8.02.2005

E = mc2

Primeiro Andamento


As botas rangem – maruja lá fora
O gesto repentino da criança rufia –
E mais, mais ainda que as botas
Os homens crescem, crescem andando.


Os homens batem, marcham, rangem
Proferem que é botas partindo...


Exijo-me soletração calçada
( Ainda não morreram os preconceitos! )
Plástica evasiva de caminhar cabisbaixo
: Se é assim que se esvaem os pesadelos...


Ontem, à mesma hora de hoje,
Ouvi dizer a um companheiro:
“ Nasci agora três vezes... Três! E é fantástico...
Nem por isso me sinto fatigado! “
HÁ PESSOAS CAPAZES DE TUDO.


As botas rangem ( raque, raque, raque
Raque ), como uma coisa a perguntar-nos:
Quantos restam ainda? Quantos restam ainda?
Quantos restam ainda? Quantos restam ainda?


Segundo Andamento

Tu: Tu és um criminoso!
O teu crime é trabalhares
Mais que o necessário,
E permitires que o lucro que dás
O teu suor, o teu esforço
O teu tempo, o teu sangue
A tua fome, a tua mão
Sejam usados contra o teu companheiro
Homem da mesma fábrica
Homem do mesmo escritório
Homem da mesma repartição
Homem do mesmo campo
Homem do mesmo mar
Homem do mesmo Homem.


Tu: Tu és um criminoso!
Temer é medrar. Engorda,
Engorda em ti o canibal antigo,
O teu gesto de indiferente.


Tu: Tu és um criminoso!
E o teu crime evidente,
O mais de entre os mais que todos,
É dar a título de imposto
O teu voto, o teu trabalho
O valor acrescentado, a quota fiscal
Com que a tirania dos fundamentalismos te
Prende
Mata
Exila

E há-de comprar
Fazer
Usar
Inventar
Alugar
Distribuir, o armamento ideal
Com que possa repetir Hiroximas
Cubas
Líbanos
Angolas
Áfricas do sul
Argentinas
Leninegrados
Jugoslávias
Timores
Moçambiques
Haitis
Iraques
São Salvadores
Sem conto nem fim...


Tu: Tu és um criminoso!
E o teu crime perfeito
É a mentira do teu voto
E o voto da tua mentira
Onde te trocas, meia dose de angústia
Disfarçada
Hondtorizada
Calibrada
E premeditada.


Tu: Tu és um criminoso!
E o teu crime ímpar
É o gesto de morte da baleia do mar do norte.


Tu: Tu és um criminoso!
E é inegável o teu crime
Naquela barriga sobressaída
Naquela ruga precoce
Naquela praia poluída
Naquela flor murchada
Naquela jovem violada
Naquela casa desabitada
Naquela robusta lápide
Onde se inscrevem as saudades mais imediatas.


Tu: Tu és um criminoso!




Nunca a indiferença o foi mais
Que isso
Por isso
Inscrita como epígrafe de nós.


Terceiro Andamento

Foi promulgado, de imprevisto
E ninguém quis acreditar, por si só:
“ Aos vinte dias do mês de ontem, a morte morreu. “


Mas nós estávamos lá
E usámos o refrão:
A morte é morta.


E então foi verdade,
E corremos pelos campos
À procura dos campos
Dos campos.


E então foi verdade,
E corremos pelas fábricas
À procura das fábricas
Das fábricas.


E então foi verdade,
E corremos pelos mares
À procura dos mares
Doutros mares.


E então foi verdade,
E corremos na multidão
À procura de cada nós
Em cada um.


E então foi verdade,
E corremos na ousadia
À procura da aurora
À procura do novo dia.


E então foi verdade,
E corremos na verdade
À procura da procura
Em busca de nós.


E então não foi mentira!



Nenhuma. Mesmo a sós.



AUTO DA VISITAÇÃO

1.

Chiam travões, bate uma porta
E a tarde perde a calma monótona.
A mosca abandona a migalha sobre a mesa;
Há ainda a bolsa do casqueiro
A corna das azeitonas
Um pichel destapado
Uma rodilha sobre o oleado
Um corcho de cortiça
Um cântaro com a asa partida.


« Quem será? » ... os patrões foram a banhos,
O gado está no curral,
O carteiro já veio esta semana.
A terra não pode com amanhos,
As searas foram vendidas;
Crescem olhos tamanhos – quem será??

2.

Ressalva-a, emenda a voz
Estende os braços ao rés do tempo
Ao degrau da entrada, à sombra
Do umbral a moldura faz.


Pestaneja quando eu chegar!
Diz do trigo a colheita sólida
Do fruto a amora brava,
O suco revertendo do olhar,
Posto lá na linha da planície
Mais perto do mar do céu
Que barcos sonhos navegam
Na desvendação do futuro.


Deixa uma calça arregaçada sobre
As fivelas de couro com sola de pneu
O boné dependurado do trinco;
A porta a esconder-se na penumbra.


À telefonia... Essa, que soe baixo
Que a hora é de sesta.


Tem para mim um sorriso
De quem percebe porquê o sol

Tão quente, a fralda de fora.


Depois enxota uma mosca
Enrola um cigarro
E volta a entrar como se nada fosse...

« Maria!?! É o teu filho que chegou.
Partimos a melancia maior!! »


FOLGA DO GANHÃO

( Despique, à janela do moinho )


Medir-te-ei a alma
Dê bem ou mal medida
Pois gela quem acalma
E cede com medo à vida


Ela:
Inda mal nos conhecemos
Já o sol se está a pôr


Lide eu só de domar
Áleas de milhos meados
Que mesmo assim o semear
Me tomará braços suados


Ela:
Inda mal nos conhecemos
Já o sol se está a pôr


No doce e no alimento
No mel, lameiro e eira
Iluminai e dai-me alento
Sê como a lei primeira


Ela:
Inda mal nos conhecemos
Já o sol se está a pôr
Inda mal nos conhecemos
Já o sol se está a pôr

* * *

Nos lemes há sal e prata
Nos campos lume pedra e pó
Mas sei que o tempo trata
Mui pior quem canta só


Ele:
Com o tempo qu’inda temos
Bem podias um favor


Malha e sega humilde
Vira a leiva no sopé
Cresta mel, colhe vide
Que serás como quem é


Ele:
Com o tempo qu’inda temos
Bem podias um favor

Cresce a flor anainha
No pousio ou seara fútil
Mas se não for regada
Fica pequena e inútil


Ele e ela:
Inda mal nos conhecemos
Já me aparto com dor
Inda mal nos conhecemos
Já me aparto com dor


PERFUME DE RECORDAR

“ Il ne reste que moi qui ne suis pas à vendre
Alors tu es passée et je me suis donné
A toi
Pour rien “
( À VENDRE, de Léo Ferré )


No baralho do universo os naipes são Deus, Homem, Natureza e o trunfo é sonho.
Mas nós acima de tudo somos gesto, ombros só quase...
Coisas que carregam anos infinitos
Extensões de lábios que não se uniram
E ninguém!, ninguém!, quando estamos abraçados
É capaz de dizer qual é o macho e qual é a fêmea.
Um poema que se não dá é um cadáver!


Isto são actos que se podem cometer, uns aos outros
Num só dia. No entanto eu, eu que sou memória e gesto e celebração
Eu! Eu, que em calhando é o que é, nada
Mais: Eu, lúdico jogador de empréstimo
( Como no futebol ), levei anos e anos
A desvendar-lhe a saturação e a polpa.


Oh, podemos acontecer...
Oh, podemos acontecer...


Por isso não irão usar-me como trampolim para alcançarem o que querem
( Os trampolins também sabem saltar... )
Porque o amor embora se não saiba o que em verdade é
E o ar, sente-se-lhes sempre a falta
E se prefere este total, ao bacanal
Ao de todos o seu igual, pois é preciso recarregar as baterias
Já que o XXI vai ser enérgica e pedagogicamente mais escrupuloso!
Um poema que se não dá é um cadáver...


Já todos sabem... Já todos viram os abutres voar...
E o nevoeiro de Outono?... – Está frio amiga... Tanto! Tanto!
E tu tão longe... – E chuvisca.
Está frio, amiga – e deste pranto
A mão aconchega a gola da pelica
E o Eu colo-me às paredes brancas e frias
Com a esperança de que cá estejas um destes dias...
( Um poema que se não dá é um cadáver! )

Oh, podemos acontecer...
Oh, podemos acontecer...


O suicídio é um Outono que não chega a Inverno.
Esquecemos o nosso cadáver na gaveta da Primavera
E agora surpreendemo-nos ao compreender que está frio...
Se pelo menos o nosso cadáver nos acompanhasse!...
É o conforto de estarmos sós... Podemos adormecer.


Oh, podemos adormecer...
Oh, podemos acontecer...
Oh, podemos ser perfume!...


DOS GATOS

“ O amor de um pelo outro é como uma extensa sombra
que se beija, sem qualquer esperança de realidade. “

Anais Nin, in A Casa do Incesto


Havia naquela tarde uma luz insuportável
E escorriam dos muros e árvores líquidos viscosos
E os caminhos terminavam sempre antes do fim
E eu e tu não nos entendíamos, sós
Como um pomar abandonado e os lagartos e as aranhas a correr por entre as folhas
mortas,
E também não nos queríamos entender
Porque havia naquela tarde uma luz insuportável.


Havia naquela tarde um cheiro fétido e nojento
E os homens passavam carrancudos e arrepanhados
E chiavam as rodas das carretas de madeira e bois de tela
E ouviam-se sinos vindos de muito longe,
E o vento soprava contínuo e frio e cru
E nós tínhamos medos nos olhos e não nos víamos
Porque tínhamos receio que nos lêssemos a vontade assassina,
Pois havia naquela tarde um cheiro fétido e nojento.


Havia naquela tarde um velho e uma lanterna
E nós queríamos a tarde para o velho,
E o velho não queria a tarde porque a tarde era dele.


Havia naquela tarde o troar da tempestade
E nós envelhecíamos sem dar conta anos sem medida
E confundíamo-nos com verde-escuro das folhas
E a nossa pele era como as cascas dos carvalhos
E os nossos pés estavam gretados e o chão também
E os nossos pêlos pareciam musgo outonal
E os nossos dedos foram trôpegos e frios
Porque havia naquela tarde o troar da tempestade.





Havia naquela tarde um bordão e uma trouxa abandonada
E nos regatos passavam sapatos velhos de criança
E as mães andavam vestidas de negro com as caras tapadas
E a água fazia rum-tchac, rum-tchac
E batiam as folhas nas folhas dos carvalhos e as cancelas
E as vozes tremiam mas os ecos nnãããoooooooo,
E a catedral era de madeira ardida e escura
Pois havia naquela tarde um bordão e uma trouxa abandonada.


Havia naquela tarde um gato negro-cinzento miando
Pardo no cocuruto dum muro cinzento-negro
E nós queríamos a tarde para o gato
Mas o gato não queria a tarde porque a tarde era dele.


Havia naquela tarde um quá-quá dos patos
E nas traseiras das casas a roupa debatia-se e contorcia-se
Como se tivesse gente mole dentro dela,
E as salamandras subiam aos alpendres,
E os sapos passeavam nos canteiros
E as flores estavam todas fechadas
E as nossas mãos não queriam tocar-se
E nós queríamos dar a tarde às nossas mãos
Mas as nossas mãos não queriam a tarde
Porque as nossas mãos sabiam que a tarde era delas.


Havia naquela tarde dentes escarnados
E compridos e caninos
E as nossas mãos nunca taparam os orifícios bucais
E nós tínhamos que ver os dentes grandes
Escarnados, amarelentos, com coroas negras sobre o sangue das gengivas
E nós queríamos ver a tarde
Porque ela era a nossa tarde
E por isso nós queríamos a tarde porque ela era nossa.

Nossa,

Como o ronronar é dos gatos.


2.

Soubemos que vinhas de longe
Do lado de lá de Mitilene
E que ainda proferes as estrofes de Safo
E quisemos honrar-te com a nossa presença.
É a tua chegada!


Bem-vindas sejam as que acreditam no seu ventre frutuoso!
Bem-vindas sejam as que querem partir para lá do lá!
Bem-vindas!


Soubemos que gostavas de ouvir cantar
E por isso entoámos murmúrios dulciquentes

E assim quisemos beijar-te na madrugada da madrugada
Da tua chegada.

Bem-vindas sejam as que ainda querem gritar o seu encanto!
Bem-vindas sejam as que sabem regressar para partir!
Bem-vindas!


Soubemos que guardas a imagem do último espelho
E que fremes incestuosamente leda.
E por isso convidámos os mais belos espectros
E por isso convocámos os druidas mais românticos
E por isso ilibámos cada fada e prostituta
E por isso entregámos as salvas de prata
E por isso depusemos os lençóis de cetim
E por isso quisemos celebrar a festa do teu corpo.


Bem-vindas sejam as que ainda celebram o gesto!
Bem-vindas sejam as que ainda ensaiam o grito!
Bem-vindas!


Soubemos que o inferno é cruel como a menstruação.
Soubemos que a progesterona fere como o ácido.
Soubemos que andas no mundo para obter prazer
E nuvens polvilhadas de afrodites.
Por isso deixámos a sopa a cozer
E os martelos da fábrica
E os programas lectivos
E a mesa do café
E o volante da camioneta
E os ficheiros de clientes
E as reuniões episcopais
E os partidos constitucionais
E os desafios de futebol
Para te vir receber.


Bem-vindas sejam as que se conhecem e entendem!
Bem-vindas sejam as que sabem assentar o calcanhar no chão!
Bem-vindas sejam as que parem alegria!
Bem-vindas!


Ao contrário do cisne
Soubemos que cantas melhor quando chegas.
Seremos teus jograis e amanuenses
E imunes ao movimento da clepsidra
Entraremos de mãos dadas triunfantes
Na cidade de cristal onde a felicidade é inútil
Porque sabe que ninguém deseja aquilo que já tem
Ou porque não quer viver paredes meias com o bem-estar e prazer.


E por isso reunimos todos os tempos à volta do tempo
E teremos bem vincado em nossos rostos
Que todos os dias são o primeiro dia
Que todas as vezes serão a primeira vez
Que todos os amores são o primeiro amor
Que todos os gestos são o primeiro gesto
Que todos os olhos são os primeiros olhos
Que todos os lábios são os primeiros lábios
Que todos os beijos são a primeira palavra
E que essa é o corpo da festa originária.
Soubemos que gostas de amoras e uvas orvalhadas...
Bem-vindas sejam as que sabem adaptar o corpo às estações
Ano a ano e comer ( amar ) o f(r)uto(uro) da colheita!
Bem-vindas!


Bem-vindas as que abandonaram a coprofagia
E se repastam com o corpo de seus corpos!
Bem-vindas!


Soubemos que gostavas de te ver nascer
De ti própria em grito selvagem.
E por isso plantámos estes lagos puros e limpos
Para que nos bebesses enquanto te acariciávamos os seios
E onde podes entrar como em fruto maduro e suculento
De caroço e realidade!


Bem-vindas as que sabem rodear-nos com sua língua de pétalas de rosa vermelha
E ousam investir o íman incestuoso do corpo!
Bem-vindas as que não mitigam!
Bem-vindas!


SOLAR 21

1.

Janelas cerradas. Mesmo assim.
Gostava de ser aquela partícula
Gostava de ser aquela faúlha
Gostava de ser aquele arlequim
Gostava de andar no sopro do vento
E sonho lá fora.


Causa vertigens cortar palavras
Desflorar janelas
Entrar nos vestidos colegiais
E esquecer o regresso.


A lareira arrefece a memória.

O reverso está riscado,
E as metonímias são aspas.


Se o semítico fosse investidor
( O touro gosta de grandes planos
Em todos os filmes a preto e branco )
Abria uma agência de viagens;
Uma sucursal do sonho.


E se entrássemos prò poema...?
Pomos a mesa junto ao fogo
Damos cartas, e jogamos pragmática
Como bons velhos reformados que somos.
“ Sem parceiros! Cada um para si.
Dobrem as apostas: é finados. “
O ás é rei e trunfo.


Pi-pi-pi-pib-pi-pi
Pi-pi-pi-pib-pi-pi
“ Meta mais cem “
Pi-pi-pi-pib-pi-pi
Pi-pi-pi-pib-pi-pi
Pi-pi-pi-pib-pi-pi
“ Queres desforra? “
Pi-pi-pi-pib-pi-pi
Pi-pib-pi-pi-pib-pi
Pi-pi-pi-pi-pi-pi-pib
Pi-pi-pib-pi-pib-pi
Pi-pi-pib-pi-pi-pib
Pib-pi-pi-pi-pi-pi-pi
Pi-pib-pi-pi-pi-pi-pi-piiiiii...


Sincopada a moral cai
Neve néon sobre a zebra:
A sintaxe está certa quando a semântica
Semantica, e o justifica:
O nosso anacoluto é existir –
Outro hiato a que nos permitimos.


A caserna da puberdade está lotada;
Os cabelos desalinhados, húmidos
São mãos aflitas que vagam.
Por exemplo, temos o v. g. que ainda não chegou
Embora tenha combinado desta trazer bom produto
Para despirmos no jardim fronteiro
( Os alfandegários... Sempre os judiciários!... )


Enquanto sorvemos a lareira que ex-pira.


Há restos na cozinha e os livros repastam-se livres,
Porque os dias ronronam ao borralho;
Antes de o serão findar
( Os fantasmas têm que regressar antes da aurora )
Aglutinaremos o texto injectando sangue de salamandra
E entoaremos hinos ciprianos.


2.

Nesta reescrição há um tempo corrupto
E um modo de estar sem ser:
Faz-se manhã porque é morta a madrugada:
Cada coisa é a sua própria regra transformacional.


É, a cada um, lícito, agora dizer:
Tu és a minha morte que sou a tua –
Assim por diante, numa sequência infinita
Até ao ser saído do caldo oceânico, que é o fim de anteriores formas.



Após a última partida de Whist,
Soprados os lampiões e abotoados os capotes
Passaram pelas mentes imagens senis
Vindas de retinas com amplo diferencial correlativo,
Morreram todos os adjectivos que eram próprios
E os nomes repudiaram os seus verbos
E as coisas perderam o seu número e qualidade
E tudo foi sombra duma sombra,
Que é a quantidade mais imediata.


Abriram-se as janelas, e as cadeiras ficaram na mesma:
Mais tarde – soube-se – vaporosos vestidos posaram, ocos
E o pintor desembainhou a honra.


VIRGEM ESTÁTUA VIVA

( Óleo impressionista de rapariga subindo a escadaria de entrada duma
Escola Secundária, a fim de ir fazer exames. )


Nos degraus das escadas os olhos postos
Sobem lestos e azulíneos através dos rostos
Cínzeos de bronze e pedra lacerados cedo.
Tão de repente demasiados dos sustos
Há órbitas sôfregas em ausentes custos
E rangem os granitos sob os pés do medo.


Fitam-se ângulos rasantes à íngreme escalada
Horizontes tangentes chocando estrelas no vértice
Só de humano nos esgares perpendiculares da escada.
Raios disparam-se em traços de ícones formas em hélice
Ferindo plásticas portas encimando telas
Feitas das lonas tostadas nos mastros das velas.


Fendem-se os gestos no cinzento dos gritos!
Gemem lágrimas dos ângulos aflitos!
Gladiam-se os exteriores em espólia conquista.
Esvoaçam tecidos frémitos adolescentes; crista
De onda em plúmbeo orgasmo de atritos!...


NAMORO


Há sempre livros possíveis
Entre nossas mãos
Um sorriso jovial, um beijo
Roubado sou quando me lembras
Distante.


Podia minha voz sussurrar-te
A distância transponível
A minha cabeça entre teu colo?


Mas há sempre um MAS
Que a vida tece
Com as linhas que nos pede emprestadas
E tu não me escutas, nem eu repouso...


Por isso, nas horas vagas
Em que me alinhavo e descoso
Continuamente visando o mar e as vagas
Em que vou e venho
Um rumo me impele, e ouso...


E sonho...
... E tenho.

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La vida es un tango y el que no baila es un tonto

La vida es un tango y el que no baila es un tonto
Dos calhaus da memória ao empedernido dos tempos

Onde a liquidez da água livre

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Também pode alcançar o céu

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Escribalistas é órgão de comunicação oficial de Joaquim Maria Castanho, mentor do escribalismo português