2.18.2013


CONTOS GAUCHESCOS – I

Por  J. Simões Lopes Neto

À memória de meu pai
                   Saudade



Patrício, apresento-lhe Blau, o vaqueano.
– Eu tenho cruzado o nosso Estado em caprichoso ziguezague. Já senti a ardentia das areias desoladas do litoral; já me recreei nas encantadoras ilhas da lagoa Mirim; fatiguei-me na extensão da coxilha de Santana; molhei as mãos no soberbo Uruguai, tive o estremecimento do medo nas ásperas penedias do Caverá; já colhi malmequeres nas planícies do Saicã, oscilei sobre as águas grandes do Ibicuí; palmilhei os quatro ângulos da derrocada fortaleza de Santa Tecla, pousei em S. Gabriel, a forja rebrilhante que tantas espadas valorosas temperou, e, corri pelas paragens magníficas de Tupaceretã[1], o nome doce, que no lábio ingénuo dos caboclos quer dizer os campos onde repousou a mãe de Deus...   
– Saudei a graciosa Santa Maria[2], fagueira e tranquila na encosta serra, emergindo do verde-negro da montanha copada o casario, branco, como um fantástico algodoal em explosão de casulos.
– Subi aos extremos do Passo Fundo, deambulei para os cumes da Lagoa Vermelha, retrovim para a merencórdia Soledade, flor do deserto, alma risonha no silêncio dos ecos do mundo; cortei um formigueiro humano na zona colonial.
– Da digressão longa e demorada, feita em etapas de datas diferentes, estes olhos trazem ainda a impressão vivaz e maravilhosa da grandeza, da uberdade, da hospitalidade.
– Vi a colmeia e o curral; vi o pomar e o rebanho, vi a seara e as manufaturas; vi a serra, os rios, a campina e as cidades; e dos rostos e das auroras, de pássaros e de crianças, dos sulcos do arado, das águas e de tudo, estes olhos, pobres olhos condenados à morte, ao desaparecimento, guardarão na retina até o último milésimo de luz, a impressão da visão sublimada e consoladora: e o coração, quando faltar ao ritmo, arfará num último esto para que a raça que se está formando, aquilate, ame e glorifique os lugares e os homens dos nossos tempos heróicos, pela integração da Pátria comum, agora abençoada na paz.
E, por circunstâncias de caráter pessoal, decorrentes da amizade e da confiança, sucedeu que foi meu constante guia e segundo o benquisto tapejara Blau Nunes, desempenado arcabouço de oitenta e oito anos, todos os dentes, vista aguda e ouvido fino, mantendo o seu aprumo de furriel da farroupilha, que foi, de Bento Gonçalves, e de marinheiro improvisado, em que deu baixa, ferido, de Tamandaré.
Fazia-me ele a impressão de um perene tarumã verdejante, rijo para o machado e para o raio, e abrigando dentro do tronco cernoso enxames de abelhas, nos galhos ninhos de pombas...
Genuíno tipo – crioulo – riograndense (hoje tão modificado), era Blau o guasca sadio, a um tempo leal e ingénuo, impulsivo na alegria e na temeridade, precavido, perspicaz, sóbrio e infatigável; e dotado de uma memória de rara nitidez brilhando através de imaginosa e encantadora loquacidade servida e floreada pelo vivo e pitoresco dialeto gauchesco.
E, do trotar sobre tantíssimos rumos; das pousadas pelas estâncias; dos fogões a que se aqueceu; dos ranchos em que cantou, dos povoados que atravessou; das coisas que ele compreendia e das que eram-lhe vedadas ao singelo entendimento; do pêlo-a-pêlo[3] com os homens, das erosões da morte e das eclosões da vida, entre o Blau – moço militar – e o Blau – velho, paisano –, ficou estendida uma longa estrada semeada de recordações – casos, dizia –, que de vez em quando o vaqueano recontava, como quem estende ao sol, para arejar, roupas guardadas no fundo de uma arca.
Querido digno velho!
Saudoso Blau!

Patrício, escuta-o.



TREZENTAS ONÇAS

– Eu tropeava[4], nesse tempo. Duma feita que viajava de escoteiro, com a guaiaca empanzinada de onças de ouro, vim parar aqui neste mesmo passo, por me ficar mais perto da estância da Coronilha, onde devia pousar.
Parece que foi ontem!... Era por fevereiro; eu vinha abombado[5] da troteada.
– Olhe, ali, na restinga, à sombra daquela mesma reboleira de mato, que está nos vendo, na beira do passo, desencilhei; e estendido nos pelegos, a cabeça no lombilho, com o chapéu sobre os olhos, fiz uma sesteada morruda.
Despertando, ouvindo o ruído manso da água tão limpa e tão fresca rolando sobre o pedregulho, tive ganas de me banhar; até para quebrar a lombeira... e fui-me à água que nem capincho[6]!
Debaixo da barranca havia um fundão onde mergulhei umas quantas vezes; e sempre puxei umas braçadas, poucas, porque não tinha cancha para um bom nado.
E solito e no silêncio, tornei a vestir-me, encilhei o zaino e montei.
Daquela vereda andei como três léguas, chegando à estância cedo ainda, obra assim de braça e meia de sol.
– Ah!... esqueci de dizer-lhe que andava comigo um cachorrinho brasino, um cusco[7] muito esperto e boa vigia. Era das crianças, mas às vezes dava-lhe para acompanhar-me, e depois de sair a porteira, nem por nada fazia cara-volta, a não ser comigo. E nas viagens dormia sempre ao meu lado, sobre a ponta da carona, na cabeceira dos arreios.
Por sinal que uma noite...
Mas isso é outra coisa; vamos ao caso.
Durante a troteada bem reparei que volta e meia o cusco parava-se na estrada e latia e corria para trás, olhava-me, olhava-me, e latia de novo e troteava um pouco sobre o rastro; – parecia que o bichinho estava me chamando!... Mas como eu ia, ele tornava a alcançar-me, para daí a pouco recomeçar.
– Pois, amigo! Não lhe conto nada! Quando botei o pé em terra na ramada da estância, ao tempo que dava – as boas-tardes! – ao dono da casa, aguentei um tirão seco no coração... Não senti na cintura o peso da guaiaca!
Tinha perdido trezentas onças de ouro que levava, para pagamento dos gados que ia levantar.
E logo passou-me pelos olhos um clarão de cegar, depois de uns coriscos tirante a roxo... depois de tudo me ficou cinzento, para escuro...
Eu era mui pobre – e ainda hoje, é como vancê sabe... –; estava começando a vida, e o dinheiro era do meu patrão, um charqueador[8], sujeito de contas mui limpas e brabo como uma manga de pedras...
Assim, de meio assombrado me fui repondo quando ouvi que indagavam:
– Então patrício? Está doente?
– Obrigado! Não senhor, respondi, não é doença; é que sucedeu-me uma desgraça: perdi uma dinheirama do meu patrão...
– A[9] la fresca!...
– É verdade... antes morresse, que isto! Que vai ele agora pensar de mim!...
– É uma dos diabos, é... ; mas não se acoquine[10], homem!
Nisto o cusco brasino[11] deu uns pulos ao focinho do cavalo, como querendo lambê-lo, e logo correu para a estrada, aos latidos. E olhava-me, e vinha e ia, e tornava a latir...

Ah!... E num repente lembrei-me de tudo. Parecia que estava vendo o lugar da sesteada, o banho, a arrumação das roupas nuns galhos de sarandi. E, em cima de uma pedra, a guaiaca e por cima dela o cinta das armas, e até uma ponta de cigarro de que tirei uma tragada, antes de entrar na água, e que deixei espetada num espinho, ainda fumegando, soltando uma fitinha de fumaça azul, que subia, fininha e direita, no ar sem vento...; tudo, vi tudo.
Estava lá, na beirada do passo, a guaiaca. E o remédio era um só: tocar a meia rédea, antes que outros andantes passassem. 
Num vu[12] estava a cavalo; e mal isto, o cachorrito pegou a retouçar, numa alegria, ganindo – Deus me perdoe! – que até parecia fala!
E dei de rédea, dobrando o cotovelo do cercado.
Ali logo frenteei com uma comitiva de tropeiros, com grande cavalhada por diante, e que por certo vinha tomar pouso na estância. Na cruzada nos tocamos todos na aba do sombreiro; uns quantos vinham de balandrau[13] enfiado. Sempre me deu uma coraçonada para fazer umas perguntas... mas engoli a língua.
Amaguei[14] o corpo e penicando as esporas, toquei a galope largo.
O cachorrinho ia ganiçando, ao lado, na sombra do cavalo.


A estrada estendia-se deserta; à esquerda os campos desdobravam-se a perder de vista, serenos, verdes, clareados pela luz macia do sol morrente, manchados de pontas de gado que iam se arrolhando nos paradouros da noite; à direita, o sol muito baixo, vermelho-dourado, entrando em massa de nuvens de beiradas luminosos.
Nos atoleiros, secos, nem um quero-quero: uma que outra perdiz, sorrateira, piava de manso por entre os pastos maduros; e longe, entre o resto de luz que fugia de um lado e a noite que vinha, peneirada, do outro, alvejava a brancura de um joão-grande, voando, sereno, quase sem mover as asas, como numa despedida triste, em que a gente também não sacode os braços...
Foi caindo uma aragem fresca; e um silêncio grande em tudo.
O zaino era um piganço de lei; e o cachorrinho, agora sossegado, meio de banda, de língua de fora e de rabo em pé, troteava miúdo e ligeiro dentro da polvadeira rasteira que as patas do flete[15] levantavam.
E entrou o sol; ficou nas alturas um clarão afogueado, como de incêndio num pajonal[16]; depois o lusco-fusco; depois, cerrou noite escura; depois, no céu, só estrelas... só estrelas...

O zaino atirava o freio e gemia no compasso do galope, comendo caminho. Bem por cima da minha cabeça as Três-Marias tão bonitas, tão vivas, tão alinhadas, pareciam me acompanhar... Lembrei-me dos meus filhinhos, que as estavam vendo, talvez; lembrei-me de minha mãe, de meu pai, que também as viram, quando eram crianças e que já as conheceram pelo nome de Marias, as Três Marias. – Amigo! Vancê é moço, passa a sua vida rindo... Deus o conserve!... Sem saber nunca como é pesada a tristeza dos campos quando o coração pena!...
– Há que tempos eu não chorava!... Pois me vieram lágrimas..., devagarinho, como gateando, subiram... tremiam sobre as pestanas, luziam um tempinho... e ainda quentes, no arranco do galope lá caiam elas na polvadeira da estrada, como um pingo d'água perdido, que nem mosca nem formiga daria com ele!...
Por entre as minhas lágrimas, como um sol cortando um chuvisqueiro, passou-me na lembrança a toada dum verso lá dos meus pagos[17]:

                                             Quem canta refresca a alma,
                                             Cantar adoça o sofrer;
                                             Quem canta zomba da morte:
                                             Cantar ajuda a viver!...

Mas que cantar, podia eu!...
O zaino respirou forte e sentou, trocando a orelha, farejando no escuro: o bagual[18] tinha reconhecido o lugar, estava no passo.
Senti o cachorrinho respirando, como assoleado. Apeei-me.
Não bulia uma folha; o silêncio, nas sombras do arvoredo, metia respeito... que medo, não, que não entra no peito de gaúcho.

Embaixo, o rumor da água pipocando sobre o pedregulho; vaga-lumes retouçando no escuro. Desci, dei com o lugar onde havia estado; tenteei os galhos do sarandi; achei a pedra onde tinha posto a guaiaca e as armas; corri as mãos por todos os lados, mais para lá, mais para cá...; nada! Nada!...
Então, senti frio dentro da alma... o meu patrão ia dizer que eu o havia roubado!... roubado!... Pois então eu ia lá perder as onças!... Qual! Ladrão, ladrão, é que era!...
E logo uma tenção ruim entrou-me nos miolos: eu devia matar-me, para não sofrer a vergonha daquela suposição.
É; era o que eu devia fazer: matar-me... e já, aqui mesmo!
Tirei a pistola do cinto; armatilhei o gatilho... benzi-me, e encostei no ouvido o cano, grosso e frio, carregado de bala...

– Ah! patrício! Deus existe!...
No refilão daquele tormento, olhei para diante e vi... as Três-Marias luzindo na água... o cusco encarapitado na pedra, ao meu lado, estava me lambendo a mão... e logo, logo, o zaino relinchou lá em cima, na barranca do riacho, ao mesmíssimo tempo que a cantoria alegre de um grilo retinia ali perto, num oco de pau!... – Patrício! Não me avexo de uma heresia; mas era Deus que estava no luzimento daquelas estrelas, era ele que mandava aqueles bichos brutos arredarem de mim a má tenção...
O cachorrinho fiel lembrou-me a amizade da minha gente; o meu cavalo lembrou-me a liberdade, o trabalho, e aquele grilo cantador trouxe a esperança...
Eh-pucha! Patrício, eu sou mui rude... a gente vê caras, não vê corações...; pois o meu, dentro do peito, naquela hora, estava como um espinilho[19] ao sol, num descampado, no pino do meio-dia: era luz de Deus por todos os lados!...
E já todo no meu sossego de homem, meti a pistola no cinto. Fechei um baio, bati o isqueiro e comecei a pitar.

E fui pensando. Tinha, por minha culpa, exclusivamente por minha culpa, tinha perdido as trezentas onças, uma fortuna para mim. Não sabia como explicar o sucedido, comigo, acostumado a bem cuidar das coisas. Agora... era vender um campito, a ponta de gado manso – tirando umas leiteiras para as crianças e a junta de jaguanés[20] lavradores – vender a tropilha[21] dos colorados... e pronto! Isso havia de chegar, folgado; e caso mermasse[22] a conta... enfim, havia se ver o jeito a dar... Porém matar-se um homem, assim no mais... e chefe de família... isso, não!
E d'espacito[23] vim subindo a barranca; assim que me sentiu o zaino escarceou, mastigando o freio.
Desmaneei-o[24], apresilhei o cabresto; o pingo[25] agarrou a volta e eu montei, aliviado.
O cusco escaramuçou, contente; a trote e galope voltei para a estância.
Ao dobrar a esquina do cercado enxerguei luz na casa; a cachorrada saiu logo, acuando. O zaino relinchou alegremente, sentindo os companheiros; do potreiro outros relinchos vieram.
Apeei-me no galpão, arrumei as garras e soltei o pingo, que se rebolcou com ganas.
Então fui para dentro: na porta dei o – Louvado seja Jesu-Cristo; boa-noite! – e entrei, e comigo, rente, o cusco. Na sala do estancieiro havia uns quantos paisanos; era a comitiva que chegava quando eu saia; corria o amargo.

Em cima da mesa a chaleira, e ao lado dela, enroscada, como uma jararaca na ressolana[26], estava a minha guaiaca, barriguda, por certo com trezentas onças, dentro.
– Louvado seja Jesu-Cristo, patrício! Boa-noite! Entonces, que tal foi o susto?...
E houve uma risada grande de gente boa.
Eu também fiquei rindo, olhando para a guaiaca e para o guaipeva[27], arrolhadito aos meus pés...  



[1] TUPACERETÃ – Município em cuja parte oriental, entre os arroios Caixa-d'Água e Caneleira, fica a cidade com o mesmo nome. [Tupaceretã é a forma tradicional, oficialmente substituída por Tupanciretã. Teodoro Sampaio em seu Tupi na Geografia Nacional, consigna Tupanceretã, "a terra da mãe de Deus, o património de Nossa senhora".]
[2] SANTA MARIA –  Cidade da região central do município do mesmo nome, entre cabeceiras do arroio Cadena.
[3] PÊLO-A-PÊLO – Lidar contínuo e duro; trato ininterrupto e rude. [Não dicionarizado. Prende-se à expressão viajar (ou andar) de pêlo a pêlo = sem mudar de cavalo, por longa que seja a viagem.]
[4] TROPEIRO – Aquele que conduz tropa, isto é, rebanho de gado vacum ou cavalar.
[5] ABOMBADO – Impossibilitado de continuar viagem por cansaço devido ao calor (diz-se do cavalo); esfalfado, exausto, arquejante (diz-se do animal e por extensão da pessoa). Termo também usual em S. Paulo.
[6] CAPINCHO – O macho da capivara; ou o filhote macho da capivara.
[7] CUSCO – Cão pequeno, de raça ordinária.
[8] Charqueador, produtor e comerciante de charque, ou carne de vaca seca, salgada e comprimida em mantas. 
[9] A la fresca – expressão de espanto, surpresa ou descrença. 
[10] ACOQUINE -- de acoquinhar, ou inquietar, amofinar, amedrontar, assustar, importunar, aborrecer. 
[11] BRASINO – Diz-se do animal, bovino ou cão, que tem pelo vermelho com listas pretas ou quase pretas.
[12] NUM VU – Num vá, num vupe, num ápice.
[13] BALANDRAU – Nome dado ao poncho de pala, ou pala simplesmente, o qual tem no meio, como a opa, uma abertura por onde é enfiado o pescoço. 
[14] AMAGUEI – De AMAGAR, isto é, levar (o corpo) para a frente, quando a cavalo, a fim de dar impulso ao animal.
[15] FLETE – Cavalo bom, árdego, de bela aparência.
[16] PAJONAL – Terreno coberto de palha-brava, santa-fé e outras gramíneas.
[17] PAGOS – Lugar onde se nasceu, o rincão, a querência, o povoado, o município de onde se é natural ou onde se reside.
[18] BAGUAL – Potro recém-domado, cavalo novo, arisco, espantadiço, grosseiro, rústico, e muito grande.
[19] ESPINILHO – Acácia de flor amarela.
[20] JAGUANÉ – Diz-se de, ou animal vacum que tem o fio do lombo e o ventre brancos, e os lados de cor preta ou avermelhada.
[21] TROPILHA – Certo número de cavalos de pelo igual, que geralmente acompanham uma égua-madrinha.
[22] MERMAR – Diminuir de peso, valor, quantidade, velocidade, etc.; diminuir, minguar.
[23] D'ESPACITO – Devagar, pouco a pouco, de espacito.
[24] DESMANEAR – Tirar a meneia (peça formada por dois pedaços de couro ligados por uma argola e com a qual as patas ao cavalo, similar às peias). 
[25] PINGO – Cavalo bom, vistoso, árdego.
[26] RESSOLANA – Soalheira forte, soalheira.
[27] GUAIPEVA – Cusco, também designado guapeca ou guaipé. 

La vida es un tango y el que no baila es un tonto

La vida es un tango y el que no baila es un tonto
Dos calhaus da memória ao empedernido dos tempos

Onde a liquidez da água livre

Onde a liquidez da água livre
Também pode alcançar o céu

Arquivo do blogue

Acerca de mim

A minha foto
Escribalistas é órgão de comunicação oficial de Joaquim Maria Castanho, mentor do escribalismo português