5.29.2006

Companheiros e companheiras
Membros das mesas da Convenção
Deputados e colaboradores do Grupo Parlamentar
Elementos do conselho nacional e do secretariado
Autarcas e delegados
Senhores e senhoras convidados
Senhores e senhoras participantes
Profissionais da comunicação social presentes

Em Portalegre, as coisas apresentam-se mais ou menos assim: sendo um concelho de baixa densidade populacional, com 26 mil habitantes mas em contínuo decrescimento, onde grassam elevado índice de envelhecimento, forte taxa de iletracia (funcional), elevado insucesso escolar, baixa qualificação profissional, elevado desemprego, débil industrialização, tecido empresarial acomodado, fracos níveis de participação política e consciência cívica, a maioria tem oscilado entre o PSD e o PS, numa sequência acelerada de emendas ao soneto que procura sempre piorar o que já mal se encontrava, mas como o descrédito na classe política tem também subido consideravelmente, essas maiorias têm sido cada vez menos expressivas em porcentagem de eleitores. A ausência ou fraca representatividade das demais forças políticas do xadrez partidário nacional (PEV, BE, PP e PCP) tem aberto alguma receptividade, nos cidadãos e quotidiano, às preocupações ambientais, de cidadania, ecológicas, de solidariedade social, sobretudo porque os tecidos institucional, empresarial e comercial, se deram conta da importância da natureza, do ambiente – em actividades do âmbito do turismo rural e cinegético, desporto, saúde, lazer, desenvolvidas nas serranias como albufeiras –, cultura – gastronomia, folclore, tradições religiosas, feiras e romarias –, do património histórico, arquitectónico e paisagístico, e a Espanha ali ao lado!, na criação de volumosas mais-valias e outras tentações capitalistas. Por outro lado, como a administração pública local se tem demonstrado impotente (ou pouco interessada) em contrariar os factores de interioridade e para fixar alguma população activa, gerou-se igualmente um espaço de debate, congeminação e manobra para grupos ou assuntos de expressão ecológica, como aliás pode ser deveras confirmado, na elevada receptividade que tiveram as acções levadas a cabo pelo PEV na sensibilização das questões da água, do aquecimento global e alterações climáticas, aceitação pública de alguns textos de opinião e crítica, eleições autárquicas, em que excepção feita para o PSD que ganhou fomos o único partido que subiu!, e que em diversos locais de Portalegre tiveram lugar. Que não obstante as conotações com o PCP ainda resistentes, tiveram forte e inesperada adesão. E se é certo que sejam raros os que resolvem favoravelmente o conflito de atracção-repulsão que a coligação lhes cria, posto que por quererem consolidar a sua apetência por uma sociedade ecológica têm que vencer o anti-comunismo primário que 48 anos de ditadura e 30 de decepção ou trauma democrático nos seus psiquismos se instalou, votando CDU, o que não deixa de ser menos certo é que “cospem” a confusão que uma sensação ao mesmo tempo agradável e desagradável lhes provoca, indo votar noutras propostas políticas menos complexas e contraditórias. Querer uma sociedade ecológica, responsável e emancipada ainda não é tão forte neles como a aversão que sentem por alguns vectores de esquerda, enquanto influências ou resquícios do salazarismo corporativista que se instalou nas instituições democráticas e condicionou a sua prática política desde os tempos da clandestinidade, o que não é para admirar, porquanto existem ainda muitas pessoas na vida pública e partidária que a única escola que tiveram de formação política e intervenção social foi a suportada por valores assentes na guerra fria, no secretismo competitivo, na concorrência da cunha, no rasteirismo ou sacanagem igrejista para se dar bem e conseguir o melhor para a sua família, clã e tribo ideológica, que inquinaram as suas atitudes, motivação e percepções da realidade.
Daí que veja estes três anos de defeso político sem eleições à vista, como um período propício para tentar clarificar a nossa postura, consolidar as nossas potencialidades e perspectivas, enfim, elaborar uma estratégia ganhadora para o PEV, e que ajude a desobstruir o país da política e economia pantanosas que a incerteza e indefinição do NEM O GOVERNO CAI NEM A GENTE ALMOÇA indubitavelmente marcará a sociedade portuguesa, onde o comum ideal patriótico está tipificado por pessoas que entendem ser mais eficaz para o desenvolvimento o pôr a bandeira à janela durante o mundial do que seleccionar o lixo, depositá-lo em conformidade ou preferir os transportes públicos aos automóveis particulares para se deslocar no dia a dia.
Parece portanto oportuno ter em linha de conta o enquadramento circunstancial português para enfrentarmos com galhardia e eficácia a problemática interna e externa que nos exigirá atenção e cuidados redobrados, se quisermos efectivamente contribuir para o romper do cerco fascizante nacional e europeu que se apresta a determinar o ritmo do nosso crescimento, qualidade de vida, sustentabilidade territorial e ambiente, conservação da natureza, gestão de recursos naturais, culturais, energéticos e humanos, pautando a acção militante nesta Convenção no sentido de preparar a próxima, onde já devemos ter verdadeiras e significativas propostas políticas e projectos para apresentar ao eleitorado português, independentemente do formato que escolhamos (coligação ou iniciativa própria) para concorrermos. O que podia ser feito atendendo a cinco pontos vectoriais elementares que passo a enunciar, e a que me cinjo somente para abreviar a questão… e assim:
Primeiro – no plano estratégico interno do PEV: devemos aproveitar esta Convenção para demonstrar aos nossos companheiros e a Portugal que temos uma forma diferente de estar na política, que apostamos na frontalidade, no debate, na abertura e transparência, e que não imitamos os partidos e poderes esclavagistas, que, à semelhança do que aconteceu com o Tratado para a Constituição Europeia, cozinhado por meia dúzia de magos iluminados, apenas foi dado ao povo a possibilidade de se pronunciar em SIM ou NÃO, sem ter sido tido nem achado para a sua elaboração; ou como os partidos que fazem os seus congressos para aprovar, eleger e aplaudir conselhos nacionais e/ou secretariados já previamente estipulados por outros iluminados que se consideram donos do aparelho ou máquina administrativa do mesmo. Não. Mas antes que somos um partido democrático, moderno, emancipado, que respeita os seus militantes, sem os atropelar nem decidir por eles, sem medo da discussão nem da ousadia, onde não há lugares marcados nem estatutos definidos por cunha, sargentismo, cumplicidade, compra ou casting de simpatia.
Segundo – no contacto com a sociedade real: que em cada região, distrito, concelho, freguesia, bairro, rua, a presença activista de Os Verdes se registe, faça notada, envolvida pelos demais cidadãos, discutida e partilhada, nomeadamente na intervenção e animação urbana, ajudando os idosos nas suas necessidades de companhia e conforto ou auxiliando os mais novos nas suas tarefas de integrar, compreender e participar na vida activa, fazendo jus e dando significação concreta àquilo que se denomina por responsabilidade social.
Terceiro – ao nível global: que participe mais activamente em certames, debates, fóruns, convenções internacionais, e se aproxime cada vez mais da sua família europeia, no sentido de ganhar posição estruturante e "saberes de experiência feito" com os partidos similares/correspondentes na Alemanha, França, Inglaterra, Holanda, países nórdicos, do leste e mediterrâneos, a fim de melhor se reafirmar no plano nacional e se integrar globalmente. (Por exemplo, não se percebe porque é que a linha semióptica da Cruz Vermelha assenta num símbolo de guerra colonialista e missionária, quando há muito foram extintos os princípios dessa cruzada medieval, o que motiva legitima a outra denominação guerreira do Crescente Vermelho…)
Quarto – no plano parlamentar: em verdade têm sido os parlamentares do PEV os principais protagonistas e interlocutores da ecologia política em Portugal, além do fulcro de actividade e militância onde os resultados foram efectivamente mais notórios e positivos, ou de maior alcance e consequência para a vida nacional. Ela, a actividade parlamentar, é deveras relevante, essencial, importante para o crescimento e disseminação dos ideais ecológicos, mas não deve ser a única nem monopolizar as atenções do PEV, sobretudo nesta “temporada de defeso eleitoral” onde tudo que há para decidir vai ser decidido à revelia da oposição, uma vez que a maioria governativa tem a faca e o queijo na mão, além do beneplácito ámen presidencial. Deu os seus frutos, mas deve ser alvo de constante refrescamento e renovação, para fazer rodar e dar experiência a outros potenciais parlamentares, que devem estar preparados quando forem chamados a exercer o cargo, após as próximas eleições, e onde certamente serão eleitos, no sentido de ganharem estaleca, apresentarem novas sugestões e divulgarem os seus estilos e discursos pessoais. Principalmente porque aqueles que têm experiência de relação e contacto com os eleitores e instituições do Estado, poder mediático e flexibilidade vocabular, devem estar disponíveis e operativos para se deslocarem às restantes partes do país, a fim de formarem e cativarem novas militâncias, simpatias e adeptos da causa ecológica, sem deixar cair a mensagem na vulgaridade da Boa Nova missionária do cruzadismo populista ou burlesco medieval. E
Quinto – na actividade e intercepção dos militantes: neste vector pode (e deve) ser aplicada a regra maquiavélica do dividir para reinar, criando diversas comissões ou gabinetes de conteúdo específico que assessorem o Secretariado no plano dos temas políticos, itens de força e intervenção, cuja actividade particular – por exemplo, Gabinete da Energia e Nuclear, Gabinete dos OGM’s, Agricultura e Ambiente, Gabinete da Ordenação Territorial, Gabinete da Cidadania e Direitos Humanos, Gabinete da Saúde e Qualidade de Vida, etc., etc. –, cuja actividade particular, dizia eu, poderá servir de apoio aos ecologistas regionais para promoverem acções próprias que privilegiem esses teores e saberes, princípios e inquietações, bem como ajudar ao esclarecimento das várias temáticas aos nossos militantes, aos autóctones regionais e demais populações periféricas.
Assim, e na prossecução do atrás enunciado, creio ser importante que esta Convenção seja uma assembleia de reflexão catalizadora de novas sinergias, sentidos e orientações de trabalho futuro, apontamentos operativos como sinal de mudança e reciclagem política do PEV, reciclagem essa por que as populações continuamente nos inquirem, os tempos nos exigem e os eleitores esperam.
Pela Paz
Pela Liberdade
Pela Natureza
Pelo Ambiente
Pela cidadania
Pela vida
Viva o Partido Ecologista OS VERDES
VIIIVVVAAAAAA!!!!!!!!!!!!

(NOTA: Este foi o texto que havia preparado para intervenção na 10ª Convenção do Partido Ecologista OS VERDES, de 26 e 27 de Maio. No entanto, os pontos de 1 a 5 foram por mim voluntariamente omitidos dela quando a proferi, por achar que não estariam conforme as circunstancias nem deveria tentar interferir tão abusivamente na ordem de trabalhos, além do que demonstrariam alguma arrogância e pretensiosismo da minha parte.)

La vida es un tango y el que no baila es un tonto

La vida es un tango y el que no baila es un tonto
Dos calhaus da memória ao empedernido dos tempos

Onde a liquidez da água livre

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Também pode alcançar o céu

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