10.28.2015

DANIEL DRODE




A SUPERFÍCIE DO PLANETA
Daniel Drode
Trad. Mário Henrique Leiria

"Hoje renunciei a atravessar a margem; custa a suportar este tempo bizarro em que o futuro e o passado estão juntos num mesmo plano com o presente. Chego a crer com satisfação que este tempo é simples, mas não me adapto a ele; sem dúvida é lógico, mas não para mim. Para dizer a verdade, já não vejo qual será a minha condição normal. O sistema aparece-me agora, num retrocesso a que a continuação da minha vida me força, aparece-me cada vez menos atraente. 
No começo da tempestade que rola sobre a minha ilha, tive um pesadelo que atribuí ao calor. Contudo estava acordado. Sim, engano-me ao pensar num sonho, isto tinha antes a consistência da visão. Uma visão, eis a palavra.  
A maquinação mostrou-se-me sob a forma de um engenho das eras bárbaras. Tudo o que existia com a finalidade de reduzir a espessura da vida subterrânea: a neutralização dos écrans visuais, a fechadura das portas, etc., imaginei-me, para produzir estes acidentes, um cilindro de carrilhão. Triste mecânica entre muitas outras, que fazia soar o tempo do alto dos campanários em forma de tabernáculo. Uma minuciosa desordem de pontas que batiam uma nota a intervalos regulares. 
O que nos criou devia ser a imagem destes cilindros: complicado mas preciso. Esgoto toda a comparação se acrescentar que uma mosca errando à volta do cilindro não compreendia a maquinação porque a música a atordoava – do mesmo modo éramos entorpecidos pela visão. Então, porquê não supor mais malignidade no detalhe? 
Mergulho no detalhe: o écran do fone não se teria apagado num dado instante, de um modo irreversível, mas de maneira brusca: ele teria funcionado em intermitências, ora. E isto com o fone e com a porta. Estas paragens e regressos ao movimento alternando-se confundiam-se na sua consequência: o recurso à visão, único elemento indefetível. 
Se pretender um corolário mais vasto tenho medo de mim mesmo. Assim – assombrosa possibilidade! – pode ser que tivesse conhecido Rana pelo écran e que em seguida a tivesse esquecido. É-me permitido crer, do mesmo modo, que o fone tivesse sido desligado sem que isso deixasse em mim um traço de despeito. Com tanta certeza, avançarei nisto: a porta ser aferrolhada nalguns momentos."
(Págs. 130/131)   

SIMONE DE BEAVOIR




"«Os nivelamentos são sempre por baixo», explicava-me ele. «Não conseguirás fazer subir a massa: acabarás somente por suprimir as elites.»"

In SIMONE DE BEAUVOIR
O Sangue dos Outros 

SIMONE DE BEAUVOIR




In SIMONE DE BEAUVOIR
O Sangue dos Outros 

"Ela sorriu:
– Gosto de chocolate e de bicicletas bonitas. 
– É melhor que nada.
Olhou de novo os seus dedos; ficara de repente com um ar triste. 
– Quando era pequena, acreditava em Deus, era magnífico; havia qualquer coisa que me era exigida a cada instante; então parecia-me que eu devia de facto existir. Era uma necessidade. 
Sorri-lhe com simpatia. 
– Creio que o seu problema é imaginar que as suas razões de viver deviam cair do céu já prontas: somos nós que as temos de criar!"

In SIMONE DE BEAUVOIR
O Sangue dos Outros
(Pág. 95)

DOSTOIEVSKI




"Todos somos responsáveis por tudo perante todos."

DOSTOIEVSKI

La vida es un tango y el que no baila es un tonto

La vida es un tango y el que no baila es un tonto
Dos calhaus da memória ao empedernido dos tempos

Onde a liquidez da água livre

Onde a liquidez da água livre
Também pode alcançar o céu

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