EDUCAÇÃO CONTÍNUA PARA UMA SOCIEDADE MAIS JUSTA E MAIS IGUALITÁRIA
“O grande perigo é o de nos deixarmos possuir por uma ideia fixa.”
– André Gide
Aprender a conhecer (ou aprender a aprender, para podermos beneficiar das oportunidades oferecidas pela educação, ensino superior e experiência de vida), aprender a fazer (ou aprender a qualificarmo-nos profissionalmente, mas também a adquirir competências sociais e de utilização dos recursos económicos, financeiros e promocionais consequentes à atividade socioprofissional desenvolvida), aprender a viver juntos (ou aprender a cultivar a compreensão do outro, a treinar/aperfeiçoar a perceção das interdependências do pluralismo, realizar projetos comuns e antevisionar/antecipar-se aos possíveis conflitos daí resultantes) e aprender a ser (ou aprender a tirar partido das potencialidades próprias – memória, raciocínio, sentido estético, capacidades físicas, aptidão para comunicar, etc. – a fim de melhor desenvolver a personalidade, a autonomia e a responsabilidades pessoal e social), parecem ser aprendizagens cada vez mais necessárias para estabelecer prosperidade, harmonia e equilíbrio na sociedade atual que favoreçam a emancipação e realização plena de cidadãos e cidadãs, que nos facilitem defendermo-nos das contínuas mutações sociais, estruturais, normativas e culturais consequentes à mudança constante e à instabilidade provocada pelos movimentos sociais, mas também pelas alterações climáticas.
Isto é, afirmar a gente que as exigências educativas se podem resumir ao clássico aprender a ler, escrever, contar e utilizar as tecnologias da comunicação, demonstra estarmos eivados desse gregarismo fundamental que tudo unifica para melhor confundir, limitados a obedecer, enquadrados pela estrutura da ideia fixa ou obsessiva e que, assim, pretende iludir com as pinceladas maniqueístas tradicionais do mal e do bem, do certo e do errado, que reforça e veicula a estratificação social e eterniza as diferenças através de estigmatizações, preconceitos e não reconhecimento do Estado de Direito, através do fulanismo e do corporativismo provinciano atávico moralista. Porquanto parece ser uma maneira de negar o progresso social e cognitivo, tentando recuperar as azinhagas de ontem definindo-as como as autoestradas do futuro indo de encontro à lógica do tempo, às necessidades da sociedade, e às exigências de realização da pessoa humana de acordo com os direitos, liberdades e garantias que a Constituição da República e a Carta Universal dos Direitos Humanos instituem e determinam.
Para preparar o futuro é preciso formar e apetrechar os cidadãos e cidadãs de amanhã com as ferramentas suficientes e capazes de lhes facultarem uma adaptação homogénea. Inclusiva. Aberta. Democrata e funcional. E isso só se consegue com mais conhecimento, mais competências, mais sentido prático, mais comportamentos legitimados, mais atitudes inclusivas e mais cidadania, pelo que privilegiar o acesso ao conhecimento (básico) não basta, havendo também uma necessidade premente de conceber a educação como um todo, na perspetiva do futuro, que inspire e oriente as reformas educativas, quer no campo dos programas, quer no universo das novas políticas pedagógicas, que revitalize a consciência cívica e a emancipação integral das gerações através da educação contínua, feita também geração a geração, tornando a nossa sociedade não só cada vez mais democrata, como igualmente cada vez mais justa. E mais apta à equidade e igualdade de género. Enfim, mais igualitária… progressista e ativa.
Porque embora ainda não precisemos de “aprender a relatividade com Eisnstein para poder praticar o amor*”, o que é evidente é que todas as sociedades dependem da nossa capacidade amar, aptidão para amar, para se tornarem sustentáveis e sãs, e essa aptidão depende muito da nossa aprendizagem total, sustentada obrigatoriamente pelo aprender a conhecer, pelo aprender a fazer, pelo aprender a viver juntos e pelo aprender a ser, uma vez que sem essas aptidões entramos no universo das sociopatias e psicopatologias, e estamos/ficamos de formação incompleta por mais diplomas que tenhamos.
Joaquim Maria Castanho
*in PRIMEIROS CADERNOS
Albert Camus
Prefácio de António Quadros
Edição «Livros do Brasil»
Caderno nº 1, pág. 36