AO CONTRÁRIO DA MORTE
Buzinam isto, aquilo
Dizem pra fazer assado
Cozido, frito, e dar asilo
Ao doce coração aflito
Por 'tar assim acossado
Causador d'algum atrito
Além desse que é nascer
Ser gentio e querer dizer
Ao que veio, ao que está
Mesmo que não esteja aqui
Esteja até noutra parte,
De ilusão em ilusão vá
Plantar acolá, acoli
Algo parecido com arte.
Mas esquecem os projetos
Vontades esclarecidas
Que pintam nos velhos tetos
Das Sistinas carcomidas
Novos grafites e afetos
Entre chegadas e partidas;
Que irrompem sem esperar
Como dum clique qualquer,
Estalido que pel'olhar
Se tornou big-bang profundo
Nessa espécie de mar –
E lágrima com te inundo
Ao ser apenas quem te quer
Sem querer nada do mundo.
Que à vida não importam
As cruéis minudências
Que nos prendem e nos atam
Ao agora das tendências;
Como representar pra ser
Que faz das aparências,
Coisa já de si contrária
Aos credos, como às razões,
Que ela evolui por vária
Reformando as tradições
Do vulgar e ordinário
Para pulsar nos corações…
– Ser da morte o contrário!
Joaquim Maria Castanho