PESSOAR NAS INTERMITÊNCIAS DE SER
A
minha aldeia é tão grande como todas as aldeias interiores
Porque
todas as aldeias interiores são simplesmente aldeias
Incluindo
as grandes e as cosmopolitas com um rio ao meio.
Todavia,
quando preciso de trazer-me cá fora a arejar
A
brincar com as veleidades da rua, murmurar doçuras às garinas
Sorrir
aos cães que passam, deitar a língua de fora às margaridas
Atirar
beatas com um piparote, correr atrás dos pombos mansos
Fazer
poemas às cachopas alegres e bonitas de saias ciganas
Escutar
a mexeriquice dos cafés, hipermercados e esplanadas
Esquecer
o silêncio dos corredores dos edifícios seculares
Planger
as cordas que acordam o destino e jungem a esperança
Sofrer
as descidas abruptas do lusco-fusco a escurecer sombras
Esgrimir
a voz no implorar dum beijo somente, tão-somente um,
Então,
ponho-me à esquina, à tua espera fixando toda a gente
Indiferente
ao lugar, numa esquina qualquer, incógnita e anónima
E
anónimo, aconchegado pela hora de chegares a sorrir e ímpar,
Embalado
pelo misterioso enigma dos teus olhos a dizer indizíveis
Que
são capazes de sobrevoar as maiores distâncias e vazios
Atravessar
multidões, ficar muito depois do comboio partir, a ver,
Regressarem
por detrás do autocarro, prever a velocidade, a nudez
O
pulsar do minuto, do segundo, o ritmo (acelerado) da respiração,
Serem
outros para ser aquilo que são em si mesmos e são em mim
E
lerem na profundidade da minha mente o que não sei lá estar
Até ao
destemido recôndito das intrigas inconfessáveis e urgentes
Tão
íntimas quanto é subornável meu querer perante tua vontade...
A que
não sei resistir
A que
não posso resistir
A que
não quero resistir.
E me
faz conjugar o verbo nunca como sempre, sempre no futuro
Incondicionalmente
no incondicional sem ses nem mas ou porquês.
(E a
propósito... Quem da vida disse não
haver certeza alguma?
Olha:
mente. Diz-lhe descaradamente que está errada/o, e emente
– Como
sempre, e sabe, que é quem mais do que nunca mentiu!...)
Joaquim
Castanho
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