Jogos florais Ou o que poderemos, trabalhadores, aprender com as “lutas “inúteis marcadas pelas centrais sindicais portuguesas.
Após muitos anos de dissidência e divisão, as centrais sindicais portuguesas, CGTP-INTERSINDICAL e UGT, resolveram, a primeira convocar e a segunda aderir, uma greve geral pressupostamente para protestar contra os vários PEC’s e as linhas políticas e económicas orientadoras definidas no orçamento para 2011. A CGTP além da greve marcou também uma manifestação de protesto para sábado próximo.
Quando se encetam lutas apenas uma certeza temos: podemos ganhar ou perder. Quando se trata da luta emancipadora da classe trabalhadora, quer na conquista de novos direitos, bem como atualmente, na defesa dos direitos já adquiridos, a possibilidade de derrota é infinitamente maior porque temos contra nós toda a propaganda governamental e ainda toda aquela que o dinheiro capitalista possa comprar. Temos que enfrentar as forças policiais e seus agentes provocadores, como agora na Grécia. Convivemos com o desânimo, falta de esperança e comodismo dos próprios camaradas. Mas sabemos que apesar de remota, temos uma ténue hipótese de vencer. Porque somos solidários, porque temos razão, porque “trazemos um mundo novo nos nossos corações”.
Sabemos bem que tanto estas vitórias ou derrotas são transitórias. Se ganharmos hoje, logo amanhã teremos que estar atentos e alerta porque sabemos que o capital tentará por todos os meios retirar-nos ou restringir os direitos hoje conquistados. Se perdermos, eles que se preparem porque enquanto houver “força no braço que luta seremos muitos seremos alguns”.
Neste contexto, sabemos que só há uma resposta possível, a conquista do poder pela classe trabalhadora e a construção do Socialismo. Apesar dos desvios, traições e golpes baixos que esta longa caminhada já sofreu no passado, ainda é a única resposta alternativa e viável à destruição do capitalismo explorador, terrorista, amoral que na sua voracidade sovina tudo arrasta e contamina degradando todas as dimensões da vida humana.
Até lá resta-nos lutar…
Mas a quem interessam lutas que estão derrotadas à partida? Para que serve a manifestação de sábado próximo e a greve geral de dia 24 se o orçamento, com as medidas castigadoras da classe trabalhadora que se conhecem, já foi aprovado?
Bem poderão encher de gentes as ruas de Lisboa com a manifestação, bem podem parar o país com a greve porque o único ruído que soará, não serão as palavras de ordem dos sindicalistas, mas José Sócrates a assobiar para o ar, talvez um tango não de Carlos Gardel mas daqueles mais rascas das tascas de Buenos Aires, abençoado pelo Espírito Santo.
Então que fazer?
Apesar de constituírem dois atos falhados, tal como os jogos florais promovidos por entidades provincianas, não podemos chamar bem poetas aos concorrentes nem poesia ao produto do seu labor. Mas entretém aqueles que neles participam.
Também estas ações foram convocadas, não com o intuito revolucionário de conseguir dar um pequeno passo na luta pela emancipação dos trabalhadores, mas sim para entretê-los enquanto os capitalistas vão impondo sem obstáculos e a seu belo prazer as suas políticas cada vez mais repressivas, sinónimo da sua própria decadência.
Apesar de tudo isto, defendo que devemos comparecer em massa na manifestação e participar ativamente na greve geral, se possível, constituirmos paquetes de greve que esclareçam os camaradas que optam por não fazer greve e a população que eventualmente será prejudicada pela falda dos nossos serviços e esclarecer a nossa posição que só poderá ser a exigência da revogação de todos os PEC’s bem como o rasgar deste orçamento.
Todas estas reivindicações deveriam ter sido apresentadas pelos dirigentes sindicais, representantes dos trabalhadores há muito tempo. Infelizmente não foi assim.
Pelo que apesar de não passarem de “jogos florais”, estas manifestações poderão ter um efeito de criar e fortalecer laços solidários entre a classe trabalhadora e ao mesmo tempo desmascarar os nossos atuais dirigentes que infelizmente mais não são que agentes do capital infiltrados nas direções sindicais.
Opinião
Jaime Crespo