POR QUE AMANHÃ É SÁBADO
Em Uruk, na eduba do templo a Inanna, foi encontrada nos princípios do século passado, entre os algures do tempo, do modo e do lugar, um cofre, uma caixa guarnecida a ouro e prata, com pedras preciosas incrustadas, dentro da qual estavam seis tabuinhas, que se supõe terem sido consideradas sagradas pelas vestais.
Na primeira, estava vincado, cunhado, escrito, assim: «a cada qual o mesmo que aos seus pares». Na segunda dizia que «a cada um segundo os seus méritos». Na terceira, que «a cada qual conforme as suas obras». Na quarta «a cada um na estrita observância de suas necessidades». A quinta afirmava que «a cada qual de acordo com o que lhe é devido por lei». E a sexta, concluía, que «a cada um consoante a sua posição, responsabilidade e obrigações». Porém, depois desta, havia uma prateleirinha idêntica àquelas onde repousavam as citadas tabuinhas, mas vazia.
Os estudiosos, arqueólogos, antropólogos e historiadores, conjeturaram ter havido nesta uma sétima tabuinha; e, não obstante, a sua azáfama e acuidada busca, o que é certo, é que não encontraram mais nenhuma, fosse onde fosse, nas ruínas da eduba, nem na nas de sua proximidade. Alguns alvitraram que essa lacuna se devia a alguém a ter retirado, talvez para ministrar culto ou ter presente nos rituais sagrados, não voltando a depositá-la no lugar, por qualquer incidente ou contrariedade ocorrida.
Terão a sua razão... Talvez. Desconheço-o em absoluto.
Todavia, creio que nunca lá esteve. Que a sua falta é mais significativa do que a sua presença. Que ela seria um separador... Que ela devia ser o sábado de culto, o sétimo dia, a folga da eduba e do templo. Enfim, que ela era a pausa de reflexão para a consciencialização cívica feita durante os seis dias anteriores. Até porque desconfio que foram elas, essas vestais de Inanna, que instituíram os dias da semana de acordo com o seu sistema hexagonal, e que desde então continuam a ser seis mais um, o separador, não obstante se ter adotado o sistema decimal desde os últimos milénios da nossa civilização.
E, porque hoje é sexta-feira, vou apenas chamar-lhe amanhã. Não só por ser sábado, mas também porque ainda não foi escrita, e talvez exista alguém no futuro, alguém com nobreza de caráter e de coração ou inteligência suficiente para a escrever. Quem sabe!
Joaquim Castanho
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