2.09.2012

O Serviço de Ciência da Fundação Calouste Gulbenkian realizará de Fevereiro a Outubro de 2012 um ciclo de conferências subordinado ao tema MATEMÁTICA: A CIÊNCIA DA NATUREZA, no qual participarão reconhecidos cientistas portugueses, que terão lugar no


Auditório 2 pelas 18:00 horas
com
Transmissão directa nos espaços adjacentes
Videodifusão http://www.livestream.com/fcglive

E por esta ordem de agendamento:

15 Fevereiro 2012 18h00
Trazer o céu para a terra
Henrique Leitão
Universidade de Lisboa


28 Março 2012 18h00
Ter muitas ideias, e a coragem de deitar quase todas fora
Dinis Pestana
Universidade de Lisboa


18 Abril 2012 18h00
Geometria com dobras de papel: como o origami bate Euclides
Ana Rita Pires
Cornell University

A primeira conferência – Trazer o Céu para a Terra – prevista para o auditório 2 da Fundação Calouste Gulbenkian, no dia 15 de Fevereiro p.f., às 18h00, será proferida pelo Prof. Doutor Henrique Leitão, da Universidade de Lisboa.

A contemplação do céu e dos astros sempre fascinou a humanidade.
Mas quando se quer fazer um estudo mais concreto das posições e dos movimentos das estrelas e dos planetas imediatamente se descobre que isso não é simples: os astros parecem deslocar-se numa superfície esférica, uma abóbada por cima das nossas cabeças.

Para se poder passar da simples contemplação ao estudo sério dos astros foi preciso que os matemáticos concebessem um modo de, na terra, se conseguir estudar rigorosamente o céu. Ou seja, um processo matemático de trazer o céu para a terra.


Henrique Leitão (n. Lisboa, 1964) é doutorado em Física Teórica pela Universidade de Lisboa (1998).

Depois de alguns anos trabalhando em física (no Centro de Física da Matéria Condensada da Universidade de Lisboa) orientou os seus interesses para a história da ciência. Foi um dos fundadores, em 2003, do Centro de História da Ciência da Universidade de Lisboa.

Atualmente é Investigador do Centro Interuniversitário de História das Ciências e da Tecnologia (CIUHCT-UL) da Faculdade de Ciências de Universidade de Lisboa, e docente no Mestrado em História e Filosofia da Ciência, na mesma Faculdade. Os seus interesses de investigação centram-se na história das ciências exatas, entre o século XV e o século XVII, sendo o coordenador da comissão científica encarregue da publicação das Obras de Pedro Nunes, pela Academia das Ciências de Lisboa e a Fundação Calouste Gulbenkian. Tem também investigado a atividade científica em colégios da Assistência Portuguesa da Companhia de Jesus. Colabora regularmente com a Biblioteca Nacional de Portugal, onde já foi Comissário Científico de quatro exposições e é o responsável pelo projeto de catalogação dos manuscritos científicos antigos.

É autor de uma vasta obra, com vários livros e algumas dezenas de artigos publicados em periódicos da especialidade. Publicou em 2010 a tradução, com estudo introdutório e notas, do livro de Galileu: Sidereus Nuncius. O Mensageiro das Estrelas (Fundação Calouste Gulbenkian). Participa, como coordenador ou membro, em vários projetos nacionais e internacionais e é membro de diversas sociedades científicas portuguesas e estrangeiras, entre as quais destaca a Academia das Ciências de Lisboa, a Académie Internationale d’Histoire des Sciences, a European Society for the History of Science (foi membro do «Scientific Board» no triénio 2008-2010) e a History of Science Society.




Não esquecendo como atrás foi referido, que se poderá igualmente assistir em direto, esteja onde se estiver, através do site: www.livestream.com.fcg/live.


MATEMÁTICA: A CIÊNCIA DA NATUREZA


Uma enorme transformação no conceito de Natureza ocorre durante os séculos do Renascimento e dos Descobrimentos. As grandes navegações oceânicas tornam esta transformação impossível de esconder. A utilização intensiva de instrumentos, de tabelas, de mapas, bem como a circulação de pessoas, plantas e animais à escala do globo, criam a necessidade de se entender a forma nova que o mundo assume aos olhos maravilhados dos europeus. O século XVII, em que nasce a ciência moderna, consagra esta transformação.

Galileu põe a terra em movimento; e o movimento está por toda a parte: não há estado de repouso no Universo. Mas, ao mesmo tempo, comete um “pecado” de consequências monumentais para o futuro – para legitimar o novo conceito de descoberta das leis naturais, Galileu identifica a Natureza com um livro tão sagrado como a Bíblia, porém escrito numa outra linguagem – a da matemática. Ora a matemática era desde os gregos indissociável da Natureza; era o próprio conhecimento rigoroso, não mitológico, da realidade, através da aritmética, da geometria, da música e da astronomia. Paradoxalmente, em poucas dezenas de anos, a matemática aparece apenas como um “instrumento” de compreensão da nova Natureza. A nova matemática (o cálculo) está separada da natureza, funcionando apenas como a sua linguagem. Um novo conhecimento das coisas naturais emerge, adotando inclusivamente o nome latino de “scientia” para não se confundir com o antigo. A nova física (que surge como mecânica: o estudo do movimento e das forças) triunfa, acolhendo rapidamente os outros fenómenos naturais. Privada inadvertidamente do seu objeto, a matemática escolhe um caminho de progressiva abstração como estratégia evolutiva, com grande sucesso, até aos dias de hoje.

Foi preciso o Cubismo e a Mecânica Quântica para que a Natureza se voltasse a cobrir com os seus véus. Um século depois, percebemos que um conhecimento matemático novo será determinante para que o mundo que nos rodeia ganhe uma nova inteligibilidade. Nós também somos Natureza e esta perceção de base é fundamental para se equacionar a complexidade do nosso tempo. Entendeu por isso o Serviço de Ciência dedicar o ano de 2012 a pensar, de forma motivadora, nos novos caminhos abertos ou antevistos pela Matemática ao reassumir em plenitude o seu papel central de discurso sobre a Natureza.


João Caraça
(Diretor do Serviço de Ciência da Fundação Calouste Gulbenkian)

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