FALAMOS
E ESCREVEMOS PARA DIZER AQUILO QUE QUEREMOS E NÃO PARA PARECER BEM OU FAZER
BONITO
“Quem
é belo
é
belo aos olhos
– e basta.
Mas quem é bom
é subitamente belo.”
Safo
O estilo
simples, directo e conciso, apregoado pela enorme maioria dos escribas da nossa
praça, não existe, embora alguns deles almejem convencer-nos de que escrevem
com rigor, objetivamente, portanto sem adjectivos nem advérbios, em frases
curtas (e rudimentares), isto é, que se submetem ao formato gramatical
matricial do sujeito ®
predicado ®
complementos, e mantêm o linguajar nesse registo. Mas isso é treta, porquanto
só o consegue fazer quem fala maquinalmente e não evoluiu na língua depois de
ter aprendido a falar, coisa que é absolutamente impossível desde que se repita
aquilo que se aprendeu pelo menos uma vez. Quanto muito, podemos é limitar o
nosso discurso a um universo vocabular determinado e articulá-lo com um
conjunto igualmente limitado de operações, quer físicas, quer linguísticas,
para efeitos pedagógicos, para nos fazermos entender por quem ainda não
adquiriu outras palavras além das subscritas pelo grupo lexical determinado,
nem demais capacidades idiomáticas. Além do que, ao fazê-lo, seria impossível
concretizá-lo sem recorrer a formas de expressão já definitas, à expressão
corporal consequente e à onomatopeia, o que, si mesmas são outro discurso
dentro do discurso. Falar não é papaguear, nem escrever um copy-past estrutural
passível de substituição de umas palavras por outras. É comunicar. É tornar
acessível a alguns aquilo que apenas era consciência individual.
Ou seja, tal
como afirmou Safo de Mitilene, o estilo belo não é aquele que soa bem mas o que
comunica eficazmente aquilo que queremos dizer, posto que é isso que o torna
útil e bom; logo, belo.
Joaquim
Castanho
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