DIAGNOSTICA,
DIAGNOSTICA, E VÊ NO QUE TE FICA
Afirmou o popularíssimo Nicolau
Maquiavel, no seu não menos popular O Príncipe (Edições Europa-América, 2ª
Edição, pág. 20 – Lisboa, 1976), que "ao princípio o mal é fácil de curar
e difícil de diagnosticar, mas, não sendo diagnosticado nem curado, torna-se,
com o tempo, fácil de diagnosticar e difícil de curar." A atual crise
política e económica que atravessamos é um exemplo incontestável da veracidade
da sentença, ou conselho, como quer que o entendamos, e muitos outros casos encontraríamos
que corroboram a evidência do enunciado. Nomeadamente, o da abstenção e apatia
política dos portugueses, bem como o elevado índice de corrupção da maioria dos
países do terceiro mundo e em vias de desenvolvimento.
A lusatinidade abstencionista retirou
toda a legitimidade a qualquer órgão de soberania nacional que dependa, direta
ou indiretamente, de eleições. Um país que atingiu mais de 66 % de abstenção,
isto é, superior a dois terços do seu eleitorado, só não colapsa ou é
conquistado pelos vizinhos se lhes ficar, a eles, mais caro ocupá-lo do que
deixá-lo extinguir-se paulatinamente. Se o Reino Unido e Espanha, ou mesmo os
Norte-Africanos, não nos pegam, é porque reconhecem que lhes ficaríamos
demasiado caros para o pouco rendimento que lhes proporcionaríamos alguma vez,
e porque sabem que a UE se prepara para concretizar o seu projeto de Europa das
Regiões, fazendo-a ela por eles, anexando-nos sem o mínimo dispêndio, por
exemplo à Ibéria, ao Baixo Mediterrâneo ou ao Oeste Atlântico... E de nada
serviria rabiar como se faz agora com a Troika, sobretudo porque depois de
termos recorrido a ela para sustentar o orçamento do Estado, perdemos toda e
qualquer autoridade moral para o poder fazer com determinação e consequências positivas…
Certo? Quem vai prò mar, avia-se em terra.
Isto é: onde é que estão os iluminados
defensores da inércia nacional e do deixa-arder- -que-meu-pai-é-bombeiro que
difamaram e se eriçaram contra os que alertaram acerca da insustentabilidade e
despesismo das políticas governamentais dos últimos 20 anos? A lamentar-se por
seus netos não terem emprego, não obstante os elevados níveis de formação e
competências que tenham conseguido...? Ou nos lares a deitar euros prà fogueira
das caldeiras da nova indústria lusitana: os cuidados continuados. Perdemos o
saco e o atilho, uma vez que dois terços dos portugueses se estão nas tintas
prò país, e outro terço também, considerando que a maior parte dos que votam,
não o fazem para o defender, mas para o explorarem melhor, partilhando o poder.
E se, quando a abstenção rondava “apenas” os 40 % tivéssemos tomado
providências, embora o diagnóstico não fosse tão explícito, o mal ainda era
sanável sem recorrer a políticas de choque. Mas agora, com este enredo, tanto
faz berrar, como não berrar, que não temos outro remédio, senão chupar no
dedo!
Joaquim Castanho
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