6.09.2014

ÁGUA, PARTICIPAÇÃO E CIDADANIA



Dos mais fundamentais e preciosos bens que integram o conjunto dos ecossistemas terrenos (e da ecosfera), a água é imprescindível, ou seja, aquele sem o qual a vida no planeta não seria possível. O ouro azul. A causa de discórdias e desmandos por esse mundo fora, pomo de discussões, litígios, usurpações, envenenamentos e adulterações, ou passível de gerar conflitos armados à escala regional, local ou entre nações/entidades vizinhas, pois que, não obstante a sua abundância momentânea, é sempre um bem escasso. Apesar de todos apesares, e de o “planeta azul” se encontrar coberto dela, a verdade é que, desse imenso universo hídrico cognoscível e verificável, constituído pelas grandes massas de água salgada dos mares e oceanos, apenas 1% do seu volume total está ao alcance dos homens e mulheres em condições viáveis de utilização e usufruto na satisfação de suas necessidades de consumo, bem como dos demais seres vivos e ecossistemas dos quais dependemos em absolutérrimo grau, e sem que se vislumbre outra qualquer alternativa num futuro próximo (ou longínquo).

E é, pois, dessa infinitamente ínfima parcela que todos dependemos, não só para beber e higiene, como igualmente para produzir e confecionar alimentos, para a pecuária e agricultura, para o vestuário e para o turismo, para a indústria, comércio, desporto e lazer, sendo lugar-comum a conclusão de que nenhuma atividade humana haver que se possa ter sem o seu contributo (direto ou indireto) – exceto respirar.

Por conseguinte, é legítimo que cada homem e cada mulher, cada cidadão e cidadã, sinta a necessidade de salvaguardar a água, enquanto bem e recurso, uma vez que ao considera-la insubstituível, se outorga simultaneamente depositário de um direito essencial, inalienável da espécie, enfim, um direito acessório e inextricavelmente indissociável do próprio direito à vida e à dignidade da pessoa humana, que, grosso modo, o investe consequentemente também do direito de saber onde e como ela gasta, utilizada ou armazenada, à semelhança do que lhe assiste, por exemplo, saber acerca do destino de seus impostos e património sociocultural, identitário, bem como de saber em que condições se encontra e que está a ser feito para aprovisionar a suficiente para todas as suas necessidades e stocks.

Ser cidadão e cidadã responsável, emancipado/a, democrata, consciente, interessado/a pelo seus futuro e dos seus descendentes, ou demais seres, a tanto obriga, e não há como evitá-lo ou disso abdicar. Logo, quando qualquer munícipe deixa de se interrogar e de inquirir as instituições públicas quanto à forma como está a ser utilizada e gasta a água disponível no seu habitat, não está a ser um gajo porreiro nem uma menina bem-comportada, antes pelo contrário, está a ser uma pessoa negligente, sociopata em potência e ato, criminoso por omissão e fuga às suas responsabilidades políticas, sociais e pessoais. E até pode nem ser considerado chato e picuinhas, como os pseudo-humanóides gostam de apelidar todas quantas e todos quantos pedem esclarecimentos e se preocupam com essa matéria essencial à vida; mas isso significa que são menos malcomportados e malcomportadas ou mais porreiros e porreiras do que quem não exige e manifesta qualquer curiosidade em sabê-lo. Porque isso é que é ser cidadão e munícipe interessado, ativo e democrata. E, sobretudo, moderno e participativo. Certo?


Joaquim Castanho 

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