3.16.2010

Tempos de Antena

Deve haver, uma maneira simples de sermos realistas e continuarmos republicanos, pois não antevejo como se faça essa coisa de mudar de regime para alterar alguns procedimentos perniciosos à democracia, para inverter de seguida o estado de sítio, após estes terem sido removidos, mudar novamente para o regime anterior, reinstalar a República, fazer um outro 1910 com cheirinho acentuado à 1º de Dezembro de 1640. Sobretudo porque a República anda velhota e abengalada, vai num século de formaturas e paradas, e 100 anos acarreta muito reumático, atrofia as articulações, diminui a flexibilidade, averba muita esclerose nas vias de comunicação, obstrui os tímpanos institucionais, caleja de teimosia impertinente os arregimentados da confraria do traque e desossa os tutanos à paciência de qualquer um, mesmo que esse ande de ventas alçadas e bigodaças de vento em popa, à dito cujo dos retratos de família em praça de mercado ou recinto de efeméride e celebração. E se é certo que, ainda que igualmente aviagrada e secular, não anda caquética nem pedófila como a Igreja católica, que em dois ou três anos, se ficou a saber de inúmeras manifestações dessa seita dentro do seu mariano seio, primeiro nos Estados Unidos, depois no México e na Irlanda, e agora na Alemanha, embora se desconfie que as portas fechadas para não deixar escapar os segredos de sacristia, esconda muita moléstia latino-ibérico-americana de ensopar fronhas a dedilhar confissões às flores do verde pino, pelo que nunca será demais providenciar cautelas que a provecta idade é profícua em surpresas e desregrares para recuperações da líbido perdida.
A não ser que isso esteja de moda ou se faça num repente como se faz agora no PSD, que depois de ter tido honras de 1ª página em todos os telejornais, onde na generalidade as estações televisivas, durante o fim-de-semana passado, gastaram os primeiros 20 minutos a dar-lhe notícia do Congresso, coisa que só acontece com as grandes derrocadas, as grandes catástrofes e desastres, as enchentes, tsumanis, sismos, pestes e demais cataclismos, eis que deste congressismo mediático resultou nem mais do que a notícia de flagrante censura por 356 votos a favor, larga e compacta maioria, quase por unanimidade se descontarmos os votos contra dos candidatos ao "trono manuelino", instituindo a proibição de falar ou criticar as chefias nos 60 dias que precedem os actos eleitorais – o que manifestamente acho pouco e tardio, pois a bem da nação isso devia, no caso do PSD, ser não de 60 dias mas de três anos, porém alargando-se também a providência de acautelar dissabores internos ao PS, mas inversamente para dois anos após eleições, ficando nós, os portugueses, pelo menos com cinco anos de sossego por cada legislatura, o que já daria para combater o stress e restabelecer a resiliência, tão combalidos e nas lonas por mor de tanta f®icção democrática partidária –, acentuando definitivamente a tónica realista da República, centenária é certo, mas como nova se lavadinha de fresco com alguns arremedos de suspensão, semelhantes ao anteriormente anunciado por Sua Excelência Reverendíssima Manuela Ferreira Leite quando quis interromper a democracia por seis meses a fim de recolocar Portugal na rota do progresso e modernidade, numa ditadura de meio aninho a ver se afinava os pormenores de gestão às agulhas do poder, então bastante esfrangalhadas no croché da conjuntura.
«Força Manela» o cronista está contigo, «acerta-lhe no cravo, cachopa; chama a todos os Santanas deste mundo» que ainda havemos de desbravar outros mares de dar novas repúblicas a esta democracia, bem menos velhinha mas ainda superlativamente caquética, que nisso de andar no poder até à cova todos temos experiência acalentada entre caíres do cadeirame no arrasta-pé corporativista, e pouco falta para inventar moda de conquistar estátua por duração e record no topo das tabelas da governação, a ver se batemos o record estabelecido do nosso António de Oliveira Salazar, que durou 48 anos e, não fosse a frescura primaveril dos marcelos, ainda sobreviveria outros tantos são que nem um pêro.
«Não te deixes abater, amiga» que a gente tem esperança nos às armas, às armas contra os barões marchar-marchar que nos há-de levar à vitória, e pôr em ordem, finalmente, as quinas, que são cinco e não 60 dias, como as chagas de Cristo levadas pelos tormentos do ordenado mínimo e do desemprego que sobe-sobe como o balão da cantiguinha. «Força cachopa, arreia nesse pé-de-trempe que nos mascarra a democracia», seria o último favor que pediria se tivesse tempo de antena, coisa que, in-fe-liz-men-te não tenho, e é por isso pre-ci-sa-men-te que Portugal se vê grego para sair da crise que o Convento, de Mafra, nos agravou, desde o tempo da sua construção, com desregramentos e gastos soberbos, até hoje, de que ainda andamos a pagar a factura, com a ajuda de Saramago tão encarecida que nem sete-sóis e sete-luas nos dariam para abater os juros de mora. «Chega-lhe, amiga», que eu, militante de longa data, pese embora a nova gerência ainda não tenha assumido (funções) o poder, já ando mortinho de saudades dos bons e velhos tempos das amenas legislaturas com cavaqueira e biquinha morna…

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