LER NÃO É PASSAR TEMPO
“Só se pensa através de imagens. Se queres ser filósofo, escreve romances.”
Albert Camus*
A realidade não se compadece com quem a evita. Analisá-la é uma tarefa que compete a quem vive, pois só lhe restam duas possibilidades quanto a isso: ou a absorvemos, ou somos cilindrados por ela. E, para estarmos preparados para esse confronto, precisamos de descomplicá-la o melhor que pudermos.
Ora, para o fazermos, temos que apetrecharmo-nos com os recursos, competências e ferramentas que o facilitem. Meios que nos tornem aptos para a tarefa de existir. E que já fizeram prova de serventia e utilidade: as novelas e os romances.
Entre os quais os escritos por aqueles autores que se preocuparam com o mesmo mundo em que vivemos, embora tenham frequentado outros tempos, bairros, ruas e cafés.
Albert Camus foi um desses escritores. Porque para ele, como para nós, atualmente, a literatura era o único laboratório plausível para ensaiar a nossa filosofia de vida, ou painel de imagens fundamentais que sustentam a nossa existência, sempre breve e precária, é certo, por mais afortunados que sejamos – e duradouros.
Portanto, ninguém escreve para estar ocupado… Nem ninguém lê para passar tempo.
Joaquim Maria Castanho
*PRIMEIROS CADERNOS
Prefácio de António Quadros
Edição «Livros do Brasil»
Caderno nº 1, pág. 18
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