5.22.2015

A FACE OCULTA DE KENNEDY



A Face Oculta de Kennedy
Seymour M. Hersh
Trad. Clarisse Tavares
469 Páginas. 

Kennedy era sexista, mulherengo, vingativo, despótico, drogado, arrivista e (potencialmente) homicida. Fidel Castro, se JFK não tivesse sucumbido no atentado de Dallas, em 22 de Novembro de 1963, a mais negra sexta-feira americana, provavelmente ainda hoje estaria (por razões pessoais) sobre a mira dos “mafiosos” do presidente, que nunca lhe perdoou o fracasso da Baía dos Porcos/Operação Mangusto. E um homem que, a intervalos regulares de seis horas, dava a si mesmo injeções, mas que os mass media transformaram num mito, não só para os seus compatriotas, como também para uma das partes acinzentadas do mundo a preto e branco dos imperialismos: o mundo ocidental, tal como o reconhecemos hoje.

Oriundo de uma família bem instalado no establishment, cujo lema era NÃO SE IRRITEM – DESFORREM-SE, capazes de tudo para atingirem os seus objetivos, ou de optarem pelo errado desde que conveniente e lucrativo, viciados em sexo e poder, racistas, que passaram mais de metade da vida a fazer dinheiro e outro tanto dela a ocultá-lo (do fisco), inculcaram-lhe na formação e crescimento que, como ele mais tarde vai admitir, confirmar e executar, a única teoria política prática e eficaz é a da perseguição da vitória, e que para esta se alcançar apenas são precisas três coisas fundamentais: a primeira, é dinheiro; a segunda, dinheiro; e, a terceira, mais dinheiro – que devem temperar-se com a falta de escrúpulos, quer em consegui-lo, quer em desbaratá-lo, como sempre acrescentava o patriarca e patrono familiar se a oportunidade se lhe deparava. Pelo que “o mais duradouro legado de John Kennedy como trigésimo quinto presidente dos Estados Unidos não foi o mito de Camelot nem a trágica imagem de jovem e simpático líder, abatido no auge da sua carreira. Foi a guerra do Vietname, uma guerra que, na década após a sua morte, mataria muitos milhares de jovens que ele tinha inspirado, deixando ainda muito outros à beira da insurreição.”

Enfim, um livro que saiu 30 anos atrasado e nos deixa a pensar no poderíamos saber hoje das políticas e gestos governamentais de Bill Clinton e George W. Bush, se não tivéssemos que esperar outros tantos anos, até que os podres de ambos possam vir a lume, ser publicados e públicos, digamos, postos à disposição do processo histórico em curso, que é onde se avaliam, sem perceções motivadas nem simpatias corporativistas, as ações dos homens e dos povos sobre o seu tempo e de como eles contribuíram (ou não) para consolidar o futuro. 

Joaquim Castanho

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