7.27.2024

LER NÃO É PASSAR TEMPO


 

LER NÃO É PASSAR TEMPO

 

“Só se pensa através de imagens. Se queres ser filósofo, escreve romances.”

Albert Camus*

 

A realidade não se compadece com quem a evita. Analisá-la é uma tarefa que compete a quem vive, pois só lhe restam duas possibilidades quanto a isso: ou a absorvemos, ou somos cilindrados por ela. E, para estarmos preparados para esse confronto, precisamos de descomplicá-la o melhor que pudermos. 

 

Ora, para o fazermos, temos que apetrecharmo-nos com os recursos, competências e ferramentas que o facilitem. Meios que nos tornem aptos para a tarefa de existir. E que já fizeram prova de serventia e utilidade: as novelas e os romances.

 

Entre os quais os escritos por aqueles autores que se preocuparam com o mesmo mundo em que vivemos, embora tenham frequentado outros tempos, bairros, ruas e cafés.

 

Albert Camus foi um desses escritores. Porque para ele, como para nós, atualmente, a literatura era o único laboratório plausível para ensaiar a nossa filosofia de vida, ou painel de imagens fundamentais que sustentam a nossa existência, sempre breve e precária, é certo, por mais afortunados que sejamos – e duradouros.

 

Portanto, ninguém escreve para estar ocupado… Nem ninguém lê para passar tempo.  

 

Joaquim Maria Castanho

 

*PRIMEIROS CADERNOS

Prefácio de António Quadros

Edição «Livros do Brasil»

Caderno nº 1, pág. 18

 

7.14.2024

ELE, o livro


 

 

ELE, o livro

 

“Com os livros acontece-me o mesmo que com as pessoas: se encontro um verdadeiramente bom, afasta-me, desgosta-me todos os outros. Assim não tenho feito mais do que reler a GUERRA E PAZ e a CORRESPONDÊNCIA de MADAME du DÉFFAND. Ambos – embora duma maneira muito diferente, me encantam.”

 

In JOURNAL, de LUZIA

24 de abril de 1903

Pág. 16

 

 

Porém apetece referir, que aquilo que se passa com os escritores e escritoras enquanto leitores e leitoras, também se passa com os escritores e escritoras enquanto pessoas, porquanto aquilo que fizeram foi só escrever um livro, aquele que é o seu livro, sendo todos os outros não mais que ensaios, tentativas de a ELE chegar definitivamente ou, então, justificações posteriores a ELE que considerou pertinaz acrescentar-lhe.  

 

Há mesmo quem tenha publicado todos os outros, exceto esse, ou aquele que para si era realmente o que buscara toda a vida. E LUÍSA SUSANA GRANDE DE FREITAS LOMELINO (Portalegre, 1875 – Funchal, 1945), filha do capitão Eduardo Dias Grande, natural de Portalegre mas também secretário-geral do Governo Civil do Funchal, Madeira, escritora que publicou quase toda a sua obra sob o pseudónimo de LUZIA, foi uma dessas pessoas. PELOS CAMINHOS DA VIDA, Journal, livro que escrevera imediatamente após a ÚLTIMA ROSA DE VERÃO (Lisboa, Portugália, 1940), ficara pronto a publicar quando faleceu, deixando bens materiais e indicações para que tal fosse feito, provavelmente a quem lhe prometeu que o faria. Mas não o fez.

 

Isto é, o livro que para ela contou como essencial à sua vida de escritora, embora escrito, ficou por publicar… Porque terá sido? As respostas que possamos encontrar para esta questão também fazem parte do território da literatura portuguesa, mas o que mais importa presentemente é que lhe seja feita justiça.

 

Joaquim Maria Castanho

La vida es un tango y el que no baila es un tonto

La vida es un tango y el que no baila es un tonto
Dos calhaus da memória ao empedernido dos tempos

Onde a liquidez da água livre

Onde a liquidez da água livre
Também pode alcançar o céu

Arquivo do blogue

Acerca de mim

A minha foto
Escribalistas é órgão de comunicação oficial de Joaquim Maria Castanho, mentor do escribalismo português