O LENHADOR E A MATA
Por JUSTINIANO JOSÉ DA ROCHA
(Imitadas de Esopo e La Fontaine)
Descuidando-se um dia, um lenhador quebrou o seu
machado, e assim desarmado, deixou em sossego as árvores. Por fim, muito
humilde e choroso, foi pedir-lhes que lhe emprestassem um galho, com que
pudesse fazer um cabo para o seu machado, declarando que era o único recurso
com que ganhava, suando e lidando, o parco alimento de sua numerosa família;
dessem-lhe o precioso cabo e prometia não trabalhar mais nessa mata, e
respeitar todas as suas árvores e arbustos; não lhe faltaria em que ocupar-se.
Movidas de tanta dor e tanta súplica, confiadas em tão positiva promessa, até
as árvores deram o pedido galho. E logo o lenhador pôs ao machado um cabo, novo
e forte, e logo viçosos galhos, troncos robustos caíram ao afiado gume do
machado, que pouco tempo deixou às árvores para chorarem arrependidas a sua
crédula benignidade.
(MORALIDADE: Quantos se servem do benefício em dano
imediato do benfeitor! Mas é de louco dar-lhe meios de continuar a fazer
mal.)
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