3.29.2006

Brincadeira tem hora

E dizem os cágados aviadores, que as galinhas são estúpidas! …
Estão tão eivados de pedinchismo criancista os políticos da nossa praça, que à mínima acção governamental, diploma ou reforma, desatam a arengar lamentosos e a pedir mama. A Rede Natura está aí, é um óptimo instrumento de trabalho para facilitar a sustentabilidade da ecosfera, a conservação da natureza, a valorização dos solos, ambiente e biodiversidade, o combate à desertificação e estímulo na criação de mais-valias, quer da imagem pública das regiões, quer nos sectores económico, turístico e da inovação tecnológica e empresarial. E que fazem os nossos politiquinhos caseiros? Em vez de aproveitar a questão em favor do futuro e imagem de marca dos seus produtos (agrários, pecuários, recursos naturais), paisagens, património natural e edificado, reforçando a tónica na qualidade disponibilizada, além do seu peculiar e regionalíssimo valor comercial ou modos tradicionais de confecção, incluindo neles a garantia de serem oriundos de zonas sem “contaminação/convívio” de OGM’s – Organismos Geneticamente Motificados --, tentando fazer aprovar no seu município a designação de área protegida livre dessas sementeiras e culturas antinaturais, eis que rezingam e entorpecem o desenvolvimento regional pela diminuição de área anárquica; esbracejam, põem-se de cócoras para Meca, choramingam a sua desgraça mai-la da sua santa terrinha e imploram chucha. Mas lá fazer alguma coisinha, ‘tá quieto!...
Portanto, não é de estranhar que se não preocupem com os 6,8% do défice, nem com as nossas desastrosas classificações no ranking das nações, nomeadamente nos capítulos do desenvolvimento humano, crescimento económico, cumprimento do Protocolo de Quioto, emissão de GEE’s (Gases de Efeito de Estufa), insuficiência energética, corrupção, criminalidade, insucesso escolar, assimetrias sociais e regionais, nível de vida, desemprego e condições de sustentatibilidade da segurança social, entre demais vicissitudes político-gregárias que nos assolam. Principalmente porque foram eles que o implantaram e instituíram como condição crónica de tratamento inviável.
Ou seja, é deveras surpreendente a apetência para reivindicar subsídios até acerca daquilo que beneficia os concelhos cuja Rede Natura mais favorece pela área que por ela têm circunscrita. Se é grande, isso é uma enorme vantagem competitiva para a região, pois pode facilmente promover os seus produtos certificados como biologicamente concebidos, desde que também seja salvaguardada a questão de nas redondezas não existirem culturas geneticamente alteradas e os modos de cultivo estejam conforme as normas avaliativas da biodiversidade e originalidade.
Daí que se ponha a questão: não seria mais razoável, em lugar de nos lamentarmos por ter no nosso concelho elevada área protegida, garantir a imagem típica e característica dos nossos produtos agrícolas, vinícolas, pecuários, lacticínios, hortícolas, oleaginosos, frutícolas e florestais? Não teriam maior fundamento e qualidade, logo melhor aceitação da parte do mercado europeu, os nossos produtos regionais se usufruíssem da autenticidade ecológica que dispomos? Bom… Talvez esteja na altura de deixar de brincar com a terminologia que nos favorece para a usarmos em favor do obscurantismo provinciano. Nunca é tarde para contabilizar pela positiva uma periferia irremediável, indissolúvel e dificilmente suportada.
Durante anos e anos debatemo-nos com a peculiar insularidade interior sem jamais invertermos esta a nosso favor, não obstante todas as verbas subsidiárias que por tal nos contemplaram. Fomos uma zona que diminuiu de densidade populacional, de elevado envelhecimento e com grande número de pessoas a viver abaixo do limiar de pobreza e sem formação adequada às exigências da modernidade. Mas queremos realmente continuar nessa condição ou estamos dispostos a reagir com maturidade às adversidades globais? Eis a questão que melhor podia desafectar-nos do terceiromundismo evidente!...

Neste Como Naquele Tempo...


Todos sabemos que as vacas são sagradas – mas é na Índia. Aqui dão leite, couro, carne e esterco. Ou cornos, se houver quem lhe avezado esteja!
Por conseguinte, não há tarimba ou mister que se deleite investido do sacrossanto estatuto e beneplácito alvarás. A saúde não é uma vaca sagrada. A educação também não. A justiça muito menos. A política igualmente. A religião idem-aspas. Os islamitas podem ter toda a razão do mundo mas nem todo o mundo é obrigado a comungá-la e agir em conformidade com ela. Cada um manda na sua casa (se tiver moral para isso). Os árabes no magrebe. Os dinamarqueses na Dinamarca. E frei Roque na confraria. O colonialismo teve o seu bem-haja – paz à sua memória – nos meandros do século passado, e é lá que deve ficar, enquanto facto histórico e não como anexo de boas práticas para o presente e futuro. Tal e qual como aconteceu com os muradores de Berlim.
Daí que não me reconheça adepto do chinfrim e banzé sobre as caricaturas, quaisquer que sejam ou a quem quer que se reportem. São bonecos e, se em pequeno nunca brinquei com bonecas, também não é agora que vou virar menino de me divertir com soldadinhos de chumbo nem generalíssimas barbies.
Desde as eras pré-bíblicas que os grafitados rupestres são conhecidos pela sua edição nos calcários e granitos das gutemberguianas cavernas. Todas as culturas as fizeram, as fazem e farão, segundo os mais diversos propósitos e anseios. Sonoras, gestuais, plásticas, gravadas, de suporte multimédia ou tablóides. E sob todos os motivos: guerra, paz, Céu, inferno, sexo, personagens, duquesas, presidentes, atletas, magnatas, militares, prostitutas, tipos populares, triunviratos, artistas e fantasmagorias. Mesmo o homem invisível, que foi caricaturado pelo Edgar Allan Poe! E depois? Onde está a desgraça ou a falta de respeito? Querem fazer o quê? Vamos pintar o bico ao melro só porque não gostamos do amarelo? É caricato (pelo ridículo) o fundamentalismo anti-caricatura, como é o escudarmo-nos nos nossos medos para dar razão àqueles a quem acontece aquilo que receamos. É altura de despirmos a pele de lobos ao cordeiro que há em nós. Se achamos que se deve bater a bola baixinho porque o guarda-redes é anão, também não devemos agitar-nos como gigantes assustados!...
Sua Excelência Competentíssima, vingando-se dos apupos que lhe desenharam em alturas próprias e oportunas, saiu a terreiro defendendo o nome e as honras feudais do islamitismo governativo. O corpo ministerial rabiscou sob o punho do seu primeiro bento e pio ámen na lavradura do preceito. Mas nós "auguentámos" firmes e hirtos a apoquentação, revelando quanto de estóico e abnegado é o cimento lusitano no engolir das afrontas à democraticidade universal, preservando um passado que se tornou tradição, e como tal até tarda no morrer. Em nome de quê? Do futuro que aborta diariamente com as pílulas do anteontem medieval? Ou com o flashback das regressões à escolástica d'o pão é qu'ingorda, a porrada é qu'induca?!...
É hora de sacudir a carga. A democracia não é nenhuma mula de antigamente nem se lhe deve dar igual tratamento quando dá desacordo de si: manta pra cima e fricção na cabeçada. Há que pô-la a girar sobre os bites do tempo, e respeitá-la com honestidade e transparência à luz dos valores que a geraram (liberdade, solidariedade e igualdade), porque se eles ainda se não implantaram em definitivo sobre o mundo, é por haver quem considere ser ideal para o governo alheio mas restrita na nossa casa. O resto, é coreografia de encantador de serpentes para lhe evitar a mordidela!
Portanto, agora que já vimos que a maioria dos antídotos são feitos com o próprio veneno, deixemos de debitar os nossos receios na conta-corrente da salvação. A modernidade está aí, e não somos nós que a temos de modificar com o nosso obscurantismo; ela é que veio para no-lo apagar. Como sempre, e era comum in illo tempore!

Confundir para reinar

Metade das arengarias e dissabores (contenciosos) políticos nacionais, acabariam definitivamente, sem precisão dos placebos género pacto de regime, se Portugal, encabeçado pelos órgãos de soberania e restantes instituições civis ou do Estado, cumprisse minimamente as Convenções e Tratados Internacionais que subscreveu, assinou ou ratificou, a Constituição da República e o Direitos do Homem. Ao fim e ao cabo, tornar-se-ia desnecessária a complexa panóplia de decretozinhos estapafúrdios que formam a teia de armar aos tordos onde a maioria cai que nem patos bravos, esse universo de leis e leizinhas inúteis que nem os juizes sabem de cor, que o mesmo é dizer não cumprem, porquanto ninguém consegue operar com uma tabuada que lhe é desmemoriada, quais pataquis-patacolás que embasbacam e embaçam os desafortunados e desprotegidos da cidadania.

Bastava ajoelhar onde a prece nasceu, para desbastar a inutilidade do funcionalismo, o atraso nos critérios de convergência, o incumprimento dos Quiotos, a grandiloquência do défice, a sensaboria da qualidade de vida, a desumanidade do sistema e a estuporice ou mistério do regimento. E o abuso de poder, a injustiça social, a corrupção maiúscula.

Todavia, não se cansa o sapateiro de tocar rabecão! Não obstante termos ao dispor diversos instrumentos cuja operacionalidade está em consonância directa – ou quase! – com esses "Acordos Mundiais", como sem dúvida são a Estratégia de Lisboa, o Plano de Acção para o Crescimento e Emprego, a Estratégia Nacional de Desenvolvimento Sustentado (em revisão!...), as Agendas 21 Locais, as diversas embora que maioritariamente obsoletas Leis de Bases (educação, saúde, ordenamento do território, ambiente, etc., etc.), eis que os nossos políticos locais, distritais e regionais, continuam montados na albarda do estatuto, por reciclar, e desinformados insistem em fazer-se desentendidos quanto à problemática de ser-se português com direito a figurar no mundo (no de hoje como no de amanhã) com a equidade e sem vergonha ou complexos sentimentos de inferioridade que o mapa dos rankings nos obriga actualmente a ter.

Oriundos da pasmacenta e antiquíssima fatia do universo da broa com unto, onde o primado da esperteza saloia assenta na carambola do dr. para abrir portas (são engenheiros no curso mas exercem administração, tiram medicina mas exercem magistratura nas assembleias municipais, são economistas mas dão aulas de humanísticas ou administram complexos educativos, e por aí adiante, carago!...), vêem-se e desejam-se para se adaptarem à premência da actualidade planetária onde a planificação é um preceito de trabalho, e não um handicap corrosivo com que os municípios têm de aprender a viver, qual moléstia de contornar e só cumprir se a isso obrigado se for com cenoura e pau.

Desconhecem como agir, que conteúdos observar, que estratégias adoptar, mas, à semelhança da criança que diz que não gosta da sopa sem que nunca a tenha provado, resistem e cospem a mudança – de conceitos, de atitude, de instrumentos de trabalho, de modos de produção, de visão económica, de conjuntura, de motivações, de sociedade e postulados sócio-culturais –, e entrincheirando-se no ontem fogem do hoje como o diabo da cruz.

E contrariam teimosamente as indicações da sociedade do conhecimento, que continua a observar o primado da qualidade sobre o da quantidade, e obriga a resolver as necessidades da cidadania com coerência e sensatez em vez de com sistemática avaliação estatística. Talvez insistindo em edificar um mundo onde até os seus próprios filhos rejeitam viver... como, aliás, têm feito neste jardinzito, onde ainda se continua a confundir pluralismo com corporativismo e democracia com o quero-posso-e-mando dos idos tempos salazaristas!

La vida es un tango y el que no baila es un tonto

La vida es un tango y el que no baila es un tonto
Dos calhaus da memória ao empedernido dos tempos

Onde a liquidez da água livre

Onde a liquidez da água livre
Também pode alcançar o céu

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Escribalistas é órgão de comunicação oficial de Joaquim Maria Castanho, mentor do escribalismo português