QUADRO DIGITAL
Eternizo cada segundo para encarnar mais a fundo no corpo.
Que possuo, agora? Queria acender uma fogueira
Assustar os bichos hediondos da floresta desta noite fria e escura
E eu tão nua de mãos dadas com a solidão... Apaixonei-me
Fervorosamente outra vez: É a paixão mais estabilizadora que conheci
A que menos promete, a que melhor cumpre.
Oferece-me a bóia do trabalho. Sou feliz aqui. A névoa de meus olhos
Entristece-me e sou feliz. Acendi a fogueira
Mas há sempre outra possibilidade
A dos animais ferozes se insurgirem contra mim na madrugada.
Os comprimidos são aliados e o chá torna-me leve e torneável.
O meu umbigo é fóssil; as minha unhas, os estragos das catástrofes
No globo, como grandes blocos de pedra, de basalto,
Originários do vulcão extinto: Beijo minha mão e não espero ninguém.
Ninguém me poderia consolar nesta noite fria e eu nua
Mas minha fogueira está acesa e meu anjo olha por mim.
Pego na manta aveludada, azul da minha solidão e aconchego-me.
Feliz e nua na noite fria ouço o barulho da floresta e choro
Porque o medo me faz viver. O medo é a agulha que pica meu rabo
Me faz saltar e reflectir. Fecho os olhos e desenho
Um rectângulo com o meu dedo indicador.
Depois, cada dedo meu é dono de uma cor
E adentro do rectângulo, desenho e rabisco, esborrato
Espelho-o com o que é meu mas não me pertence.
Porque tem vida própria e se projecta para além dela
Tal e qual como os movimentos de meus dedos pintantes
Cheios de vontades subjectivas de se erguerem ao sol
Ou quando a lua é pátina do céu. Chegou a hora!
Levanto a perna direita que se move para dentro do rectângulo.
Em seguida, a outra; e olho em redor, a tela onde vivia e recordo-lhe
Todos os traços, todos os cheiros, todo o seu pulsar (in)orgânico.
E saio de cena.
Caio no precipício e grito descontroladamente
Até se extinguir toda a minha voz, e o meu medo.
Continuarei em queda livre, completamente desamparada
Até moldar o meu corpo numa pena a saborear plena a doce queda.
Mas da pluma pode surgir um pássaro... E aí, consegui voar!
A pena mágica transformou-me em ave. Voei só.
Ao início, é difícil manter o equilíbrio e parece-se ave tonta
Tentando mecanizar o voo, a dirigi-lo através da cabeça (erradamente).
Só que voar, voar plenamente e com toda a substância da palavra
Faz-se com a alma, o coração.
Aprendi tanto nesta queda, reactivei tantos poderes escondidos
Soterrados debaixo da pele como sobre ela os sinais espalhados.
Abençoo a noite fria.
Abençoo meu dedo indicador e seu filho rectângulo.
Abençoo todas as cores que se revelaram e imortalizam o universo
O cosmos imagético escondido aqui dentro.
Abençoo minha estrada pela tela fora
E a queda
a queda
queda
que
dá
Ave como ave que sou, e avista o planalto, junto ao mar
Qual plataforma de suporte ao farol,
E voo por cima do azul ondulante dos oceanos
Sobrevoo todos os planaltos para aterrar na minha luz.
Ouço o riso “em cascata” das crianças
O mar e os búzios a chocalhar nas pedras na areia.
É o momento de chegada. É tão real, que só pode ser um sonho.
Ali não há leis. Vive-se o hedonismo. Estou feliz e só. Novamente
O dia amanhecerá e estou segura porque o sol vai raiar.
Aquecerá meu coração...
É que sem ele, não se pode voar!
Convite para partilhar caminhos de leitura e uma abertura para os mundos virtuais e virtuososos da escrita sem rede nem receios de censura. Ah, e não esquecer que os e-mails de serviço são osverdes.ptg@gmail.com ou castanhoster@gmail.com FORÇA!!! Digam de vossa justiça!
5.05.2005
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