FILMES GENERICAMENTE ESQUECIDOS
Serenidade,
de Rosa Coutinho Cabral, Anne Trister, de Léa Pool, Jane B., de Agnès Varda, As
Noites Bárbaras, de Marion Hansel, Robinsinada ou O Meu Avô Inglês, de Nana Ozhardzhade,
A Rua das Casas Negras, de Euzhan Paley, A Hora da Estrela, de Susana Amaral, só
para citar alguns de entre os muitos títulos que apareceram e de imediato
desapareceram do panorama cultural português, são filmes de realizadoras
cinematográficas que viram no discurso feminino o leitmotiv mais que suficiente
para fazerem no cinema uma destrinça de género, quer nos modos de contar as
histórias (incluindo a terminologia e linguagem), quer nos elencos e conteúdos
escolhidos e/ou enfatizados, ou aquilo que essas realizadoras entenderam ser
relevante para ilustrar a sua narrativa, que consideraram importante ou
interessante nós observarmos enquanto espetadores e descodificantes.
Neles,
a condição feminina, enquanto elemento de uma sensibilidade particular, bem
como a forma como ela foi traduzida à velocidade de duas ou três dezenas de
imagens por segundo, parece ser-lhes o denominador comum que fez com que nunca
tivessem sido muito vistos, fato que sobejamente ajudou para que também fossem lestamente
atirados para o esquecimento, mesmo dessa parte da humanidade a quem as questões
de género acarretam identidade e empatia. As situações sociais que espelham, as
teorias de vida que refletem, os objetivos e anseios que perseguem, as
narrativas sentimentais e emocionais que equacionam e entretecem, não deixaram
de ser atuais, pese embora a escala de prioridades e preocupações existenciais
tenha mudado, remetendo-as para patamares subalternos. Porquê?
Será
que alguém pensa terem sido dissolvidas (e removidas) todas as inquietações que
desassossegavam o género feminino só pelo fato de ninguém falar delas com a mesma
acutilância e veemência das cineastas do século passado? De 80 para cá muita água
correu debaixo da ponte, mas também penso que não… O tempo tudo cura, sobretudo
na idade avançada, que culmina com a morte, que é um tempo sem tempo onde todas
as fortunas e infortúnios se equiparam em valor, num tanto-faz que anestesia, todavia
há feridas que nunca cicatrizam sob a crosta ou carapela que as omite do inventário
das chagas pessoais e sociais visíveis. Porque elas remanescem à mínima
beliscadura… Salvo seja!
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