In JOHN BRUNNER
ECLIPSE TOTAL
Trad. de Eurico da Fonseca
"Ouvidos naquele ambiente, que tanto recordava a Terra longínqua, os relatórios iniciais de cada departamento pareciam mais impressionantes. Em Peat, as pessoas sentiam-se dominadas pelo passado. Ali estava a oportunidade de descobrir uma crença no futuro.
Ian meditou até que chegou o momento de fazer o seu próprio relatório e depois repetiu mais ou menos o que ele já dissera a Nadine e a Lucas. Não lhe soou melhor que antes; mesmo assim podia reconfortar-se com a ideia de que até o conhecimento negativo era útil.
Quando toda a gente concluiu o que tinha a dizer, Rorscharch disse:
– Há uma coisa que eu noto, depois de os ter ouvido a todos.
Olharam-no, em expetativa.
– Parece-me que estão a falar como se tivessem chegado a um beco sem saída em todos os últimos caminhos que vos restavam. Estou surpreendido. Para mim, parece-me que deram constantes passos em frente.
– Valentine? – disse Igor, com um gesto.
– Sim?
– Quase tens razão no que disseste. – O velho arqueólogo-chefe inclinou-se para a frente, com um copo de vinho nas mãos. – Naturalmente, em resultado da descoberta dos nossos muito esplêndidos e idênticos edifícios... em atenção a Ian não lhes chamarei «templos»!... em resultado disso nós fizemos uns progressos tremendos. Mas!...
Bebeu um pouco de vinho antes de prosseguir.
– Mas fomos apanhados num círculo vicioso. É verdade que sabemos muito mais dos nativos do que esperávamos há ano e meio; temos tido uma sorte tremenda, o que é outra maneira de dizer que temos mantido os nossos olhos e os nossos espíritos abertos e respondemos quando alguma coisa surge. No entanto, por outro lado, precisamente porque temos reunido tantos factos novos, temos muitas, muitas mais combinações possíveis. Cada um de nós, à sua maneira, pode ser olhado como tendo o mesmo problema que Ian: portanto enquanto estamos simplesmente a reunir dados, sem um quadro imaginário onde os colocar, sentir-nos-emos mais frustrados que agradados. Pelo que pretendo propor que ressuscitemos o plano de Ian para a construção de um Draconiano simulado, e vejamos se podemos desenvolver uma boa hipótese, partindo das recomendações dele, para comprovarmos aquilo que pensamos saber.
– Apoiado! – disse imediatamente Cathy, do lugar onde estava, ao lado de Ian."
(Págs. 130-131)
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