ELE, o livro
“Com os livros acontece-me o mesmo que com as pessoas: se encontro um verdadeiramente bom, afasta-me, desgosta-me todos os outros. Assim não tenho feito mais do que reler a GUERRA E PAZ e a CORRESPONDÊNCIA de MADAME du DÉFFAND. Ambos – embora duma maneira muito diferente, me encantam.”
In JOURNAL, de LUZIA
24 de abril de 1903
Pág. 16
Porém apetece referir, que aquilo que se passa com os escritores e escritoras enquanto leitores e leitoras, também se passa com os escritores e escritoras enquanto pessoas, porquanto aquilo que fizeram foi só escrever um livro, aquele que é o seu livro, sendo todos os outros não mais que ensaios, tentativas de a ELE chegar definitivamente ou, então, justificações posteriores a ELE que considerou pertinaz acrescentar-lhe.
Há mesmo quem tenha publicado todos os outros, exceto esse, ou aquele que para si era realmente o que buscara toda a vida. E LUÍSA SUSANA GRANDE DE FREITAS LOMELINO (Portalegre, 1875 – Funchal, 1945), filha do capitão Eduardo Dias Grande, natural de Portalegre mas também secretário-geral do Governo Civil do Funchal, Madeira, escritora que publicou quase toda a sua obra sob o pseudónimo de LUZIA, foi uma dessas pessoas. PELOS CAMINHOS DA VIDA, Journal, livro que escrevera imediatamente após a ÚLTIMA ROSA DE VERÃO (Lisboa, Portugália, 1940), ficara pronto a publicar quando faleceu, deixando bens materiais e indicações para que tal fosse feito, provavelmente a quem lhe prometeu que o faria. Mas não o fez.
Isto é, o livro que para ela contou como essencial à sua vida de escritora, embora escrito, ficou por publicar… Porque terá sido? As respostas que possamos encontrar para esta questão também fazem parte do território da literatura portuguesa, mas o que mais importa presentemente é que lhe seja feita justiça.
Joaquim Maria Castanho
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