DIÁLOGO
Belo invento coberto de vergonha
Memória de ouro enrolada no chumbo
Amor glorioso posto fora do leito
Natureza nobre manchada por anões
VINDE VER O SANGUE NAS RUAS
Somos muitos a recusar
Que seja o sol uma faca
Que seja o mar um veneno
Somos muitos a querer viver
NADA NEM MESMO A VITÓRIA
ENCHERÁ O TERRÍVEL VAZIO DO SANGUE:
NADA, NEM O MAR, NEM OS PASSOS
DO SAIBRO E DO TEMPO
NEM O GERÂNIO ARDENDO
POR SOBRE A SEPULTURA.
Muitos de nós perderam a vida
Na esperança de um mundo melhor
Inocentes seguros dos seus direitos
Eu lhes sorrio e me sorriem
UM ROSTO DE OLHOS MORTOS VIGIA AS TREVAS
SUA ESPADA ESTÁ CHEIA DE ESPERANÇAS TERRESTRES
Gravidade de sentidos e sexo
Veleiro da matéria subtil
E nós somos uma só ramagem
Folhas e frutos para servir a árvore
Por único exercício a bondade
Por única manobra a razão
Com centenas e milhares de aves
Levadas de planeta em planeta
FILHOS DILETOS DA VITÓRIA, TANTAS VEZES CAÍDOS,
DE MÃOS TANTAS VEZES SUPRIMIDAS
Sempre a palavra meu coração confio
Imagens das imagens a manhã que desperta
Mas que já despertou pois que falamos dela
O sonho sol da noite tem a força de sempre
Ó MÃES ATRAVESSADAS PELA ANGÚSTIA DA MORTE
VEDE A ALMA DO DIA NOBRE QUE VAI NASCER
SABEI QUE VOSSOS MORTOS VOS SORRIEM DA TERRA
SEUS PUNHOS LEVANTADOS TREMULAM SOBRE O TRIGO
Vou fazer florir o redondo carmim
Do céu por sobre a terra e do seu dominar
Ódio é nada amor escreve-se duplo
Se um enfraquece descolaram os dois
VI COM OS OLHOS QUE TENHO, COM ESTA ALMA QUE OLHA,
VI CHEGAR OS CLAROS COMBATENTES, OS COMBATENTES QUE DOMINAM
DA ESBELTA, DURA, AMADURECIDA, DA ARDENTE BRIGADA DA PEDRA.
Que a coragem mais clara esclareça a linguagem
O homem perseguido vem a ser a perfeição futura.
(NOTA: "As passagens em MAIÚSCULAS são extraídas de poemas de PABLO NERUDA.")
in PAUL ÉLUARD
POEMAS POLÍTICOS
Prefácio de LOUIS ARAGON
Trad. Carlos Grifo
Col. Forma / Editorial Presença
(Págs. 66-67-68)
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