5.22.2010

Nas Fraldas da Actualidade

"Se não sabes para onde vais, acabarás por chegar a algures."
L. Peter

Aprender (ainda) é solucionar problemas da mesma forma que as conhecidas fraldas, sejam elas de linho, algodão, papel ou fibras sintéticas, descartáveis ou de reutilização previsível após inevitável lavagem, não passam de mais um mecanismo, ou expediente sumário, de retenção na fonte. Quando se aprende algo derivado da necessidade, aquele que aprende, retém para uso futuro o benefício da experiência "cometida", reforçando um saber ser com a postura do saber estar, que assim será remetido para o departamento do saber fazer, a que muito comummente é dado o cognome de desenrascanço geral. Seja essa fonte um livro, um manuscrito, um blogue, um site, um e-book, um DVD ou simplesmente uma fotografia retirada à sorrelfa do álbum de família, cujos pergaminhos assentam a magistralidade nas prateleiras da Torre do Tombo, sem lhe haver caído, porém, o DNA na desgraça do desgaste e da corrosão. Seja essa fonte – lugar de onde alguma coisa dimana ou certificada origem de algo – primária, por de primeira importância, ou de importância directa e imediata, pessoa com conhecimento directo do assunto em causa, documento escrito, gravado, digitalizado, na época e lugar a que o assunto nos reporta, conversa contemporânea que ficou de algum modo registada; seja essa fonte secundária – logo, que não é original, nem primária –, factos ou opiniões não fundamentados directamente, nem em primeira mão, informação acerca de quem está envolvido no assunto, artigo ou apreciação crítica, transcrição enciclopédica ou definição disciplinar, que se anexem ao assunto em questão.
Ora, é certo e sabido, que quando alguém intenta demonstrar o inconcebível, está a fazer uma de duas coisas, sem hipóteses para quaisquer tergiversões placebetárias: fazer-nos o ninho detrás da orelha ou passar-nos diploma de asnos, carimbando-nos a licenciatura com a retouça do já-comi-mais-um. Porém, se acaso atribui à sua demonstração outras motivações, esclarecendo da natureza intencional de ser esta uma jogada por carambola às três tabelas ou à seca, precisando querer atingir não o que atinge mas sim atingir através do atingido o alvo que se segue, então podemos chamar-lhe não acção mas moção, de censura digamos, todavia, de confiança, considerando que não atingimos directamente quem atingimos, mas indubitavelmente aquele que é tocado por quem efectivamente empurrámos.
A moção de censura ao governo, apresentada pelo PCP (Partido Comunista Português) na Assembleia da República (AR), na passada sexta-feira, 21 de Maio, pareceu mais um serviço encomendado pelo PS a outro partido de esquerda, caracteristicamente da situação, a fim de lhe facilitar a maneira deste implementar a retenção na fonte em todos os sectores, mais precisamente da oposição, uma vez que estava condenada ao retumbante chumbo, como aliás categoricamente aconteceu, e tinha como finalidade última, no que resultou em sucesso pleno, demonstrar aos focos de oposição – mais ou menos generalizada – que se levantavam dispersos e amiúde no tecido social, que a contestação ao governo não tem condições para vingar, à semelhança e exemplo do que se terá passado no fo0ntanário de excelência da nossa democracia que (ainda) é a AR, onde a dita contestação levou uma sova bastante dissuasiva, persuadindo definitivamente os portugueses a aguentar e de cara alegre quanto o governo achar por bem empreender, no desbaste ao seu nível de vida, degradando-o conforme lhe co0nvenha, no cumprimento das ordens europeias e no enfrentar da crise, que esse mesmo governo, com a ajuda e sábia mão dos seus congéneres do PSD, fizeram eclodir.
Isto é, conforme aventaram as sondagens sic/expresso, todos os partidos desceram excepto os abstencionistas, o PSD, o que vem comprovar o tamanho do serviço que o PCP lhe prestou, por um lado, e ao governo, por outro, já que a partir de agora em Portugal nenhuma manifestação da oposição é (politicamente) legítima, coisa que os dois partidos sob a batuta dos seus líderes (José Sócrates e Pedro Passos Coelho) tinham conseguido com a mãozada à salvação nacional, sobre a antecipação dos preceitos de contenção do PEC. E se era o que os comunistas pretendiam, ou não, com esta moção, nunca o chegaremos a saber, tendo em conta que o seu chefe ingénuo mas não inocente, tal como afirmou tempos atrás; contudo, de uma coisa não nos livraremos e temos a certeza que ele conseguiu: é que ficámos, a partir de agora, em muitos piores lençóis.
José Sócrates e Pedro Passos Coelho deviam agradecer publicamente a Jerónimo Sousa o favor e graça concedidos. Ficava bem, sintoma de faire play e daria exemplo de reconhecida gratidão por um serviço que beneficiou os dois. Mas sobretudo, indicava ao senhor do PP que o texto marxista-leninista da moção, não era relativo à anedota da pescada, mas do ovo: "qual é a coisa, qual é ela, que cai no chão fica amarela, com três cabelinhos à volta?"
É o ovo, podemos responder. Os cabelinhos, como o marxismo no texto, eram para disfarçar... A retenção da democracia na fonte, sobretudo da oposição ao governo, é finalmente um acto consumado. Aquilo que nem os corporativistas de Salazar conseguiram no tempo da ANP, foi feito em quatro horinhas de boa palração, numa só sessão da AR, em vésperas de fim-de-semana, do que segundo a prova dos noves aos 36 anos de depois de Abril, é um resto zero que nos fica para a História de uma pátria em vias de falir. E que mais esperávamos?... Quando desconhecemos a onde queremos chegar, qualquer caminho nos serve, e algures é um destino tão bom como qualquer outro. Foi o que nos aconteceu!

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