MODINHA DO TEMPO AGORA
Esp’rei-te à esquina
Mas não me deste atenção;
Como qualquer menina
Jogaste pra muito longe
O qu’estava mesmo à mão.
Neste tempo que é sem tempo
Agora tudo tem um fim,
Que também não tenho tempo
Pra quem não tem tempo pra mim.
Se o futuro olha pra nós
E nos olha como hoje,
Escreve a uma só voz
O qu’à outra voz lhe foge.
Neste tempo que é sem tempo
Agora tudo tem um fim,
Que também não tenho tempo
Pra quem não tem tempo pra mim.
Joaquim Maria Castanho
Com foto de Elie Andrade
MUSA ETERNA
A morte é um incómodo enorme…
Vira-nos a existência do avesso.
Quem amamos até parece que dorme…
É dano que não mereces, nem mereço!
E quando na ideia se conforme
Ser possível evitá-la com um Terço
De quanto és, mas ele te informe
Só d’um décimo do que em ti imerso
Navega à deriva no que julgas ser
Então, essa morte é quem por ti vive
Quem percorre os mares, rios, caminhos
– Os afluentes da liberdade livre,
Propriedade de quem saltou dos ninhos
Num voo picado pela sã ousadia…
– Qu’essa sim, é a Musa de toda a poesia!
Joaquim Maria Castanho
Com foto de Elie Andrade