ÁGUA, PARTICIPAÇÃO E CIDADANIA
Dos mais fundamentais e preciosos bens que integram o conjunto dos ecossistemas terrenos
(e da ecosfera), a água é imprescindível, ou seja, aquele sem o qual a vida
no planeta não seria possível. O ouro azul. A causa de discórdias e desmandos por esse mundo fora, pomo de discussões, litígios, usurpações, envenenamentos e
adulterações, ou passível de gerar conflitos armados à escala regional, local
ou entre nações/entidades vizinhas, pois que, não obstante a sua abundância
momentânea, é sempre um bem escasso. Apesar de todos apesares, e de o “planeta
azul” se encontrar coberto dela, a verdade é que, desse imenso universo hídrico
cognoscível e verificável, constituído pelas grandes massas de água salgada dos
mares e oceanos, apenas 1% do seu volume total está ao alcance dos homens e
mulheres em condições viáveis de utilização e usufruto na satisfação de suas
necessidades de consumo, bem como dos demais seres vivos e ecossistemas dos quais
dependemos em absolutérrimo grau, e sem que se vislumbre outra qualquer
alternativa num futuro próximo (ou longínquo).
E
é, pois, dessa infinitamente ínfima parcela que todos dependemos, não só para
beber e higiene, como igualmente para produzir e confecionar alimentos, para a
pecuária e agricultura, para o vestuário e para o turismo, para a indústria,
comércio, desporto e lazer, sendo lugar-comum a conclusão de que nenhuma
atividade humana haver que se possa ter sem o seu contributo (direto ou indireto) – exceto respirar.
Por
conseguinte, é legítimo que cada homem e cada mulher, cada cidadão e cidadã,
sinta a necessidade de salvaguardar a água, enquanto bem e recurso, uma vez que
ao considera-la insubstituível, se outorga simultaneamente depositário de um
direito essencial, inalienável da espécie, enfim, um direito acessório e inextricavelmente
indissociável do próprio direito à vida e à dignidade da pessoa humana, que, grosso
modo, o investe consequentemente também do direito de saber onde e como ela
gasta, utilizada ou armazenada, à semelhança do que lhe assiste, por exemplo,
saber acerca do destino de seus impostos e património sociocultural,
identitário, bem como de saber em que condições se encontra e que está a ser
feito para aprovisionar a suficiente para todas as suas necessidades e stocks.
Ser
cidadão e cidadã responsável, emancipado/a, democrata, consciente,
interessado/a pelo seus futuro e dos seus descendentes, ou demais seres, a
tanto obriga, e não há como evitá-lo ou disso abdicar. Logo, quando qualquer munícipe
deixa de se interrogar e de inquirir as instituições
públicas quanto à forma como está a ser utilizada e gasta a água disponível no
seu habitat, não está a ser um gajo porreiro nem uma menina bem-comportada, antes
pelo contrário, está a ser uma pessoa negligente, sociopata em potência e ato,
criminoso por omissão e fuga às suas responsabilidades políticas, sociais e
pessoais. E até pode nem ser considerado chato e picuinhas, como os pseudo-humanóides
gostam de apelidar todas quantas e todos quantos pedem esclarecimentos e se
preocupam com essa matéria essencial à vida; mas isso significa que são menos malcomportados
e malcomportadas ou mais porreiros e porreiras do que quem não exige e
manifesta qualquer curiosidade em sabê-lo. Porque isso é que é ser cidadão e munícipe
interessado, ativo e democrata. E, sobretudo, moderno e participativo. Certo?
Joaquim
Castanho