DA DURAÇÃO DOS DIAS
A saudade mina-nos
Como a doença ruim,
Que, por sermos humanos,
Já nos acontece também,
Como acontece em mim.
Trança de sétimo dia
(Triângulo por um elo),
Brisa mansa da Poesia
E sentir sem paralelo,
Por quem esta saudade
(Doendo de verdade!)
Não acontece a ninguém
Como m'acontece a mim?
A saudade mina-nos
Que nem a doença ruim…
Mas se somos humanos
Já nos acontece também
Como m’aconteceu a mim.
Sorriso é flor de poema
(Meu segredo de avelã),
Cujo olhar é tom e tema
Pró vento manso da manhã,
Porque doi tua ausência
Em delírio e demência
Nesta saudade sem fim,
Como se doença ruim?
O qu’acontece mina-nos
Porque somos humanos,
E vem um dia ensina-nos
Que os dias duram anos.
Pequena Musa, destino
De meu canto tão doído,
Porque soa forte este sino
(A ribombar de sofrido),
Que neste domingo sem fim
Ecoa, magoa, como desdém…
E se me acontece a mim,
Porque nos acontece também?
Duram dias por te não ver,
Como voam se te vejo,
Que a saudade é um ter
Sem ir além do desejo.
Joaquim Maria Castanho
(Foto: Imagens Google)