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Mas limito-me a ler a espera Entre ser e ver-te, assim real Enquanto o coração acelera E entretece o voo original, O retorno ao eterno querer Onde os sonhos e a Quimera Nunca esperam o nosso dizer A fala, a palavra de quem dita Que ser é ver que se acredita. E por esse interregno suposto De quem se sacrifica e imola, Gosto tanto de gostar, qu’o gosto É um éter que me dilui e evola. Joaquim Maria Castanho
Tonho Talego era brigão e berrava lá no Sítio de Casal Parado na minha terra do Tonho Talego, porque ele, sabem Nunca debitou sentenças na televisão e podia berrar E o Sítio era dum brigão, que era ele a sitiar. Às vezes, à tarde, em verões escaldantes, sentava-me Na parede à beira do alcatrão apenas para o ouvir E ele gritava e dizia que havia de a matar, que ela era Uma puta, uma puta!!!, e ela era só a mulher e mãe Dos filhos dele, mas ele não queria saber disso, Queria era o dinheiro dela para beber mais uns copos De branco (jamais conseguiriam que mudasse prò tinto) E poder jogar uma bisca de soldado, e ter motivos Para discutir com outro qualquer E esquecer-se da mulher. À noite, madrugada fora, iria roubar que comer de dia E os donos das hortas sabiam que ele os roubava Mas não queriam saber, nem se importavam, Pelo que Tonho Talego morreu sem nunca ter pedido Nunca ter implorado nada a ninguém. Viveu miserável e só foi ao médico uma vez Em toda a vida, quando foi às sortes, nem estava doente Que só adoecia quem podia naquele tempo. Tinha uma mesinha pra todo o mal, dizia (Comprimidos de virar a mão e vacinas contra o teto) A aguardente bem forte, que o grau é doutoramento E até patente que tudo cura, febre, dor no dente Fraqueza no tino ou estranhamento das ideias. Aos quarenta anos parecia um velho e era velho Até era o mais velho da família dele, porque durara Não muito mais que isso mas também poucos mais havia Assim, tão duradoiros, depois do sol-a-sol e lambugem Chilra pra não perderem a linha e ligeireza. Nunca lhe faltou a foiteza, nunca arrepiou caminho Todavia se nunca torceu não o fez por razão nem certeza Mas por desfastio e teimosia, que quem não sabe pra onde vai Qualquer trajeto é perfeito. Tonho Talego morreu cedo, que agora é que ele havia de ser E sentir-se como peixe na água com que os sapos cantam E as dobradiças enferrujam. E é pena, pois dava-nos jeito O seu jeito de ser, para explicar às crianças Como se não deve ser nem estar e muito menos fazer. Creio até que é por estas ausências que a imaginação, A criatividade, a ficção mais se justifica nestes dias... Joaquim Maria Castanho