AJEITAR O BANCO SEM MEXER O TRASEIRO
No dia em que o BES desceu à terra, Bento criou um banco
novo – esse São! –, como prova inequívoca da separação entre o poder político e
o poder financeiro (lusitanos). Coisa notável e inaudita, não haja a mínima dúvida,
se dirá, pelos cochichos das frondosas ramadas, cuja grandeza só é comparável
aqueloutro em que o pleito académico portuga descobriu a pólvora prò fósforo,
mas dando-lhe um novo nome, tão novo, tão novo, mas tão novo, que até lhe
chamou empreendedorismo.
(E é exatamente por isso que é milagroso e extraordinário
viver-se num país assim... A gente voga, saltita, de inovação em inovação, de
descoberta em descoberta, quais libelinhas de nenúfar em nenúfar, mas sempre
dentro do mesmo pântano [político] desde 1385...)
Não raros recordarão esse dia, quiçá saudosos e sonhadores
como as leitoras e damas de Dinis ou Camilo, em que as suas empresas ainda
tinham trabalhadores, trabalhadores que evoluíram e viraram empregados, e
empregados que cresceram e se tornaram colaboradores, mas que não se deixaram
adormecer no estatuto e se libertaram do jugo assalariado, via declaração de
despedimento sem justa causa, para integrar a causa superlativa dos
desempregados com subsídio, como se fazia no bom velho tempo das unanimidades
corporativistas e dos trabalhos sazonais, em que essa casa nacionalizada ia
benzendo aqui e ali os créditos ao PIB.
E o que comprova, mais uma vez, que banco novo assente em
pântano antigo, quando mais engorda mais se enterra, arrastando-nos consigo,
principalmente porque não é lá por avó ser nova que lhe podemos chamar
neta.
J M C
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