10.17.2019

OS LIVROS SÃO TABUINHAS





42.
OS LIVROS SÃO TABUINHAS A MIRAR O UMBIGO


Entre mim e ti eu sou o labirinto alheio
Meda de palha numa eira falha de grão,
Baraços de tojo, cânulas de aveia, centeio
Destes braços que malham pra catar pão
Que não medrou, cuja semente se perdeu
No receio desta gente que também sou eu,
Se fez decalque, pressão, zip, ecrã, visão…


Ponto, interceção entre o que é material
E o que é espírito, as tabuinhas são cultura
E essência de vida em teoria e em ideal
Que têm palavras, símbolos e estrutura
Pelo que algumas são mesmo, e à parte
Autênticos exemplos, vivas obras de arte.


Nascem após gestação apurada, coletiva
Mas que é inequívoca plo cunho pessoal,
Pra que o sonho nelas s’aquiete, sobreviva
De maneira ativa, prolífera, bela e racional.


São almas qu’espelham e inventam almas
Integridade, dignidade, respeito, galhardia
E apreciam partilha, venda, citação, palmas
Passear de mão em mão e boa companhia.


Não raras, de clássicas, são agora eternas;
Outras, de universais, viraram circunstância
Local, etária, conjugam antiguidade e infância.
E há as que trazem ao cimo e de forma vária
O que noutras era fixo e uno, ou letra sumária.


São livros que se cumpriram no seu suporte
Sinas públicas ou clandestinas de consorte…
Fazem zoom sobre esses ínfimos detalhes
Que, tão pequenos, passam despercebidos
Embutidos, floreados, filigranas, entalhes
Que em sociedade se esvaem tipo e diluídos.

Joaquim Maria Castanho
in REDESENHAR A VOZ, página LXIX
Com foto de Elie Andrade

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Dos calhaus da memória ao empedernido dos tempos

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Também pode alcançar o céu

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