11.15.2015

DIÁLOGO de Paul Éluard




DIÁLOGO

Belo invento coberto de vergonha
Memória de ouro enrolada no chumbo
Amor glorioso posto fora do leito
Natureza nobre manchada por anões

VINDE VER O SANGUE NAS RUAS

Somos muitos a recusar
Que seja o sol uma faca
Que seja o mar um veneno
Somos muitos a querer viver

NADA NEM MESMO A VITÓRIA
ENCHERÁ O TERRÍVEL VAZIO DO SANGUE: 
NADA, NEM O MAR, NEM OS PASSOS
DO SAIBRO E DO TEMPO
NEM O GERÂNIO ARDENDO
POR SOBRE A SEPULTURA. 

Muitos de nós perderam a vida
Na esperança de um mundo melhor
Inocentes seguros dos seus direitos
Eu lhes sorrio e me sorriem

UM ROSTO DE OLHOS MORTOS VIGIA AS TREVAS
SUA ESPADA ESTÁ CHEIA DE ESPERANÇAS TERRESTRES

Gravidade de sentidos e sexo
Veleiro da matéria subtil
E nós somos uma só ramagem
Folhas e frutos para servir a árvore

Por único exercício a bondade
Por única manobra a razão
Com centenas e milhares de aves
Levadas de planeta em planeta

FILHOS DILETOS DA VITÓRIA, TANTAS VEZES CAÍDOS, 
DE MÃOS TANTAS VEZES SUPRIMIDAS

Sempre a palavra meu coração confio
Imagens das imagens a manhã que desperta
Mas que já despertou pois que falamos dela
O sonho sol da noite tem a força de sempre

Ó MÃES ATRAVESSADAS PELA ANGÚSTIA DA MORTE
VEDE A ALMA DO DIA NOBRE QUE VAI NASCER
SABEI QUE VOSSOS MORTOS VOS SORRIEM DA TERRA
SEUS PUNHOS LEVANTADOS TREMULAM SOBRE O TRIGO

Vou fazer florir o redondo carmim
Do céu por sobre a terra e do seu dominar

Ódio é nada amor escreve-se duplo
Se um enfraquece descolaram os dois

VI COM OS OLHOS QUE TENHO, COM ESTA ALMA QUE OLHA, 
VI CHEGAR OS CLAROS COMBATENTES, OS COMBATENTES QUE DOMINAM 
DA ESBELTA, DURA, AMADURECIDA, DA ARDENTE BRIGADA DA PEDRA. 

Que a coragem mais clara esclareça a linguagem
O homem perseguido vem a ser a perfeição futura. 

(NOTA: "As passagens em MAIÚSCULAS são extraídas de poemas de PABLO NERUDA.")

in PAUL ÉLUARD 
POEMAS POLÍTICOS
Prefácio de LOUIS ARAGON
Trad. Carlos Grifo
Col. Forma / Editorial Presença
(Págs. 66-67-68)

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La vida es un tango y el que no baila es un tonto

La vida es un tango y el que no baila es un tonto
Dos calhaus da memória ao empedernido dos tempos

Onde a liquidez da água livre

Onde a liquidez da água livre
Também pode alcançar o céu

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