Assuntos Pascais"Procura saber onde se encontram as tuas raízes essenciais, e não andes a suspirar por outros mundos."
H. Thoreau
Segundo a generalizada opinião da clientela do bistrot à esquina da rua onde moro, a culpa é toda das crianças, esses paneleirotes provocadores, que foram para as sacristias e orfanatos, só para atiçar a tesão aos sacerdotes, pois sabendo-se, como se sabe, que a carne é fraca, em virtude da imposição eclesiástica do celibato, não conseguiram resistir aos seus avanços e promessas de prazer (inconfessáveis), que esses fedelhos lhe propunham, quase num desafio sobre-humano. O sumo-pontífice deve partilhar essa opinião, pelo menos se considerarmos as últimas notícias vindas a lume, porquanto não as entende senão como mais uma campanha difamatória sobre a Igreja católica – aliás vítima "despudorosamente"
comparável com o anti-semitismo de outrora que fomentou o holocausto... –, capitaneada pelos demais credos com dimensão (e expressão) global (universal), querendo com isso imitar Cristo que nunca ripostava às ofensas e calúnias, oferecendo a outra face, a da obtusidade e teimosia, deixando a vingança para melhores dias, servindo-a fria quando a oportunidade se lhe deparasse, sem custos (orçamentais) adversos na propaganda mais do que seriam desejados, nem retroactivos de boomerang que são sempre e irremediavelmente contestáveis e perniciosos à luz das oposições (declaradas), que não se calam ou não se refugiam no (corporativismo) anonimato nem no secretismo para se decretarem contra aquilo a que são contra, como a favor daquilo a que acham dever sê-lo.Demais a mais, considera essa família católica, que os pecados praticados pelos seus sacerdotes, e conhecidos através da confissão de outros sacerdotes, que por sua vez terão cometido idênticos pecados que (igualmente) confessaram àqueles de quem teriam sido anteriormente confessores, pondo a dita confissão a girar num circo fechado de que jamais, a não ser por traição de um deles, transpiraria – pecados quiçá até perdoados com a "penitência" de uns quantos pai-nossos e ave-marias –, que a roupa suja se
É demasiada hipocrisia, talvez mesmo ostensiva má-fé, considerar apenas um pecado ter-se servido sexualmente de uma criança abandonada, desprotegida, sem recursos nem família, provavelmente alguma interrupção voluntária da gravidez (não concebida), e apelar agora para o poder do perdão cristão, considerar-se inclusive meritório dele e até vítima de tentação ou de campanha difamatória e propaganda negativa acerca de uma instituição, de um credo, de uma igreja, de uma religião. Arautos do antropocentrismo – ecce homo –, como do seu reino neste e no outro mundo, eis que os sacerdotes se recusam a ser vistos como criminosos, se recusam a ser condenados pelo seu crime, que além de se outorgarem fora da lei se acham com o direito de não ir parar às prisões onde os demais criminosos estão, e não obstante serem-no, reconhecem a diferença entre os seus crimes e a pedófilia, dando um
Pois bem, esse mesmo mentor da imagem eclesiástica, que levou, pelo menos, três anos a decidir que fazer com um sacerdote norte-americano que abusava
reiteradamente dos cordeiros do seu rebanho, vem agora a Portugal benzer acólitos com honras de chefe de Estado (Vaticano), inconformado por a república não conceder amnistias e indultos como antigamente fez, mas igualmente recebendo a cobertura dos media públicos e privados, em aparato apenas semelhante às das celebrações nacionais incontornáveis, classificação essa em que não cabem certamente o Dia da Independência nem o da Implantação da República. Desconheço o que farão as entidades oficiais do país na recepção à figura, é verdade, todavia à semelhança dos de Valença, por uma questão de saúde, se o nosso Estado privilegiar na recepção dando melhor acolhimento do que deu, por exemplo, ao Dalai Lama, não vejo outro caminho a seguir aos portugueses senão começarem a pensar seriamente na nacionalidade da bandeira que vão pôr à janela durante o Mundial de África do Sul, nem aquela que agitarão nos tradicionais buzinões de celebrar as vitórias desportivas, pois o diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és é um ditado pior que o Toyota, porquanto não só veio para ficar, como ficou e marca presença no discernir da qualidade humana e ética de um povo.

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