PATRICK SÜSKIND
A Pomba
"Há perguntas cuja resposta se adivinha na própria ocasião em que perguntam. E há pedidos cuja perfeita inutilidade se torna óbvia quando se pedem de viva voz e se olha a outra pessoa nos olhos. Jonathan olhou para os olhos enormes e sombrios da senhora Topell e soube instantaneamente que tudo era em vão, improfícuo, desesperado. Soubera-o antes, enquanto balbuciara a sua pergunta soubera-o, sentira-o no corpo, na queda do nível da adrenalina no sangue, ao consultar o relógio: dez minutos! E pareceu-lhe que também caía e se afundava como se estivesse sobre um pedaço de gelo mole, prestes a derreter-se. Dez minutos! Quem seria capaz de coser aquele tremendo buraco em dez minutos? Ninguém. Absolutamente ninguém. E não se podia remendar o buraco na coxa. Era preciso pôr um reforço por baixo, e isso significava despir as calças. Mas aonde ir, entretanto, buscar outras calças, em plena secção de produtos alimentares do Bom Marché? Despir as calças e ficar ali em cuecas...? Inútil. Completamente inútil."
in PATRICK SÜSKIND
A Pomba
Trad. Teresa Balté
(Pág. 63)
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