12.27.2019

EXATIDÃO DA DISTÂNCIA






A EXATIDÃO DA DISTÂNCIA

Se na equidistância entre estrelas o afastamento a uma é aproximação
A outra entre dois pólos navega como pêndulo à procura da unidade
Esse ritmo binário digital com que nos sustentamos irrequieta condição
A bater as horas entre ser e não e não-ser, sintetiza-nos átomo paridade
Ao construir-nos duplos no género mas iguais perante a generalidade. 

Olho devagar a concisão de teu sorriso aflorando o recanto da alegria
E nesse olhar em que me vou tornando está o manto rosáceo, puro, liso
Que não descuro nem quanto dele preciso para seguir em frente no dia-
A-dia, sobre a mesa da ocasião, apenas à solidão calada as letras aviso
Arriscarem-se a perecer se ao cometer a traição temerem doce ousadia
De tecer teus ombros na fina e branca seda dos astros reflexos os areais
Bronzeados mestiços metais nada são se os comparar a alvos celestiais
Das velas navegantes que mundos viram e trouxeram uma página mais.

Duas folhas unidas pela medianiz como dos troncos nasce só uma raiz
A veia feita das duas metades que já foram quartos doutras tantas luas
Ao querer como se crê e tanto quis que as pétalas saídas do cálice tuas
Fossem únicas verdades essas lidas assim tatuadas na pele tão-só a giz
De gizar o caminho ao amaciar o linho da repousada água na líquida fé
De se apagar a mágoa no mansinho ser somente quem, ao querer-te, é.

Joaquim Maria Castanho

DIZER-TE ENTRE AS FOLHAS






DIZER-TE ENTRE AS FOLHAS

Pela cadência da batida do tear se dispõe
Enquanto vestes o tempo de flores coroadas
A marca do ritmo se a consciência propõe
A sopesar, a transferir as cores bordadas
Para o horizonte que se quer distanciar…


Cresceste-me como um ventre inaugural
A redoma do destino na imensidão da planície
A lente de alvorar à estrela incondicional
Afinal a heurística desse sempre que nos inicie
Como se cada passo fosse o derradeiro primeiro passo
Cada voz a incontornável revelação de sermos sós
Cada laço lasso a única maneira de darmos nós
Cada nó a distância feita atreita à curva do compasso
No desembaraço do balanço redondo na redoma do plural.



Havia de dizer-te entre as folhas
Como luz esgarçada saltitante
A bailar na sofreguidão da tarde
Que conforme ao verbo, me recolhas
E assim perecerá a sombra distante
Deste Sol que por nós em nós arde!


Joaquim Maria Castanho

GRAFITE





GRAFITE

Com tanto de tão pouco nasce a fortuna que é sorte sina o ter nascido
Que outro milagre não houvera igual em qualquer tempo futuro ou ido
Este de levantar os olhos e reconhecer que o sonho é tão real-autêntico
Como respirar, falar contigo, estar a par, porém saber o propedêutico
Instar da luz no recanto da folha digital tangente ao desejo assumido.

Que devagarmente se isola na rispidez o gesto assaz nulo, oco e vão 
Pois nisso de viver é coisa basta a resistência comezinha e até pueril 
Dizer «sim» quando ao «não» se pensa ou tido vice-versa por decisão
Como qualquer fogo que arde sem combustível pode apenas ser ardil
Da matéria, ao espírito alheia, simples fusão a frio do ninguém e nada
Pondo a parte tida em forma perdida já por demais em si tão achada.

Porém, tempos houve outrora ainda do aqui-e-agora tão-só distantes
Que lídimos dedos apontaram os céus infindos e disseram o espanto, 
E perante tua luz os olhos fulgiram como mil sóis candentes voantes
Explodindo as vozes dos mais entendidos em desgarradas no descanto. 

Foram esses os primeiros dias de todos os dias daí seguintes adiante
Que feitos à tua imagem na repetida procura, busca ansiosa e diária
Nenhuns outros se assemelhando em intensidade, que se de férias
Ou folga tida, me senti pária roubado por mim de minha própria vida.  

Me senti desnecessário do sentir que é viver e não saber até quando
Teus olhos me segam o desespero sem qualquer intenção de fazê-lo, 
Pois que ao Sol do acaso todo o verbo é um gerúndio afecto andando
A(r)riscar reflexos e ângulos silentes e lisos às esquinas do teu cabelo. 

Joaquim Maria Castanho

12.24.2019

AS AZEVIAS DELICIOSAS





FELIZ NATAL


Celebrar com carinho, com paladar
E no coração visão deliciosa,
O Natal, cá, ou em qualquer lugar
Só tem mesmo sentido, só tem sabor
Com iguarias feitas pelo amor
E confeção de mestria, da Tia... ROSA!


Joaquim Maria Castanho

12.22.2019

The Police - Every Little Thing She Does Is Magic Legendado Tradução

A ARTE ETERNA





A ARTE ETERNA


A literatura é lixada...
Quando lemos, partimos
E tudo o mais vale nada.
Plo chão ficam destroços, limos
Vestígios da enxurrada,
Do são tsunami em que vimos
Tanta vez a alma espelhada;
Viagem com bilhete de ida
Donde nunca volta quem fomos,
Retalha a polpa da vida
Dá-lhe estrutura por gomos.


E se acaso nos socorre
Com brisa de prosperidade,
Mata-nos, contudo não morre
Que só ela é eternidade.


Joaquim Maria Castanho

12.16.2019

ADIVINHA





ADIVINHA


Anexo à alma universal
Nota de dívida ou extrato
Remendado a linhas de bem e mal,
Com pespontos na bainha do fato
(Que perdeu o C numa demanda),
Anda agora a parecer que anda
Mas só sabe mesmo marcar passo
Jogar bombas, poluir, terçar aço.


Se acaso não adivinhou quem é
É só por ter acertado em cheio,
Dando ora outro tiro no mesmo pé
Da pegada com que sujou o meio...


Joaquim Maria Castanho

12.15.2019

O HORTELÃO DA LIXOSA





O HORTELÃO DA LIXOSA


Daqui, de onde te vejo
Meu amor é só mistério,
Aberta gruta num beijo
Lenda passada a sério...
Mas em três libras vertida
Desse ouro paupérrimo
Que é ilusão bem sentida,
Visão em brocado vestida
Linda moura encantada.


Foste élan vital e vida
Cada vez qu'ergui enxada,
Tantas vezes nesta lida
Noutras tantas imaginada.


Joaquim Maria Castanho


SUBLINHADAS RIMAS





SUBLINHADAS RIMAS


Se sublinhas os meus versos
Com identidade perfumada,
Agrupas sentires dispersos
Onde a vida será amada.
Libertas os sonhos submersos
Pela sisudez estagnada,
Mostrando, se são perversos,
Como torná-los só uns versos
Que entoam paixão calada...


Então esculpes um cuidado
Feito pelos cheiros sem flor,
Num odor subtil, perfumado,
E escrevo poema cruzado
Apenas com rimas de amor.


Joaquim Maria Castanho

12.13.2019

CADÊNCIA EXISTENCIAL


  


CADÊNCIA EXISTENCIAL


Concludente ou nervosa
Toda a prática indica
Qu'onde poesia faz prosa
A existência tremelica,
Trepida onda aquosa
Que a moda multiplica...
Se, por bem, vira glosa
Mas por mal nem se explica.
Assim, é vera opinião
Lógico efeito e causa
Qu'o amor nunca faz pausa
Bate conforme o coração.


Se grande, então acelera.
Porém, se maior... espera.


Joaquim Maria Castanho
Com foto de Elie Andrade

12.09.2019

Metallica - The Unforgiven II Legendado Traduçãp

CHEIAS NATALÍCIAS





CHEIAS NATALÍCIAS



Meu Deus, por que há gente assim...
Por que me castigas deste jeito?
Gente que amo, mas me não ama a mim
Embora acenda rubra lava em meu peito!
E nesse desencontro d'encontros feito
Marginal à ânsia, e ao desespero
Meu rio bravo, revolto, corre a eito
Lavand'as margens do sonho com esmero.
Arquiteto de belezas existenciais
Como Senhor das profundezas rotundas
Exige qu'o amor ame cada vez mais,
Cave certezas nas dúvidas profundas.



E então penhora, cobra bens marginais
Silentes ao afeto com que me inundas.



Joaquim Maria Castanho
Com foto de Elie Andrade



12.04.2019

A BANDEIRA UNIVERSAL





BANDEIRA UNIVERSAL


Era como se um móvel, porém assim
Com prà'i mil gavetas e gavetinhas...
Umas bem trancadas e pequeninas;
Outras, de tão amplas pareciam sem fim.
Aqueloutras só abriam com segredo
E ninguém saberia como as fechar;
E podia acontecer que só plo medo
As fechaduras viessem a emperrar.
Nessas, perdíamo-nos no interior
Embora noutras mal pudéssemos entrar;
Mas a mais acolhedora era a do amor
Ond'éramos desejados antes de chegar.


Um móvel quase redondo, achatado
Aqui e ali, nalguns pontos enrugado
Noutros lasso, plano, tal como um pano
Bem passado de seda, lona ou caqui.


Joaquim Maria Castanho

12.01.2019

ANO NOVO ESPERANÇA NOVA





ANO NOVO ESPERANÇA NOVA

Úrsula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia (CE), que inicia hoje o seu mandato, decretou como direção de trabalho, para si e demais 26 comissionários que a secundam nas funções, a de colocar a União Europeia (UE) na liderança mundial do combate às alterações climáticas, promovendo a transição geracional para a neutralização carbónica, dentro de uma sociedade obrigatoriamente justa e inclusiva, da qual a sociedade portuguesa é uma parcela inequivocamente próxima para todos e todas que se expressam e entendem em português, independentemente do grau açucarado de suas pronúncias. E isto não tem volta, embora haja quem insista (obtusamente) em contrariar a diretriz, reivindicando-se saudoso ou saudosa disto ou daquilo, enfim, de tudo quanto, já nos tempos do António Mourão, era mais velho que a Serra d'Ossa, intitulado Ó Tempo Volta Pra Trás, porquanto não voltou naquela altura e muito menos o fará agora. A brecha entre o passado e o futuro está cada vez mais larga, não só porque a duração da vida é maior, mas também porque a humanidade aumentou o seu grau de literacia e consciência cívica, bem como o presente se solidificou e a determinação racional é superiormente objetiva.

Portanto a grande questão a que a atualidade nos convoca, já não é saber se queremos ou não combater as alterações climáticas, mas sim se ainda vamos a tempo para o fazer e como agir para minimizar os danos que esse atraso está a provocar. A economia verde, o Green Deal (Pacto Ecológico Verde) e a redução em 50% das emissões de dióxido de carbono, por tardios, podem não chegar para atingir os parâmetros do Acordo de Paris – manter o crescimento do aquecimento global abaixo dos 2 graus celsius --, pelo que a maioria das organizações e instituições científicas credíveis nesta matéria aconselham uma redução mais significativa, na ordem dos 65%, por exemplo, até 2030.

A UE prepara-se para dar um passo importante no combate às alterações climáticas e pugnar pelo equilíbrio da ecosfera, mas se não for acompanhada nesse movimento pela China, EUA e restante países da América do Sul, de África e da Ásia, sujeita-se a marcar passo e ficar sozinha nessa frente, o que é um desperdício de esforço, capital e boa-vontade, uma vez que os resultados visíveis serão nulos, pouco objetivos e ineficazes nesse combate que deveria ser global, considerando que vai beneficiar o planeta e toda vida que alberga. A neutralidade carbónica é essencial para alcançar melhorias visíveis acerca das alterações climáticas mas, conforme se verificará, mesmo que alguns países reduzam em 80% as suas emissões de dióxido carbono, se os seus vizinhos e vizinhos de seus vizinhos não colaborarem, não passará de mais uma pedrada no charco, provocando algumas ondinhas à superfície, o que significa, tal como na anedota do ébrio que tinha bebido vinho tinto e vinho branco em igual abundância, ao cambalear para passar numa ponte, tanto os países ricos como os países em vias de desenvolvimento, se se não entenderem, nesta questão, o mais certo é irmos todos e todas prò charco, enfim, entrarmos num viagem às catacumbas do inferno sem regresso possível.

Úrsula von der Leyen é uma batalhadora sensata e positiva, bem acompanhada e esclarecida nas intenções, capaz e eficiente, com provas dadas e com entrega total ao seu míster. Acredito que tudo fará para conseguir superar estes desaguisados e imaturidades que nos entravam ainda o progresso e sustentabilidade planetária. O Parlamento Europeu já declarou a emergência climática para lhe facilitar a tarefa, dando o pontapé de saída nesse combate, mas seria agora tempo de os restantes parlamentos dos países europeus se lhe manifestassem solidários, subscrevendo e outorgando nesse sentido a sua cumplicidade plena, objetiva e prática, incluindo o nosso, sobretudo porque está localizado em Lisboa, que foi escolhida como Capital Verde Europeia para o ano 2020, ainda que outras razões imperativas não tivesse... Será que vão demorar muito a fazê-lo ou preferem antes dar-nos uma prenda de Natal concreta e valorosa? Seria como recarregar a bateria da esperança para entrarmos no Ano Novo.

                               Joaquim Maria Castanho




11.22.2019

Elton John - Your Song Legendado Tradução

Annie Lennox - Why (Official Music Video)

A SEARA DO VENTO






A SEARA DO VENTO





Antes ou depois de nós
É o sol quem o indica... –
Se uma fala se faz voz
Até escuridão explica.
Explica entre as cores,
Naquelas que levantam voo,
E vão onde quer que fores
A soar como ninguém soou.

Tanto rolas como folhas
Procuram o seu lugar,
Até que tu te recolhas
Até qu'aprendas a voar.

E nesse dizer do vento
Qu'ora sopra, ora para,
Nada morre por intento;
Só é húmus, se momento
Que no livre céu siara.

Joaquim Maria Castanho

11.20.2019

Up where we belong - Joe Cocker (Tradução)

POESIAS & SECRETARIAS





POESIAS E SECRETARIAS

Deram três rebuçados ao interior...
Todavia as sementes nunca se plantam!
Porque para semear, antes alqueivam
E já quem está a plantar, está a dispor.
Que isso de fazer crescer não tem autor
Embora tenha autoria, s'o inventam
Não pelo que copiam, nem que anexam
Mas plo que se faz sem ser troca de favor.
É regredir pôr a corte atrás do pagem
Por melhores que lhes sejam as intenções,
Pois quando o feijão não vem da vagem
É por que vem da cozinha das ilusões.
As autorias são par'aqueles que fazem
Não pròs que são somente seus vendilhões.

Joaquim Maria Castanho

11.17.2019

Avril Lavigne - Don't Tell Me (Legendado)

Paramore - The Only Exception (Legendado/Tradução)

NO OUTONO ATÉ O DORMIR DÁ SONO


 

(IN)DESCANSO DOMINGUEIRO

Sim, hoje é mesmo outono.
Dúvidas? Nenhuma resta.
O dia ajuda a ajustar sono
Mas pra descansar... Não presta!

Joaquim Maria Castanho

11.16.2019

AS BOLHAS IMACULADAS





AS BOLHAS IMACULADAS

Tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lho também vós, porque esta é a lei dos profetas.” – Mateus 7, 12 e Lucas 6, 31

Acautelar a biodiversidade, qualidade do ar, recursos hídricos, economia circular, tratamento de resíduos, gestão racional dos recursos biológicos, seriedade na gestão e ordenamento do território, remoção dos plásticos de fundo do mar e albufeiras, acuidada conservação da natureza, bem como ter uma regrada agricultura e produção animal, são etapas de um processo contínuo de combate às alterações climáticas, que devem ser mitigadas, com vista a garantirmos a sustentabilidade ambiental portuguesa, tendo todavia, em linha de conta, que aquilo que fizermos cá dentro, nesse sentido, quem mais beneficiará serão provavelmente os outros povos, outros países, outros habitats, e até outros continentes, tal como, o que essoutros países, povos, continentes fizerem estará a beneficiar (ou prejudicar) por sua vez, indubitavelmente a nós.

Borboleteando de outro modo: o presente não pode alimentar nacionalismos infantis, caso contrário, vamos todos e todas prò maneta, e enquanto o diabo esfrega um olho.

Portugal tem feito a sua parte – e com algum sucesso, pese embora a elevada dose de incivilidade que predomina em diversos nichos, setores ou comunidades da nossa tradição secular e incivilizada.

Chegou a hora de começarmos a pensar não só nos legumes do nosso quintal e interesses, nesse criancismo egocentrista que é apanágio das gerações de 70 e 80 da portugalidade vigente, pseudonacionalista conservadora e radical, para quem a lei e o Estado de direito são uma espécie de argila para fazer presépios, moldável e manipulável conforme os caprichos e modas momentâneas. Brincar tem hora e está na hora de nos tornarmos uns homenzinhos e mulherzinhas responsáveis, íntegros, conscientes, emancipados, fraternos e determinados. É que se o não fizermos deixamos de ter razão para reclamar quando os demais países ou povos – como é exemplo dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), se estiverem a borrifar para toda a gente e planeta, aumentando categoricamente as suas emissões de GEE (gases com efeito de estufa – CO2, óxido nitroso e metano), em nome da sua economia e crescimento demográfico.

Somos uma pequena bolha, é verdade, perante o universo e seus buracos negros. Mas importa que sejamos uma bolha sem mácula, um exemplo de clareza e transparência, para que possamos refletir a nossa maturidade humana e democrática. Porque somente assim seremos princípio, meio e fim aos olhos do mundo.

Joaquim Maria Castanho
Com foto de Elie Andrade

11.15.2019

Madredeus - O Paraíso

AS COISAS QUE NÃO LEMBRAVAM NEM AO DIABO





AS COISAS QUE NÃO LEMBRAVAM NEM AO DIABO

Quando escrevia para os órgãos de comunicação social locais e regionais, bem como para os periódicos portalegrenses, que é quase a mesma coisa mas dita sem salamaleques, uma das críticas que me faziam era a de que eu costumava dizer coisas que não lembravam ao diabo. De entre elas, era a de que a fatia territorial que primeiro iria sofrer os efeitos das alterações climáticas seria o interior algarvio. Afinal, onde estava a estranheza? Hoje, exatamente hoje, o stress hídrico é um facto indesmentível no nordeste algarvio e sudeste alentejano, debatendo-se com os efeitos diretos de uma seca extrema, e o resto do Alentejo já se encontra em seca severa – conforme os dados divulgados pelo IPMA, Instituto Português do Mar e Atmosfera.

BEJA, a tal terra que não vai ter o aeroporto internacional porque ele faz falta a um território saturado pela ocupação humana e amenizar os prejuízos tidos e contraídos em favor do do Montijo – extensão do de Lisboa –, e que quando ficar sem agricultura nem olivicultura, pouco mais do que com mel coado há de ficar para fazer frente à desertificação crescente, é, conforme as tais coisas que não lembram ao diabo mais uma dificuldade que não cabe a Deus resolver, uma vez que nós desperdiçamos a oportunidade de a menorizar, também outra faixa do território português que irá sofrer os efeitos diretos das alterações climáticas.

Todavia, para as instituições político-administrativas deste torrão à beirarraia plantado, ao que parece, pelo comodismo e silêncio compungido evidentes, vivemos todos e todas no melhor e mais promissor dos mundos candidamente conhecidos, tão cândidos quanto o eram para o Cândido de Voltaire, que ainda em 1755 e perante a derrocada de Lisboa, insistia em viver no melhor dos mundos, pois Deus havia de acorrer a tempo e resolver tudo por nós, e a nosso contento. O que era preciso era ter fé... Isso mesmo, outra das coisas que não lembram nem ao diabo!

JOAQUIM MARIA CASTANHO

11.13.2019

AS FRONTEIRAS SÃO SEPARADORES QUE UNEM


  


AS FRONTEIRAS SÃO SEPARADORES QUE UNEM

Todos os [principais] problemas nacionais têm uma solução europeia. Apenas importa reconhecê-los e deixar de os enfrentar isoladamente. A chave do progresso chama-se cooperação estratégica. Os governos de todo o mundo sabem-no, alguns praticam-no, os mais ricos testemunham-no. Os países nórdicos, a Alemanha, a Bélgica, a Áustria,a França, são pioneiros dessa atitude.

Ao impulsionar o progresso e desenvolvimento do interior (raiano) português, estamos a fazer com que as semelhanças e qualidade de vida europeia se estendam à periferia que ainda somos, exatamente para o deixarmos de ser. Não devemos, nem podemos, permitir-nos a continuar como estância de férias para a classe média dos países desenvolvidos. Temos que reinventar-nos como parceiros de crescimento da Europa pós-brexit – e com responsabilidades acrescidas (exatamente por causa dele).

Mas para que tal aconteça é necessário mais investimento estrutural, pois sem ovos não se fazem omeletas. Bem pode o primeiro ministro correr atrás dos prejuízos aumentando o aeroporto de Lisboa, via Montijo, desde que não se descure também a oportunidade de BEJA. Este segundo é mesmo de maior interesse nacional do que o primeiro. É um passo que pode configurar a cooperação estratégica com Espanha com vista a consolidar a Europa, provando assim que desde os frios recônditos do Mar do Norte até à Ponta de Sagres só há uma moeda, uma civilização (multicultural), e um desígnio – sermos a vanguarda do amanhã inegavelmente sustentável.


JOAQUIM MARIA CASTANHO

11.12.2019

A CLAREZA É FONTE DE PROGRESSO





É PRECISO DESOCULTAR OS CAMINHOS DO PROGRESSO

Em Portugal, todas as capitais de distrito podem ficar ligadas por transportes ferroviários. Mas não convinha que ficassem ligadas de acordo com o traço estrutural que arruinou os caminhos de ferro portugueses, uma vez que a rede ferroviária foi tecida de forma a que, nosinho após nosinho,Lisboa ou o Porto se encontrassem sempre no fim do caminho. Além do abraço aéreo europeu, com o estabelecimento dos três aeroportos internacionais nacionais (BEJA, Lisboa e Porto), poderia assim existir um outro abraço, mais terra a terra, asseguradamente terreno, que unisse as nossas terras, através da linha férrea, e que ligasse IGUALMENTE as capitais de distrito do interior desde o Algarve até Trás os Montes, com passagem por Beja, Évora, Portalegre, Castelo Branco, etc., etc., até Vigo, por exemplo. E 15 anos era tempo mais que suficiente para o conseguir, assim as formações políticas portuguesas e os sucessivos governos o quisessem, e nisso se empenhassem.

Há mais Portugal, onde também vivem portugueses e portuguesas, para além de Lisboa, Porto, Coimbra e Aveiro, onde se produzem produtos IGUALMENTE nacionais, se cultivam tradições milenares IGUALMENTE lusitanas e europeias, se aposta no progresso IGUALMENTE europeu, e que estão radicadas no Algarve ou Alentejo, ou Beiras, ou Trás os Montes. Logo, que integram o património cultural, territorial e ambiental mais antigo da civilização ocidental. E isso é um caminho que consolida a nossa civilização, a transforma num argumento de peso – e de sustentabilidade garantida – que não pode ficar oculto, nem escondido de ninguém. Nem sequer da globalização atual...

Joaquim Maria Castanho

11.11.2019

PELO CÉU É QUE VAMOS





PELO CÉU É QUE VAMOS


Só um enorme desconforto nos impede de desejar o que está certo preterindo o seu contrário, o errado. Ou porque nos sentimos mal connosco e indispostos com os demais, ou, então, porque sabendo que algo está mal, nos mantemos na secreta solidão dos eleitos, mas temos medo de enveredar por ela consecutivamente, com consciência e responsabilidade, levando-a às últimas consequências, que é pensar para agir, e agindo de forma a resolver esse erro, falta, incoerência, inexatidão, etc. Alguns e algumas atiram para Deus, outros e outras esperam que o tempo faça por eles e elas, havendo também quem sacuda a água do capote, justificando-se com o tradicional “quem vier atrás que feche a porta”. Enfim, vivemos em constante desassossego, reclamando que isto não é vida, preferindo a cómoda inquietude à desinquietação da mudança. Seremos preguiçosos? Não, claro que não! Seremos desleixados? Nunca! Seremos vingativos? Se no passado ninguém nos acautelou o presente, porque é que no presente nos havemos de preocupar com o futuro? Se o futuro é dos nossos filhos e dos nossos netos, das nossas filhas e das nossas netas, então que sejam eles e elas a acautelarem-no...

Há muita gente para quem a interioridade foi – e é – uma bênção. Mesmo tendo pouco, sobra-lhes, e possuem ainda muitíssimo mais do que a maioria (planetária), que não tem nada. Estão saciados de realidade, que lhes basta, e o sonho assusta-os e assusta-as. Pois a mim, essa prisão – a fria e seca árvore do real, que até dava patacas antigamente –, não obstante seja dourada, não serve absolutamente para nada. Prefiro sentir-me disponível para ajudar a concretizar uma Europa que abrace todas as regiões e seja una na sua pluralidade. O aeroporto internacional de Beja seria mais um elo, o elo que falta nesse abraço, uma vez que os elos do norte (Porto) e do centro (Lisboa) já foram forjados, e são concretos. Principalmente, porque o maior sonho da humanidade, o de voar, foi realizado com sucesso há muito-muito tempo, e sem precisar das asas de Ícaro. Que caiu ao mar, mas se fosse hoje estava era sujeito a que o mar lhe caísse em cima...


JOAQUIM MARIA CASTANHO

11.10.2019

UMA QUESTÃO DE JUSTIÇA SOCIAL




UMA QUESTÃO DE JUSTIÇA SOCIAL

Os quatro pilares de governação subscritos no Orçamento de Estado para o próximo ano, são a consolidação demográfica, a transição digital, as alterações climáticas e a coesão sócio-territorial,com principal ênfase no combate às desigualdades. As assimetrias regionais geram desigualdade que, consequentemente, se multiplica em inúmeras desigualdades pessoais, ambientais, culturais e estruturais. A almejada sociedade inclusiva fica, assim, cada vez mais longe, e urge inverter essa tendência. Como? Apostando no progresso e desenvolvimento económico-social de cada região, emancipando-a (gradualmente).

O interior do país, tantas vezes sacrificado aos interesses centrais, e que tem sido ao longo da História uma espécie de faixa de Gaza, ou tampão muralhado contra as invasões estrangeiras, sobretudo espanholas, foi sucessivamente afastado dos desígnios nacionais, nomeadamente o da partilha e produção de riqueza. Os PIB's regionais periféricos são baixíssimos se comparados com os da faixa litoral desde o Sado até ao Minho, pelo que não se pode falar em combater a desigualdade nem gerar coesão (social, territorial, económica,...,...) sem se apostar e investir no interior (fronteiriço) com o mesmo vigor e determinação com que Portugal o tem feito no litoral desde há séculos, e que culminou no consecutivo enriquecimento das duas áreas metropolitanas atuais (Lisboa e Porto).

O aeroporto de Beja é apenas o tiro de partida para essa corrida, uma pequenina mosca numa reparação continuamente adiada... Um passinho em frente para a justiça social (historicamente defraudada). Por que esperamos?


Joaquim Maria Castanho

11.09.2019

O OVO DE AVIOA





O OVO DE AVIOA

A obtusidade tem limites. Continuar a defender (insistentemente) que o novo aeroporto internacional português se deve localizar próximo de Lisboa, como são os casos de Alcochete e Montijo, com a agravante de ambos irem à revelia da lei, descurando a mais valia económica, estratégica e de combate às assimetrias regionais, em termos de desenvolvimento e coesão territorial que Beja proporciona, é um erro que nos poder sair bastante caro e em muito mais curto prazo do que aquele que é vaticinado pelos arautos e pitonisas do conservadorismo retrógrado português.

Beja é a única solução que respeita a lei, não onera os custos ambientais dum projeto desta envergadura, nem provoca danos colaterais evidentes para nenhum ecossistema ou habitat. Pelo contrário. Promove o desenvolvimento económico e demográfico de uma região que carece de recursos e em risco de desertificação, pugna pelo equilíbrio e coesão territorial, contraria a interioridade e estimula a formação e modernização da rede ferroviária portuguesa, rentabilizando-a e elegendo-a como meio eficaz para a descarbonização dos transportes em Portugal. Com uma linha de TGV interior, de alto a baixo, ia-se mais depressa de Beja a Bragança, do que se vai atualmente de Lisboa ao Porto...

O aeroporto de Beja é a única opção racional, sustentável, legal, positiva, e capaz de catapultar Portugal para a modernidade europeia. Vamos desperdiçar essa oportunidade e apenas para garantir que os especuladores imobiliários que compraram terrenos nas proximidades do Montijo, contando com ovo ainda no cu da galinha, não percam os lucros chorudos que ambicionaram, ou, por outro lado, vamos aproveitar a oportunidade para ingressarmos no pelotão da frente europeu? A resposta parece clara...

Joaquim Maria Castanho

11.07.2019

DA AUSÊNCIA E DA PRESENÇA





DA AUSÊNCIA E DA PRESENÇA

Tu estás, e a saudade morre.
É essa a virtude das (sãs) paixões
Com que o tempo lava e discorre
Sobre o maior sentir das tradições.
Nossa, enquanto portugueses
Mas também universal (às vezes)
Que o que é do humano coração
Pra todos tem igual condição.

Tu estás, a terra gira, gira
E eu rodopio com ela, feliz.
Qu'a saudade nunca se retira
Sem por nela a presença que se quis!

Joaquim Maria Castanho
Com foto de Elie Andrade

E POR QUE NÃO?




E POR QUE NÃO?
Li Isaac Asimov de fio a pavio há mais de 25 anos, pelo que a transição digital (robotização, inteligência artificial e a internet das coisas) não é encarada por mim como um bicho de sete cabeças. É apenas o principal recurso do século XXI, em termos económicos, organizacionais, comunicativos e sociais. A arte e a filosofia não lhes podem ser alheios; a política tem com ela responsabilidades acrescidas; a eficiência energética e a elevada produtividade são suas sucessoras diretas. O bem-estar, o equilíbrio ecológico, a sustentabilidade, a biodiversidade e o combate às alterações climáticas são os seus principais argumentos. E, enfim, o progresso e o futuro da humanidade os seus desígnios fundamentais.

Porém, nem todos e todas têm sensibilidade para lhe reconhecerem a valia. Sobretudo porque se negam a cortar o cordão umbilical com a sociedade de produção/consumo em que nasceram e onde se formaram (cidadãos e cidadãs). Portanto é urgente que o debate da atualidade inclua na sua agenda a transição digital, bem como as maneiras como ela se vai revelando no dia a dia, alterando as profissões, os produtos, as relações interpessoais, sociais e laborais. E por que não?

Joaquim Maria Castanho

11.06.2019

SONHO EM FLOR




COM O SONHO À FLOR DAS PÁLBEBRAS

Teus olhos feiticeiros
Fugidios ind'agora
Atiram sempre certeiros
S'os meus querem demora.
Não com pedras nem com setas,
Nem promessas, nem pedidos,
Sim com certezas concretas
Com'as dos prados floridos
Prò sol inventar sementes
Pra cultivar os sentidos,
Tão presos e tão contentes
Que só nos dizem escondidos.
Que só nos cantam calados...
Se sonham que são sonhados!


Joaquim Maria Castanho
Com foto de Elie Andrade

La vida es un tango y el que no baila es un tonto

La vida es un tango y el que no baila es un tonto
Dos calhaus da memória ao empedernido dos tempos

Onde a liquidez da água livre

Onde a liquidez da água livre
Também pode alcançar o céu

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Escribalistas é órgão de comunicação oficial de Joaquim Maria Castanho, mentor do escribalismo português