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4.29.2004
RETRATO DE UM HOMEM EM CORPO INTEIRO
JOSÉ MARTINS DOS SANTOS CONDE
CORAGEM!
“É preciso vencer a angústia e os medos, para
recuperar a coragem de viver e, sobretudo,
de viver um projecto de qualidade.”
In AS CHAVES DA VIDA
Homem que pautou toda a sua vida por princípios e valores, cujas ideias-sentimento (resumidas por si mesmo em nove, e a saber: calma, paz, alegria, coragem, compreensão, solidariedade, justiça, integração e amor universal), chaves de conduta intelectual e moral que sem dúvida lhe vincaram inclusive a actividade de professor (norteada por três preocupações maiores: 1 - fazer o acompanhamento assíduo das turmas, nunca tendo excedido o número de três faltas por ano lectivo; 2 - perspectivar a História numa permanente ligação com o mundo actual; 3 - aprender a História fazendo-a, levando sempre os seus alunos a apreciar o contacto com as fontes), de autor e de cidadão, nasceu a 6 de Julho de 1934, na aldeia de Santa Madalena, freguesia de Vila Fernando, concelho e distrito da Guarda, e faleceu em Portalegre, na sua residência, em 16 de Agosto de 2003, José Martins dos Santos Conde, além de nos legar uma obra vasta e variada, abrangendo desde a poesia ao ensaio, passando pela monografia e artigos avulsos, contribuiu também com o seu exemplo e dedicação aos outros e à sociedade para a revolução ética e necessária do nosso dia a dia, sublinhando como a vida é um tirocínio perfeito onde aprender é mudar, talvez em excelsa demonstração daquilo que sempre foram as suas principais características: flexibilidade de espírito e ambientação imediata.
Humanista, filósofo, frade, teólogo, historiador, docente, tradutor, jornalista, poeta, chefe de família, companheiro e amigo, indivíduo enraizado no meio mas igualmente cidadão do mundo, cujo pensamento eivado de influências diversas, como culturalmente universais, caso das perspectivas existenciais de Satre, como budistas, cristãs e ameríndias, raiando as essências profundas desde o Ioga e Lao-Tsé até à imagética de Florbela Espanca ou Vergilio Ferreira, revelando um ecletismo apurado e exigente, todavia simultaneamente tolerante e apoiado na moral científica, consciente da problemática regional, jamais deixou de registar, divulgar e descodificar os valores da nossa região em pessoas e coisas, de fazer o levantamento de conflitos ou situações, de procurar dar-lhe uma explicação ou resposta, bem como de partilhar informação objectiva, interessante e peculiar acerca dela, tentando fintar o destino ao provincianismo paupérrimo e desolador que nos acomete desde os tempos imemoriais.
Senhor de DUAS VIDAS que abriu e fechou com as chaves da determinação, pensamento e moral insuspeitáveis, depois de ter palmilhado as veredas da formação mística, cursado humanidades e teologias (Seminário de Vila Nova de Gaia – de 1946 a 1952; Seminário Maior de S. Alfonso, em Valhadolid/Espanha – entre 1952 e 1960, onde fez “profissão perpétua” como frade redentorista; Institut Catholique de Paris – em 1967), sofrido os tormentos da repressão vocacional num esgotamento nervoso com 14 anos de tratamento adiado, que transformaram um jovem líder libertário amante de poesia, literatura e música, discípulo de Guerra Junqueiro e Gomes Leal, num borrego dócil e cabisbaixo que seguia atrás do rebanho politicamente correcto, cuja tortura o levou até a leccionar Português e Latim no Seminário de Vila Nova de Gaia onde começara os estudos, mas também a aproximar-se de Portalegre, via Castelo Branco, onde no seminário local leccionou Filosofia Antiga, Literatura e Arte (de 1964/67) e aprendeu Ioga, que o ajudou a recuperar a autoestima, confiança e gosto pela vida real, pontos de partida fundamentais que inspiraram a lutar pela autenticidade e estabelecer contacto (carta e telefone) com Angelina Pires de Sousa Gomes, natural de Portalegre, enamorando-se, e com a qual veio a contrair matrimónio em 22 de Setembro de 1968 (na Igreja e S. Lourenço, com copo de água no Café-Restaurante Amaia), renascendo assim outro mas bastante mais próximo da sua vocação primária, posto que é partir de então que se licencia em História (Universidade de Coimbra, 1979), conclui o curso de pós-graduação de História Cultural e Política (Universidade Nova de Lisboa, 1992) ou defende a tese de mestrado (1995), cria família própria (três filhos: Paulo, José e Ana Raquel) e inicia a sua carreira literária, publicando primeiramente O Ensino Primário no Distrito de Portalegre (1983 – edição da Assembleia Distrital de Portalegre, em colaboração com Dionísio Cebola, Director Escolar do Distrito de Portalegre), a que se seguiram Rostos e Gostos do Norte Alentejano (publicado em vários semanários, desde 1983), Escritores do Distrito e Portalegre (publicado no jornal Fonte Nova, desde 1984), Luís Gomes – Perfil e Obras de Um Portalegrense (edição de O Semeador, em 1985), Diálogos do Fim de Século (publicado no jornal Notícias de Elvas, desde 1987) António Silvestre, Artista em Ponte de Sor (Folheto comemorativo, Ponte de Sor, em 1987), Festa dos Aventais – Festa Popular, Regionalista, Republicana e Laica (edição da ESSL – Escola Secundária de S. Lourenço, em 1987), Teatro de Portalegre (edição do autor, em1987), Um Minuto de Olhos Fechados (poemas publicados no Notícias de Elvas, desde 1987), José Maria Grande – Figura Nacional do Liberalismo (Edições Colibri, em 1998), Luzia, o Eça de Queiroz de Saias (edição do autor, em 1990), As Chaves da Vida (publicado pela ESSE – Artes Gráficas, Lda, Lisboa, em 2002), Duas Vidas – Poemas (conjunto de versos de 1962 a 1999, editado por Produções Gráficas UNP, Lda, Lisboa, em 2003, cujo lançamento acontecerá durante as Festas da Cidade, com apresentação/leitura de Joelle Ghazarian e Júlio Henriques, e espectáculo de Ana Raquel Conde, numa performance de interactividade multidisciplinar de música, som, vídeo, gestos, movimento e palavras) e, para publicação, Beatriz Emília Rente – Glória de Portalegre nos Palcos Nacionais (rubrica inserida na revista Miradouro, mas que, segundo vontade expressa do autor, só será publicado em livro se a Câmara Municipal de Portalegre tomar a seu cargo iniciativa e custos, o que caso contrário nunca acontecerá), Instantâneos (com publicação prevista para este ano, espécie de fragmentos que retratam o alter-ego do autor, repartindo-o por momentos, situações e relatos avulso) ou Pronomes (Marvão – 2002, conjunto de quadros burlesco-satíricos, onde se descrevem com ironia e graça algumas figuras típicas do quotidiano português).
Se enquanto colaborador de diversos títulos da imprensa regional – colaborou na revista Miriam (de índole teológica, entre 1960 e 1967), nos jornais Fonte Nova (de 1984 a 1988), O Distrito de Portalegre (e 1985 a 1989), Notícias de Elvas (1987 a 1989), O Arraiano (de Elvas, em 1990), e na revista cultural portalegrense Miradouro, em 1989, ou como tradutor (traduziu do italiano, francês e castelhano cinco livros de divulgação teológica, publicados em 1969/70) – a sua atitude não foi a de profundo empenhamento, já enquanto professor se não pode dizer o mesmo, posto que no campo profissional excedeu sobremaneira as exigências do ensino, quer no sector privado, onde leccionou Língua e Literatura Portuguesa (nomeadamente no Seminário de Cristo Rei – Vila Nova de Gaia, Colégio La Salle – Abrantes, Colégio Municipal de Serpa Pinto – Angola, e Salas de Estudo “Renascença”, do qual foi também director em 1970/72, entre 1960 e 1972), quer no ensino oficial, que marcou multidisciplinarmente, onde ingressou em 1972 para leccionar Português e Latim em Malange, Benguela, Bailundo e Batalha, até 1977, e a partir daí como professor de História (Escolas Secundárias de S. Lourenço e Mouzinho da Silveira - ESMS, em Portalegre, e D. Dinis, em Lisboa), não se limitando contudo a ministrar conhecimentos mas sim também a participar activamente em Conselhos Directivos (Escolas Secundárias de Vila Teixeira da Silva e ESMS – 1974/75 e 1978/9, respectivamente), ora fazendo estágios (Estágio do 10º Grupo A, na Escola Secundária D. Dinis, em Lisboa, em 1979/80), ora enquanto orientador de estágio (zona sete, distritos do Alentejo, em 1984/85 e 1985/86), ora como director de turmas ou delegado de grupo (p.e. na ESMS, durante os anos lectivos de 198/81, 1981/82 e 1982/83, e na ESSL, em 1986/87 e 1987/88), bibliotecário (ESSL, nos anos lectivos de 1986/87, 1987/88, 1990/91 e 1991/92), professor de Português e Mundo Actual (Centro de Formação Profissional do Instituto do Emprego), planificador de visitas de estudo nacionais e internacionais, assim como definiu e orientou actividades de pesquisa em bibliotecas e arquivos.
Adepto do riso vital e da ironia mansa, jocosa, apaixonada de prazer e de alegria, consciente da sua pequenez na imensidade do Universo, mas também da importância que tem para o seu equilíbrio o tudo está relacionado com tudo, os elementos naturais e as pequenas coisas e seres, despojado de egoísmo messiânico fundamental, embora cada um dos seus livros possua valor intrínseco e interesse pontual, é em Luís Gomes – Perfil e Obra de um Portalegrense, Chaves da Vida e Duas Vidas que melhor se notam a pujança discursiva e acutilante de um espírito universal e convicto do papel reservado ao homem no planeta e o deste para a humanidade e vida. Desencantado mas lúcido, tranquilo, fluente, mas igualmente rigoroso e objectivo, o seu discurso espelha a determinação, segurança e coragem de uma pessoa habituada a encontrar-se consigo mesmo sem subterfúgios nem esquizofrenias. Ali, onde no olhar de quem se reinventou quotodianamente entre a moral e a ética, entre o pedagogo e o chefe de família, entre o historiador e o poeta, entre o passado e o (então) presente, entre o religioso e o social, com que sublinhou figuras esquecidas que se empenharam na prossecução do bem público com capacidade de entrega ao trabalho e ao dever, na defesa intransigente dos valores em que acreditavam (José Maria Grande – Figura Nacional do Liberalismo) ou personagens primeiríssimas no panorama das literaturas femininas europeias, enaltecendo-lhe a sensibilidade profunda e vibrátil, destruindo preconceitos e restabelecendo a verdade que circunscreveu Luzia, o Eça de Queiroz de Saias, ou ainda assentando a importância histórica dos tradicionais festejos dos caixeiros no Dia da Espiga (A Festa dos Aventais – Festa Popular, Regionalista, Republicana e Laica), bem como tecendo a panorâmica da actividade dramática em Portalegre através dos tempos (Teatro em Portalegre), cresceu uma personalidade exemplar e um cidadão modelo. Porque quem como ele soube o que é a fraternidade universal, reconheceu que a solidariedade significa estar com os outros, pagar a sua parte de obrigação ou de soldo, navegar no mesmo barco e prosseguir a mesma viagem, em igualdade de circunstâncias e sentimentos, se edificou no sacrifício e abdicação, retirando das horas amargas lições de luta, franqueza e galhardia, e enfrentou com riso e temperança os dissabores com que a mediocridade adversa bastas vezes lhe foi atreita, como no caso do concurso ao Ensino Superior Politécnico, em que foi preterido em favor de um estagiário sem a mínima prova dada, e denunciou apropriações autorais (soneto de Luís Gomes reciclado por José Régio, in Fonte Nova nº 31, de 29 de Maio de 1985), e jamais deixou de crer na democracia e liberdade, nem de ser firme na salvaguarda da vida, como valor essencial do Universo, de proteger os animais (v. g. os cães Becas e Pixy) e a natureza da inconsciência e do terrorismo humano, guardar o património artístico e histórico da humanidade, apoiar os criadores da beleza, pugnar pelo aumento de paz, justiça e verdade n mundo... Enfim, um homem que sempre esteve à altura da sua nobreza, e que até no leito de morte soube legar aos que lhe sobreviveram o melhor da sua existência, incutindo-lhes esperança numa última e derradeira palavra: «coragem!» - tal e qual como lhes disse. Coragem, de coração, praticando com os seus aquilo que a muitos ensinou!
Joaquim Castanho
JOSÉ MARTINS DOS SANTOS CONDE
CORAGEM!
“É preciso vencer a angústia e os medos, para
recuperar a coragem de viver e, sobretudo,
de viver um projecto de qualidade.”
In AS CHAVES DA VIDA
Homem que pautou toda a sua vida por princípios e valores, cujas ideias-sentimento (resumidas por si mesmo em nove, e a saber: calma, paz, alegria, coragem, compreensão, solidariedade, justiça, integração e amor universal), chaves de conduta intelectual e moral que sem dúvida lhe vincaram inclusive a actividade de professor (norteada por três preocupações maiores: 1 - fazer o acompanhamento assíduo das turmas, nunca tendo excedido o número de três faltas por ano lectivo; 2 - perspectivar a História numa permanente ligação com o mundo actual; 3 - aprender a História fazendo-a, levando sempre os seus alunos a apreciar o contacto com as fontes), de autor e de cidadão, nasceu a 6 de Julho de 1934, na aldeia de Santa Madalena, freguesia de Vila Fernando, concelho e distrito da Guarda, e faleceu em Portalegre, na sua residência, em 16 de Agosto de 2003, José Martins dos Santos Conde, além de nos legar uma obra vasta e variada, abrangendo desde a poesia ao ensaio, passando pela monografia e artigos avulsos, contribuiu também com o seu exemplo e dedicação aos outros e à sociedade para a revolução ética e necessária do nosso dia a dia, sublinhando como a vida é um tirocínio perfeito onde aprender é mudar, talvez em excelsa demonstração daquilo que sempre foram as suas principais características: flexibilidade de espírito e ambientação imediata.
Humanista, filósofo, frade, teólogo, historiador, docente, tradutor, jornalista, poeta, chefe de família, companheiro e amigo, indivíduo enraizado no meio mas igualmente cidadão do mundo, cujo pensamento eivado de influências diversas, como culturalmente universais, caso das perspectivas existenciais de Satre, como budistas, cristãs e ameríndias, raiando as essências profundas desde o Ioga e Lao-Tsé até à imagética de Florbela Espanca ou Vergilio Ferreira, revelando um ecletismo apurado e exigente, todavia simultaneamente tolerante e apoiado na moral científica, consciente da problemática regional, jamais deixou de registar, divulgar e descodificar os valores da nossa região em pessoas e coisas, de fazer o levantamento de conflitos ou situações, de procurar dar-lhe uma explicação ou resposta, bem como de partilhar informação objectiva, interessante e peculiar acerca dela, tentando fintar o destino ao provincianismo paupérrimo e desolador que nos acomete desde os tempos imemoriais.
Senhor de DUAS VIDAS que abriu e fechou com as chaves da determinação, pensamento e moral insuspeitáveis, depois de ter palmilhado as veredas da formação mística, cursado humanidades e teologias (Seminário de Vila Nova de Gaia – de 1946 a 1952; Seminário Maior de S. Alfonso, em Valhadolid/Espanha – entre 1952 e 1960, onde fez “profissão perpétua” como frade redentorista; Institut Catholique de Paris – em 1967), sofrido os tormentos da repressão vocacional num esgotamento nervoso com 14 anos de tratamento adiado, que transformaram um jovem líder libertário amante de poesia, literatura e música, discípulo de Guerra Junqueiro e Gomes Leal, num borrego dócil e cabisbaixo que seguia atrás do rebanho politicamente correcto, cuja tortura o levou até a leccionar Português e Latim no Seminário de Vila Nova de Gaia onde começara os estudos, mas também a aproximar-se de Portalegre, via Castelo Branco, onde no seminário local leccionou Filosofia Antiga, Literatura e Arte (de 1964/67) e aprendeu Ioga, que o ajudou a recuperar a autoestima, confiança e gosto pela vida real, pontos de partida fundamentais que inspiraram a lutar pela autenticidade e estabelecer contacto (carta e telefone) com Angelina Pires de Sousa Gomes, natural de Portalegre, enamorando-se, e com a qual veio a contrair matrimónio em 22 de Setembro de 1968 (na Igreja e S. Lourenço, com copo de água no Café-Restaurante Amaia), renascendo assim outro mas bastante mais próximo da sua vocação primária, posto que é partir de então que se licencia em História (Universidade de Coimbra, 1979), conclui o curso de pós-graduação de História Cultural e Política (Universidade Nova de Lisboa, 1992) ou defende a tese de mestrado (1995), cria família própria (três filhos: Paulo, José e Ana Raquel) e inicia a sua carreira literária, publicando primeiramente O Ensino Primário no Distrito de Portalegre (1983 – edição da Assembleia Distrital de Portalegre, em colaboração com Dionísio Cebola, Director Escolar do Distrito de Portalegre), a que se seguiram Rostos e Gostos do Norte Alentejano (publicado em vários semanários, desde 1983), Escritores do Distrito e Portalegre (publicado no jornal Fonte Nova, desde 1984), Luís Gomes – Perfil e Obras de Um Portalegrense (edição de O Semeador, em 1985), Diálogos do Fim de Século (publicado no jornal Notícias de Elvas, desde 1987) António Silvestre, Artista em Ponte de Sor (Folheto comemorativo, Ponte de Sor, em 1987), Festa dos Aventais – Festa Popular, Regionalista, Republicana e Laica (edição da ESSL – Escola Secundária de S. Lourenço, em 1987), Teatro de Portalegre (edição do autor, em1987), Um Minuto de Olhos Fechados (poemas publicados no Notícias de Elvas, desde 1987), José Maria Grande – Figura Nacional do Liberalismo (Edições Colibri, em 1998), Luzia, o Eça de Queiroz de Saias (edição do autor, em 1990), As Chaves da Vida (publicado pela ESSE – Artes Gráficas, Lda, Lisboa, em 2002), Duas Vidas – Poemas (conjunto de versos de 1962 a 1999, editado por Produções Gráficas UNP, Lda, Lisboa, em 2003, cujo lançamento acontecerá durante as Festas da Cidade, com apresentação/leitura de Joelle Ghazarian e Júlio Henriques, e espectáculo de Ana Raquel Conde, numa performance de interactividade multidisciplinar de música, som, vídeo, gestos, movimento e palavras) e, para publicação, Beatriz Emília Rente – Glória de Portalegre nos Palcos Nacionais (rubrica inserida na revista Miradouro, mas que, segundo vontade expressa do autor, só será publicado em livro se a Câmara Municipal de Portalegre tomar a seu cargo iniciativa e custos, o que caso contrário nunca acontecerá), Instantâneos (com publicação prevista para este ano, espécie de fragmentos que retratam o alter-ego do autor, repartindo-o por momentos, situações e relatos avulso) ou Pronomes (Marvão – 2002, conjunto de quadros burlesco-satíricos, onde se descrevem com ironia e graça algumas figuras típicas do quotidiano português).
Se enquanto colaborador de diversos títulos da imprensa regional – colaborou na revista Miriam (de índole teológica, entre 1960 e 1967), nos jornais Fonte Nova (de 1984 a 1988), O Distrito de Portalegre (e 1985 a 1989), Notícias de Elvas (1987 a 1989), O Arraiano (de Elvas, em 1990), e na revista cultural portalegrense Miradouro, em 1989, ou como tradutor (traduziu do italiano, francês e castelhano cinco livros de divulgação teológica, publicados em 1969/70) – a sua atitude não foi a de profundo empenhamento, já enquanto professor se não pode dizer o mesmo, posto que no campo profissional excedeu sobremaneira as exigências do ensino, quer no sector privado, onde leccionou Língua e Literatura Portuguesa (nomeadamente no Seminário de Cristo Rei – Vila Nova de Gaia, Colégio La Salle – Abrantes, Colégio Municipal de Serpa Pinto – Angola, e Salas de Estudo “Renascença”, do qual foi também director em 1970/72, entre 1960 e 1972), quer no ensino oficial, que marcou multidisciplinarmente, onde ingressou em 1972 para leccionar Português e Latim em Malange, Benguela, Bailundo e Batalha, até 1977, e a partir daí como professor de História (Escolas Secundárias de S. Lourenço e Mouzinho da Silveira - ESMS, em Portalegre, e D. Dinis, em Lisboa), não se limitando contudo a ministrar conhecimentos mas sim também a participar activamente em Conselhos Directivos (Escolas Secundárias de Vila Teixeira da Silva e ESMS – 1974/75 e 1978/9, respectivamente), ora fazendo estágios (Estágio do 10º Grupo A, na Escola Secundária D. Dinis, em Lisboa, em 1979/80), ora enquanto orientador de estágio (zona sete, distritos do Alentejo, em 1984/85 e 1985/86), ora como director de turmas ou delegado de grupo (p.e. na ESMS, durante os anos lectivos de 198/81, 1981/82 e 1982/83, e na ESSL, em 1986/87 e 1987/88), bibliotecário (ESSL, nos anos lectivos de 1986/87, 1987/88, 1990/91 e 1991/92), professor de Português e Mundo Actual (Centro de Formação Profissional do Instituto do Emprego), planificador de visitas de estudo nacionais e internacionais, assim como definiu e orientou actividades de pesquisa em bibliotecas e arquivos.
Adepto do riso vital e da ironia mansa, jocosa, apaixonada de prazer e de alegria, consciente da sua pequenez na imensidade do Universo, mas também da importância que tem para o seu equilíbrio o tudo está relacionado com tudo, os elementos naturais e as pequenas coisas e seres, despojado de egoísmo messiânico fundamental, embora cada um dos seus livros possua valor intrínseco e interesse pontual, é em Luís Gomes – Perfil e Obra de um Portalegrense, Chaves da Vida e Duas Vidas que melhor se notam a pujança discursiva e acutilante de um espírito universal e convicto do papel reservado ao homem no planeta e o deste para a humanidade e vida. Desencantado mas lúcido, tranquilo, fluente, mas igualmente rigoroso e objectivo, o seu discurso espelha a determinação, segurança e coragem de uma pessoa habituada a encontrar-se consigo mesmo sem subterfúgios nem esquizofrenias. Ali, onde no olhar de quem se reinventou quotodianamente entre a moral e a ética, entre o pedagogo e o chefe de família, entre o historiador e o poeta, entre o passado e o (então) presente, entre o religioso e o social, com que sublinhou figuras esquecidas que se empenharam na prossecução do bem público com capacidade de entrega ao trabalho e ao dever, na defesa intransigente dos valores em que acreditavam (José Maria Grande – Figura Nacional do Liberalismo) ou personagens primeiríssimas no panorama das literaturas femininas europeias, enaltecendo-lhe a sensibilidade profunda e vibrátil, destruindo preconceitos e restabelecendo a verdade que circunscreveu Luzia, o Eça de Queiroz de Saias, ou ainda assentando a importância histórica dos tradicionais festejos dos caixeiros no Dia da Espiga (A Festa dos Aventais – Festa Popular, Regionalista, Republicana e Laica), bem como tecendo a panorâmica da actividade dramática em Portalegre através dos tempos (Teatro em Portalegre), cresceu uma personalidade exemplar e um cidadão modelo. Porque quem como ele soube o que é a fraternidade universal, reconheceu que a solidariedade significa estar com os outros, pagar a sua parte de obrigação ou de soldo, navegar no mesmo barco e prosseguir a mesma viagem, em igualdade de circunstâncias e sentimentos, se edificou no sacrifício e abdicação, retirando das horas amargas lições de luta, franqueza e galhardia, e enfrentou com riso e temperança os dissabores com que a mediocridade adversa bastas vezes lhe foi atreita, como no caso do concurso ao Ensino Superior Politécnico, em que foi preterido em favor de um estagiário sem a mínima prova dada, e denunciou apropriações autorais (soneto de Luís Gomes reciclado por José Régio, in Fonte Nova nº 31, de 29 de Maio de 1985), e jamais deixou de crer na democracia e liberdade, nem de ser firme na salvaguarda da vida, como valor essencial do Universo, de proteger os animais (v. g. os cães Becas e Pixy) e a natureza da inconsciência e do terrorismo humano, guardar o património artístico e histórico da humanidade, apoiar os criadores da beleza, pugnar pelo aumento de paz, justiça e verdade n mundo... Enfim, um homem que sempre esteve à altura da sua nobreza, e que até no leito de morte soube legar aos que lhe sobreviveram o melhor da sua existência, incutindo-lhes esperança numa última e derradeira palavra: «coragem!» - tal e qual como lhes disse. Coragem, de coração, praticando com os seus aquilo que a muitos ensinou!
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- Escribalistas é órgão de comunicação oficial de Joaquim Maria Castanho, mentor do escribalismo português