Os Mutantes Vêm Aí!
Isidore Haiblum
Trad. Alexandra Tavares
2 Volumes, 192 +192 Páginas
Incontornavelmente, esta obra, é um policial do futuro. Claro que é ficção; científica, disse eu. Mas não só. É também, ou parece, o que vem a dar no mesmo, uma Odisseia à moda lusitana – de um povo, o mutante. O homem normal que se transformou noutro, até com a ajuda das máquinas, da energia amplificada. (A nós calharam-nos as caravelas, o vento e o deuses do Olimpo, sobretudo Baco, que foi aquele que mais torceu a nosso favor no Concílio, e nos pôs A Ilha dos Amores, mesmo à mãozinha de navegar...) Ou de outra coisa ainda mais inominável, e que faz deste livro o autêntico três em um: o amor, aquele soluto – alguns chamaram-lhe filtro, elixir – de natureza alquímica que altera a psicofisiologia dos espíritos e das almas, nomeadamente das mais superiores, e se considerarmos o final como parte imprescindível de, ou a, qualquer romance.
Porque a acção, essa, decorre no ano 2075, numa sociedade imperfeita, com homens e mulheres imperfeitos de um mundo imperfeito, mas que serve de consolação a quem tem a sabedoria suficiente para reconhecer que não existe outro possível. Nem para o melhor, nem para o pior; sobretudo se não fizermos nada para isso. E é aí que o humor do discurso sobressai, repleto de diálogos em frase curta e descrições concisas, pelo que principia por dar-nos a lição prática, cujo objectivo moral, se outro não lhe acharmos, é garantir-nos a expectativa de um futuro, mesmo quando o quadro da actualidade for pintado com o negro carregado (do luto). Ou da seita. O que o leitor aceita de bom grado, já que o "tratamento" do crescendo narrativo nos predispõe, e alicia, para o suspense do desfecho. Devagarmente. Mas com eficácia.
Por outro lado, arrefece-nos o medo pelo desconhecido. E oferece-nos a empatia (determinista) da História, através da ingenuidade e capacidade de improviso dos protagonistas. Demonstrando-nos, à moda antiga, que só se é herói à força e quando não se tem outro remédio, e que aquilo que unicamente pode haver de novo, no futuro, é a maneira como os homens e mulheres interpretam o presente, os diversos presentes, e que, afinal, mais não serão do que perspectiva, ou visão, revolucionária de um fenómeno do passado: a luta contra, pelo e no poder. Assim, à queima roupa, como se Isidore Haiblum estivesse simplesmente a falar da pertinaz responsabilidade do tear a vapor na revolução industrial, quando se refere a um amplificador de poder de mensagens e seus efeitos sobre os destinos da humanidade, tal como o reencaminhar de um significado para outro significado, tendo por símile a metáfora de um e-mail.
Porém, com um discurso deveras iluminado. Mas onde, em cujas iluminuras, figuram sempre a graça e os propósitos da BD – de Bom Demais, ou Banda Desenhada, conforme se quiser e o nível de alfabetização permitir. O que, sem dúvida, o torna aquilo que qualquer livro deve ser: uma intricada mistura de géneros, estilos e marcas (pegadas) narrativas , para gáudio de um só instrumento, de um só trinado, de uma só voz – a do autor – mas para o prazer de todos. Os seus leitores, digo eu!
Isidore Haiblum
Trad. Alexandra Tavares
2 Volumes, 192 +192 Páginas
Incontornavelmente, esta obra, é um policial do futuro. Claro que é ficção; científica, disse eu. Mas não só. É também, ou parece, o que vem a dar no mesmo, uma Odisseia à moda lusitana – de um povo, o mutante. O homem normal que se transformou noutro, até com a ajuda das máquinas, da energia amplificada. (A nós calharam-nos as caravelas, o vento e o deuses do Olimpo, sobretudo Baco, que foi aquele que mais torceu a nosso favor no Concílio, e nos pôs A Ilha dos Amores, mesmo à mãozinha de navegar...) Ou de outra coisa ainda mais inominável, e que faz deste livro o autêntico três em um: o amor, aquele soluto – alguns chamaram-lhe filtro, elixir – de natureza alquímica que altera a psicofisiologia dos espíritos e das almas, nomeadamente das mais superiores, e se considerarmos o final como parte imprescindível de, ou a, qualquer romance.
Porque a acção, essa, decorre no ano 2075, numa sociedade imperfeita, com homens e mulheres imperfeitos de um mundo imperfeito, mas que serve de consolação a quem tem a sabedoria suficiente para reconhecer que não existe outro possível. Nem para o melhor, nem para o pior; sobretudo se não fizermos nada para isso. E é aí que o humor do discurso sobressai, repleto de diálogos em frase curta e descrições concisas, pelo que principia por dar-nos a lição prática, cujo objectivo moral, se outro não lhe acharmos, é garantir-nos a expectativa de um futuro, mesmo quando o quadro da actualidade for pintado com o negro carregado (do luto). Ou da seita. O que o leitor aceita de bom grado, já que o "tratamento" do crescendo narrativo nos predispõe, e alicia, para o suspense do desfecho. Devagarmente. Mas com eficácia.
Por outro lado, arrefece-nos o medo pelo desconhecido. E oferece-nos a empatia (determinista) da História, através da ingenuidade e capacidade de improviso dos protagonistas. Demonstrando-nos, à moda antiga, que só se é herói à força e quando não se tem outro remédio, e que aquilo que unicamente pode haver de novo, no futuro, é a maneira como os homens e mulheres interpretam o presente, os diversos presentes, e que, afinal, mais não serão do que perspectiva, ou visão, revolucionária de um fenómeno do passado: a luta contra, pelo e no poder. Assim, à queima roupa, como se Isidore Haiblum estivesse simplesmente a falar da pertinaz responsabilidade do tear a vapor na revolução industrial, quando se refere a um amplificador de poder de mensagens e seus efeitos sobre os destinos da humanidade, tal como o reencaminhar de um significado para outro significado, tendo por símile a metáfora de um e-mail.
Porém, com um discurso deveras iluminado. Mas onde, em cujas iluminuras, figuram sempre a graça e os propósitos da BD – de Bom Demais, ou Banda Desenhada, conforme se quiser e o nível de alfabetização permitir. O que, sem dúvida, o torna aquilo que qualquer livro deve ser: uma intricada mistura de géneros, estilos e marcas (pegadas) narrativas , para gáudio de um só instrumento, de um só trinado, de uma só voz – a do autor – mas para o prazer de todos. Os seus leitores, digo eu!