8.27.2014

AJEITAR O BANCO SEM MEXER O TRASEIRO



No dia em que o BES desceu à terra, Bento criou um banco novo – esse São! –, como prova inequívoca da separação entre o poder político e o poder financeiro (lusitanos). Coisa notável e inaudita, não haja a mínima dúvida, se dirá, pelos cochichos das frondosas ramadas, cuja grandeza só é comparável aqueloutro em que o pleito académico portuga descobriu a pólvora prò fósforo, mas dando-lhe um novo nome, tão novo, tão novo, mas tão novo, que até lhe chamou empreendedorismo. 

(E é exatamente por isso que é milagroso e extraordinário viver-se num país assim... A gente voga, saltita, de inovação em inovação, de descoberta em descoberta, quais libelinhas de nenúfar em nenúfar, mas sempre dentro do mesmo pântano [político] desde 1385...)

Não raros recordarão esse dia, quiçá saudosos e sonhadores como as leitoras e damas de Dinis ou Camilo, em que as suas empresas ainda tinham trabalhadores, trabalhadores que evoluíram e viraram empregados, e empregados que cresceram e se tornaram colaboradores, mas que não se deixaram adormecer no estatuto e se libertaram do jugo assalariado, via declaração de despedimento sem justa causa, para integrar a causa superlativa dos desempregados com subsídio, como se fazia no bom velho tempo das unanimidades corporativistas e dos trabalhos sazonais, em que essa casa nacionalizada ia benzendo aqui e ali os créditos ao PIB.

E o que comprova, mais uma vez, que banco novo assente em pântano antigo, quando mais engorda mais se enterra, arrastando-nos consigo, principalmente porque não é lá por avó ser nova que lhe podemos chamar neta.    



J M C

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