A Face Oculta de Kennedy
Seymour
M. Hersh
Trad.
Clarisse Tavares
469
Páginas.
Kennedy
era sexista, mulherengo, vingativo, despótico, drogado, arrivista e
(potencialmente) homicida. Fidel Castro, se JFK não tivesse sucumbido no
atentado de Dallas, em 22 de Novembro de 1963, a mais negra sexta-feira
americana, provavelmente ainda hoje estaria (por razões pessoais) sobre a mira
dos “mafiosos” do presidente, que nunca lhe perdoou o fracasso da Baía dos
Porcos/Operação Mangusto. E um homem que, a intervalos regulares de seis horas,
dava a si mesmo injeções, mas que os mass
media transformaram num mito, não só para os seus compatriotas, como também
para uma das partes acinzentadas do mundo a preto e branco dos imperialismos: o
mundo ocidental, tal como o reconhecemos hoje.
Oriundo
de uma família bem instalado no establishment, cujo lema era NÃO SE IRRITEM –
DESFORREM-SE, capazes de tudo para atingirem os seus objetivos, ou de optarem
pelo errado desde que conveniente e lucrativo, viciados em sexo e poder, racistas,
que passaram mais de metade da vida a fazer dinheiro e outro tanto dela a
ocultá-lo (do fisco), inculcaram-lhe na formação e crescimento que, como ele
mais tarde vai admitir, confirmar e executar, a única teoria política prática e
eficaz é a da perseguição da vitória, e que para esta se alcançar apenas são
precisas três coisas fundamentais: a primeira, é dinheiro; a segunda, dinheiro;
e, a terceira, mais dinheiro – que devem temperar-se com a falta de escrúpulos,
quer em consegui-lo, quer em desbaratá-lo, como sempre acrescentava o patriarca
e patrono familiar se a oportunidade se lhe deparava. Pelo que “o mais
duradouro legado de John Kennedy como trigésimo quinto presidente dos Estados
Unidos não foi o mito de Camelot nem a trágica imagem de jovem e simpático
líder, abatido no auge da sua carreira. Foi a guerra do Vietname, uma guerra
que, na década após a sua morte, mataria muitos milhares de jovens que ele
tinha inspirado, deixando ainda muito outros à beira da insurreição.”
Enfim,
um livro que saiu 30 anos atrasado e nos deixa a pensar no poderíamos saber
hoje das políticas e gestos governamentais de Bill Clinton e George W. Bush, se
não tivéssemos que esperar outros tantos anos, até que os podres de ambos
possam vir a lume, ser publicados e públicos, digamos, postos à disposição do
processo histórico em curso, que é onde se avaliam, sem perceções motivadas nem
simpatias corporativistas, as ações dos homens e dos povos sobre o seu tempo e
de como eles contribuíram (ou não) para consolidar o futuro.
Joaquim Castanho