12.25.2021

A BOCA DO TEMPO

 

A BOCA DO TEMPO



A grande solidão do mundo

Abateu-se sobre mim, ser ínfimo e moribundo

Que habita paredes-meias com o tempo frio

E o silêncio verde-escuro das agulhas dos pinheiros,

Para perguntar de vez «Quem mais pode: o rio

Que leva as águas dos choros derradeiros

Ou a certeza matemática do calendário

Quando solta mais uma folha ao vento

E exige que o consultes ao contrário

Da última prà primeira, até perderes o alento

Das páginas a que te amparaste a vida inteira?»


E eu respondi: «Nem um, nem a outra;

Que quem mais pode, cá como no Além,

Molda as solidões com ligeireza pronta,

E faz com elas castelos de cristal diamantino

Onde nunca entrará mais nada nem ninguém

Que não tenha construído também o seu destino.»


Então, a grande solidão do mundo

Três vezes rugiu como um mostrengo três vezes

Lançou seu bafo ácido, grosso e imundo

Sobre quanto havia e não havia entre nós, e disse

Resfolgando em cada folha virada, mês a mês:

«Aqui, já nada sou, já nada faço.»

E o tempo sem fim, enfim de vez, abriu-se

Engolindo-a para assim fechar-se, de novo,

E retomar a sua própria forma na forma dum ovo

Onde os vestígios de boca não passam dum traço.


Joaquim Maria Castanho


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La vida es un tango y el que no baila es un tonto

La vida es un tango y el que no baila es un tonto
Dos calhaus da memória ao empedernido dos tempos

Onde a liquidez da água livre

Onde a liquidez da água livre
Também pode alcançar o céu

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