6.23.2015

ASANA DE LUTA




ASANA DE LUTA 



De costas viradas não te vejo
Mas sei onde estás e sinto-te real...
São como sentidas estrelas em cortejo
Que me marcam fulgentes, por sinal
Quase de línguas incandescentes
Com que se diz o sonho (ou o virtual)
E me dedilham de vertigem e solfejo
Num abismo de perder a noção de bem...
Ou de mal.


Serenas pausas entre seres afastados
Acontecem espaços por acontecer também,
Que se em metros forem bem contados
Nunca bastarão para afastar ninguém.


Ou silêncios, que igualmente distanciam
Porque distas são as costas que se avistam
Entre os ritmos que a estudar cadenciam
A chegada dos conceitos que nos pautam


O navegar, o surgir significante com significado
Que estar de costas é estar virado
Ter por dentro o que é de dentro
E por fora, o mesmo lado... 


Entre costas há o mar, oceanos de lava pura
Arquipélagos de literatura, intrigas, enredos,
Vidas, condenações por amor, perdições e segredos
Poetas que fizeram da existência outra aventura.


Há os destinos, sem chegada nem partida
Sinas que se cumpriram sem sair daqui,
Vidas tumultuosas que engrossaram a vida
Miríades de tragédias que sentado vivi.


São diferentes, estas bandeiras desfraldadas
Entre nós, redes tão parecidas às pesqueiras
Que de nó em nós emalham as seteiras
De onde vigiamos as simples madrugadas
Que hão de descobrir o caminho de nós
Tendo nas ondas outras estradas
De cabelos (ser)penteadas a sós
Pelos dentes das paixões despenteadas.


Porque dessas somos apenas as mós
Que separam o pó das palavras soletradas
Costas com costas, combatendo o que vier de fora
Que as sentidas sentinelas só sabem sabendo
A sentida soletração que em nós nos demora.


Costas com costas, do anoitecendo
À aurora, que o futuro é um ontem tecendo
A teia que somos nas palavras do agora!



Joaquim Castanho


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