6.01.2015

FALAMOS E ESCREVEMOS PARA DIZER O QUE QUEREMOS




FALAMOS E ESCREVEMOS PARA DIZER AQUILO QUE QUEREMOS E NÃO PARA PARECER BEM OU FAZER BONITO

Quem é belo
é belo aos olhos
 – e basta.
 Mas quem é bom
 é subitamente belo.”
Safo


O estilo simples, directo e conciso, apregoado pela enorme maioria dos escribas da nossa praça, não existe, embora alguns deles almejem convencer-nos de que escrevem com rigor, objetivamente, portanto sem adjectivos nem advérbios, em frases curtas (e rudimentares), isto é, que se submetem ao formato gramatical matricial do sujeito ® predicado ® complementos, e mantêm o linguajar nesse registo. Mas isso é treta, porquanto só o consegue fazer quem fala maquinalmente e não evoluiu na língua depois de ter aprendido a falar, coisa que é absolutamente impossível desde que se repita aquilo que se aprendeu pelo menos uma vez. Quanto muito, podemos é limitar o nosso discurso a um universo vocabular determinado e articulá-lo com um conjunto igualmente limitado de operações, quer físicas, quer linguísticas, para efeitos pedagógicos, para nos fazermos entender por quem ainda não adquiriu outras palavras além das subscritas pelo grupo lexical determinado, nem demais capacidades idiomáticas. Além do que, ao fazê-lo, seria impossível concretizá-lo sem recorrer a formas de expressão já definitas, à expressão corporal consequente e à onomatopeia, o que, si mesmas são outro discurso dentro do discurso. Falar não é papaguear, nem escrever um copy-past estrutural passível de substituição de umas palavras por outras. É comunicar. É tornar acessível a alguns aquilo que apenas era consciência individual.

Ou seja, tal como afirmou Safo de Mitilene, o estilo belo não é aquele que soa bem mas o que comunica eficazmente aquilo que queremos dizer, posto que é isso que o torna útil e bom; logo, belo.

Joaquim Castanho

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