11.29.2007

A Guerra e o Despesismo Nacional

O embaixador dos Estados Unidos em Portugal, Alfred Hoffman, embora de saída, é certo, entendeu deixar um recado a Portugal. É que isto de fazer o que os Estados Unidos não querem, reduzindo o contingente militar no Afeganistão em 2008, deixa os norte americanos muito chateados com Portugal!!

Isto vindo de um diplomata é no mínimo uma ousadia grave, que merecia uma resposta clara e atempada por parte do Governo português. E o que o Governo português devia fazer era não apenas reduzir a presença do nosso país do Afeganistão (onde já perderam a vida dois nossos concidadãos soldados), como retirá-la em absoluto, de uma vez por todas, não como forma de retaliação ao que disse o representante dos Estados Unidos em Portugal, como é evidente, mas como reconhecimento de que estas invasões unilaterais são um erro inqualificável, que têm custado a vida a milhares de pessoas, e que não atingiram os objectivos a que se propuseram – Portugal está em tempo de se demarcar desta política internacional bárbara liderada pelos Estados Unidos, que se arrogam donos do mundo, e que apenas contribuem para tornar este Planeta cada vez mais inseguro.

Assim, também deveria, já agora, o Governo português explicar à Administração Bush que essa de considerar despesistas as verbas utilizadas com o ensino da língua portuguesa nos Estados Unidos constitui uma minimização do nosso país, que vê a sua língua falada por mais de 200 milhões de pessoas, e um desrespeito aos luso-americanos em particular. Uma Administração que já cobrou a cada família norte-americana vinte mil dólares na guerra do Afeganistão e do Iraque deveria ter outra noção de despesismo!!!


Temos assistido, um a um, aos quatro participantes da famigerada cimeira das Lajes, nos Açores, a reconhecer publicamente que foram enganados quanto aos argumentos que justificaram o início da guerra do Iraque em 2003. Sabiam todos que aquela guerra violava todas as regras de direito internacional, nenhum viu nenhuma prova concreta desses argumentos, que é sempre bom relembrar assentavam na existência e proliferação de armas de destruição em massa pelo regime iraquiano. Os Estados Unidos forneceram durante anos armas ao regime de Saddam, mas aquelas armas biológicas estavam lá, em laboratórios móveis, o perigo era eminente, escreveram uma carta a outros líderes da União Europeia para se associarem à guerra, não lhes deram ouvidos, mandaram de peito aberto os seus concidadãos sozinhos salvar o mundo… os resultados são hoje conhecidos. Fomos enganados, dizem eles!!!

Até hoje ainda não admitiram quem enganou quem, ou melhor dizendo, quem se deixou enganar por alma de quem!! Por uma razão, todos quiseram enganar o mundo, todos construíram a mentira que envergonha a humanidade, mas vêm, depois, um a um, afirmar que se enganaram.

E dessa mentira colossal resultaram (apenas!!!!!!!) cerca de setenta mil mortos directos (a grossa maioria civis), mas para além destes números oficiais, perspectiva-se que o número seja bem maior, e continua a crescer – ainda nos últimos dois dias foram nove os civis, entre os quais crianças e jovens, mortos por militares norte-americanos. Resultaram, ainda, (só!!!!) dois milhões de refugiados iraquianos, mais outros dois milhões fugidos dentro do seu próprio país, mais quatro milhões com carência urgente de ajuda humanitária e a votação à pobreza de mais de dez milhões de pessoas!!!!

Foram avisados e alertados por inúmeros relatórios e peritos que estiveram em missão no Iraque, de que os pressupostos daquela guerra eram falsos, mas não podiam acreditar nisso, porque o seu objectivo era fazer uma guerra no Iraque, e para isso esses relatórios e peritos não serviam!!

Construíram das maiores operações de intoxicação informativa e propagandística da opinião pública ao nível internacional.

Passados quatro anos e meio a guerra no Iraque é ainda uma realidade, o drama humanitário é enorme, mas aqueles três membros da elite - Bush, Blair e Aznar -, mais um, que era o então Primeiro Ministro português, actual presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, o anfitrião, apenas dizem, a conta gotas, que se enganaram, não perdem o sono por isso, e, eleitos ou não eleitos, mantêm todos lugar de destaque na cena política.

Pode o mundo continuar a conviver com esta loucura? É esta a pergunta que “Os Verdes” hoje deixam. E é por considerarmos que Portugal deve demarcar-se disto mesmo, que entendemos que o Governo português deveria fazer regressar o contingente militar que ainda se mantém no Afeganistão e dos 9 militares que ainda estão no Iraque.

A pretexto do combate ao terrorismo, terrorismo que “Os Verdes” condenam veementemente, constroem-se outras formas também hediondas de destruição, põe-se violência em cima de violência, e cria-se um quadro negro, tão negro como o petróleo que é, afinal, o pano de fundo deste cenário que envergonha a humanidade.
Podemos nós, povos do mundo, e cidadãos em concreto, conviver com esta loucura?

Intervenção da
Deputada Heloísa Apolónia
sobre cenários de guerra
28 de Novembro de 2007

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