crónica
da semana
NÃO
SE FAZEM OMELETES SEM OVOS
Se defendemos um desenvolvimento que
promova a afirmação das potencialidades criativas e intelectuais do ser humano,
em declarada harmonia com o meio social e ambiente, então temos a obrigação de
pugnar por um ensino que valorize as qualidades pessoais de cada um, e de cada
uma, no sentido de lhes reforçar o equilíbrio físico, material e psíquico, bem
como a autonomia, a responsabilidade, consciência cívica e emancipação
basilares, e essenciais, ao desempenho dos seus direitos de cidadania e
participação democrática.
Portanto, “laurear” os bons alunos e
as boas alunas pelos excelentes resultados que obtiveram nas suas licenciaturas
ou mestrados, não significa sancionar ou menosprezar os que não conseguiram
alcançar semelhantes níveis, mas antes sugerir-lhes que não devem acomodar-se a
eles, conformar-se com a mediania, pois é sempre possível atingir melhores
resultados, aperfeiçoar as suas performances cognitivas, e práticas, tal como
alguns e algumas fizeram, e lhes trouxe reconhecido mérito e correspondente
bolsa com isso. Clarificar-lhes o acesso a mais cidadania e possibilidades de
participação na (e da) sociedade. No ambiente. E na qualidade de vida.
Pelo que, embora com anos de atraso,
importa registar a notável valia da iniciativa do IPP – Instituto Politécnico
de Portalegre – em atribuir diploma e bolsa por mérito aos cinco melhores
alunos de 2011/2012, no passado dia 06 (e a saber: Cristina Mira Luís –
Educação Básica; Andreia Pereira – Produção Enológica; Anette Reintjes –
Enfermagem Veterinária; João Löbe Guimarães – Jornalismo; e Joana Reis, de
Higiene Oral), conforme noticia o semanário Alto Alentejo de 13.05.2015, pág.
5, e só lamentamos o facto de terem sido apenas cinco, e não vinte ou trinta
como seria o ideal, porque tal significaria terem existido outros tantos alunos
e alunas a preencher os critérios estipulados pelo ministério, em outros tantos
cursos que o estabelecimento de ensino em causa ministraria com reconhecido
sucesso e serventia social. Principalmente porque premiar os melhores é
contribuir para melhorar a média dos demais, bem como apetrechar as comunidades
onde estes alunos e estas alunas estão inseridos, e inseridas, com
potencialidades/ferramentas significativas para o seu desenvolvimento social,
humano, ambiental e económico.
Sobretudo se lhe abrirem as portas
para que ponham em prática (profissionalmente) o seu aprendizado, em vez de lhe
invejarem o valor da bolsa que, por mais dois ou três tantos que fosse, nunca
lhes pagariam o investimento em propinas e tempo, estudo e dedicação, que
despenderam para consegui-las, ou de os exportarem para países estrangeiros
como ultimamente tem acontecido, pois que esse sim seria um diploma de verdade
e uma bolsa efetiva que lhes proporcionavam, e nos contemplaria também com uma
autêntica valia favorecendo a intervenção ativa dos cidadãos e cidadãs, nas
suas mais diversas formas de organização e autonomia, em prol do
desenvolvimento, que tanta falta nos faz, numa capital de distrito a braços com
a crescente desertificação, elevado envelhecimento populacional, fraca
empregabilidade e incipiente tecido empresarial, baixo rendimento per capita e incaraterística
contribuição para o PIB Regional.
Porque essas é que devem ser as
grandes preocupações das mesas de café e órgãos de comunicação do mesquinho
burgo, onde o «que bom pra eles» vigora ainda sentenciando, porquanto são estas
questões as que podem moldar o nosso presente e o nosso futuro, e que devem
deixar o recatado remanso dos gabinetes da superficialidade do establishment
político e administrativo, para vir a terreiro e em celebração de mais um Dia
da Cidade onde se homenageia e elogia toda uma panóplia de inutilidades e
insignificâncias como se fazia no tempo da outra senhora a quem "o
botas" pôs a casa, e telefonia, para poder escutar os Serões Para
Trabalhadores ou estanciar nos “equipamentos turísticos” da FNAT. Porque ainda
não há ovo em pó que dê para fazer uma açorda de jeito, nem omelete comestível,
por melhor que ele sirva qualquer doçaria… Ou há?!