169.
QUE A DOR TAMBÉM SOFRE
Há um sofrimento infinito
Plo deslizar manso na água
Com que o sonho cala o grito
Com que o grito cala a mágoa.
E nesse círculo tão fechado
Quase onda que pedrada deu,
Fica o que é belo maculado
Por quem ao ódio dum odiado
Com outro ódio maior respondeu.
Qu’esquece o que ninguém esquece
Nem sequer quando bem aflito:
Que o amor por quem não merece
Só causa dor, só causa atrito…
– E sofre a dor mais do que eu
Que de todos sou quem mais sofreu!
Joaquim Maria Castanho
Com foto de Anabela Pereira