no baila es un tonto

La vida es un tango y el que no baila es un tonto
Dos calhaus da memória ao empedernido dos tempos

Onde a liquidez da água livre

Onde a liquidez da água livre
Também pode alcançar o céu

Arquivo do blogue

Acerca de mim

A minha foto
Escribalistas é órgão de comunicação oficial de Joaquim Maria Castanho, mentor do escribalismo português