9.21.2015

REGRESSO A ZERO

  


        "Espantado pelas técnicas evoluídas que lhe eram reveladas por tudo o que aprendia, Jâ estremeceu ao pensar que a única superioridade da civilização terrestre era talvez constituída pelos seus trabalhos pessoais sobre a função Z. Encarou os múltiplos aperfeiçoamentos que a resolução do problema de Stero poderia acrescentar ao poder científico dos seus inimigos. E esgotou-se a trabalhar para tentar estabelecer cálculos aceitáveis, embora falsos, cuja verificação absorvesse meses de estudo aos sábios do satélite. 


A sua solidão naquele país estranho era penosa. Não tinha ninguém em que pudesse confiar. Tem era simpático, mas Jâ desconfiava das suas possíveis reações quando lhe dissesse que não era um proscrito, mas sim um espião ao serviço da Terra. Quanto a Nira, que no entanto parecia ser-lhe dedicada de corpo e alma, a verdade era que não podia ter confiança nela. Era uma criatura demasiadamente fraca, e a sua total falta de instrução faria dela um peso morto. Decidiu continuar a sua luta solitária. 
Que diziam as últimas instruções que recebera da terrestre Flora que o tinha beijado na sua prisão? Primeiro: tentar, por todos meios, ocupar um alto posto no Governo da Lua. Segundo: recolher todas as instruções possíveis quanto aos meios previstos para atacar a Terra. Terceiro: tentar organizar um vasto sistema de sabotagem, destinado a aniquilar de um só golpe o poder ofensivo dos lunares. Quarto: em caso de fracasso da ordem número três, voltar à Terra tão discretamente quanto possível, para informar sobre as observações feitas. 
Em caso de impossibilidade (instrução nº 5), estudar a hipótese de atrair à causa terrestre os nativos da Lua, descendentes de exilados, contra os quais o Governo terrestre nada tinha. Fazer encarar – em caso de necessidade – aos exilados de há mais de 50 anos, a possibilidade de uma amnistia. Dividir dessa maneira a opinião dos lunares e organizar um golpe de Estado." 

In STEFAN WUL
Regresso a Zero
(Págs. 108-109)   

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