PRA
QUEM É BACALHAU BASTA
A
maioria dos cidadãos e cidadãs da portugalidade bem-formados/as fala e escreve
exemplarmente quando se dirige aos estrangeiros, mas dão erros em barda, uns e
umas atrás de outros e outras, sempre que o fazem com os seus conterrâneos e
conterrâneas, concidadãs e concidadãos do linguajar lusitano, talvez por
considerarem que estes, os portugueses e portuguesas da língua materna, mais
não merecem, nem sequer os usuais cuidados que dispensam a qualquer dialeto dos
demais idiomas do mundo (dito) civilizado. Nisso, realmente, são bons, são
ótimos, são excelentes. Que nas 250 palavrinhas a que qualquer prova obriga não
dão uma prà caixa, e conseguem fazer uma média de três erros ortográficos (e de
pronúncia) por cada dez palavrinhas, incluindo as monossilábicas, assim na boa,
sem fazer o mínimo esforço nem pisar no acelerador a fim de cumprir limites de
tempo. E até acham que os dirigentes nacionais que se expressam em português
quando se pronunciam em atos oficiais onde se exige a sua presença, tanto na
Europa como nos restantes continentes deste globo à babugem do sistema solar
plantado, é porque não sabem inglês, francês, russo, alemão, mandarim, etc.,
etc., evidenciando não estarem à altura das funções para as quais foram
eleitos/nomeados, sendo isso prova consumada e incontestável de acentuado
défice no seu desempenho. Como e porque é que isto acontece? E onde nos levará?
Pergunta-se.
O
porquê sabe-se e é inequívoco pela evidência que traduz. Porque os portugueses
e portuguesas dão o cu e dez tostões para agradar a quem invejam, e
(desconfia-se, de acordo com os resultados obtidos ultimamente) têm razão para
invejar todos os povos e nações do planeta, exceto os espanhóis, gregos e
irlandeses, que têm andado igualmente com as calças na mão e navegam nas mesmas
águas da mandriice, da corrupção, do chico-espertismo, do favor e por conta, do
corporativismo, da subsidiodependência, do miserabilismo cultural e económico, da
tentativa de ludibriar e contornar o Estado de Direito e os credores que
emprestaram dinheiro para governar a casa, do lamechismo arrivista e da
inconsciência social, que nós. E que insistem em viver acima das suas posses e
atirar as culpas do seu fraco desenvolvimento à crise, aos mercados, à alta
finança, aos bancos e à Sra. Merkel, expurgando o elevado défice, e dívida, de
qualquer dano que a má-gestão, interesse obscuro e ignorância caraterísticas do
provincianismo atávico tradicional lhe tenha originado.
Já o
como fia mais fino, e aparenta não ser assim tão fácil de discernir… O governo
salienta que é por sermos bons alunos, habilidosos no biscate, mezinha e
remedeio, por fazermos todos os exercícios (TPC) e distintos cumpridores dos
ditames troikanos. A oposição faz notar que estamos a investir no futuro,
entendendo por futuro “essa utopia” de atingir os mesmos resultados e escores
que tivemos no passado: dar as costas ao Mar da Palha. E os partidos/movimentos
novos, como precisamos de mudar para voltarmos a ser o que já éramos e nunca
deixámos de ser (oportunistas que navegam ao sabor das marés), estamos a
ensaiar, a treinar, a ganhar estaleca, para melhorar a performance de pedintes
e arruaceiros que representamos desde o 25 A.
O
onde é que isso nos levará? Ao que se vê. Ouve. E lê. Quem escreve e fala com
desenvoltura e galhardia, correção e atendimento das regras (de dicção,
ortografia, coerência, lógica, conjugação, fluência, flexibilidade vocabular, sintaxe e
síntese) do português bebido em Bernardim, Camões, Gil Vicente, Garrett,
Aquilino Ribeiro, Raul Brandão, Florbela Espanca, Guimarães Rosa, Erico
Veríssimo, Cecília Meireles, Miguel Torga, etc., etc., é suspeito. E de tudo!
Principalmente de ser arrogante, vaidoso, sabichão, e de ter a mania. De gostar
de se armar. E até de não ter carro… ou de andar a pé! (“Sabe muito mas anda a pé”, como ciciam as mentes puras da
trogalheira quotidiana…)
Nos
jornais e telemóveis o “aceite” e “entregue” sem serem imperativos imperam como
prova de bom gosto e guarda-avançada da modernidade; nos noticiários e filmes o
“despoletar” emprega-se quando se quer dizer “espoletar”, “detonar”, “provocar”,
a toda hora; nos discursos de “empreendorismo” os enfoques proliferam que nem
ginjas à beira dos “cristalinos” regatos de know-how dos politécnicos e
formações profissionais portugas; e as grafites, ementas e preçários esgrimem
com cagança e desenvoltura ou sã concorrência a ver quem consegue mais
entradas tipo “Portugal no seu melhor” no Facebook e abicha mais Kkkkkkkkkkkkk
e likes por postagem e/ou partilha.
Porém
somos, todos e todas, gente fina e de pura casta. E fornecemos a educação ao
menino e à menina, como sempre ditou a tradição do pra quem é bacalhau basta.
Ou seja, estamo-nos literalmente nas tintas uns para os outros, e umas para as
outras, e tanto se nos dá como se nos deu que aqueles e aquelas a quem nos
dirigimos nos entendam como não. Principalmente porque desconhecemos com exatidão
o que queremos dizer, mas também porque consideramos que ninguém que seja como
nós e fale a mesma língua merece o mínimo respeito, consideração, esforço de
compreensão e atenção. Tal e qual como os demais (povos ou adultos) fizeram
connosco quando éramos pequenos. E que faz com que ainda o sejamos. Senão
menores, de geração para geração. E menos capazes de vencer os obstáculos que
naturalmente o mundo livre e a livre evolução nos colocam, ao almejar os
patamares de consciência socioeconómica, identidade cultural, emancipação e
sustentabilidade a que temos direito… Ou não temos, e quem está enganado sou
eu.
Joaquim
Castanho
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