5.10.2015

1984 na opinião de Aldous Huxley




“O 1984 de George Orwell constituía a projeção amplificada no futuro de um presente que continha o Estalinismo, e de um passado imediato que testemunhara a floração do nazismo. O Admirável Mundo Novo foi escrito antes da subida de Hitler ao poder supremo na Alemanha e quando o tirano russo ainda não compassara a sua marcha. Em 1931, o terrorismo sistemático ainda não era o fato obsessivo nosso contemporâneo que se havia tornado em 1948, e a ditadura futura do meu mundo imaginário era, em boa parte, menos brutal do que a futura ditadura tão brilhantemente descrita por Orwell. No contexto de 1948, 1984 parecia terrivelmente convincente. Mas, no fim de contas, os tiranos são mortais e as circunstâncias mudam. A recente evolução na Rússia, e avanços recentes no campo da ciência e da tecnologia retiraram ao livro de Orwell uma parte da sua horrenda verosimilhança. Uma guerra nuclear tiraria certamente todo o sentido às predições de qualquer pessoa. Mas, sustentando neste momento que as Grandes Potências podem abster-se algum tanto de nos destruírem, é lícito dizer que tudo se apresenta agora como se todas as vantagens pareçam mais a favor de algo como o Admirável Mundo Novo do que algo como 1984.

À luz do que apurámos recentemente acerca do comportamento animal, em geral, e sobre o comportamento humano, em particular, torna-se claro que o controlo do comportamento indesejável por intermédio do castigo é menos eficaz, no fim de contas, do que o controlo por meio do reforço do comportamento desejável mediante recompensas, e que o governo por meio do terror funciona, no conjunto, pior do que o governo  efetuado pela condução não-violenta do ambiente, das mulheres e das crianças, como indivíduos. A punição trava temporariamente o comportamento indesejável, mas não suprime definitivamente a tendência da vítima a sentir-se bem ao comportar-se desse modo. Além disso, os derivados psicofísicos do castigo podem ser justamente tão indesejáveis como os atos pelos quais um indivíduo foi castigado. A psicoterapia é largamente consagrada às consequências debilitantes ou antissociais das sanções sofridas no passado.

A sociedade descrita em 1984 é uma sociedade controlada quase exclusivamente pelo castigo. No mundo imaginário da minha própria fábula, o castigo não é frequente e é, de um modo geral, suave. O controlo quase perfeito exercido pelo governo é realizado pelo reforço sistemático de comportamento desejável, por numerosas espécies de manipulação quase não-violenta, tanto física como psicológica, e pela estandardização genética. As crianças geradas em proveta e o controlo centralizado da reprodução não são talvez impossíveis; mas é perfeitamente claro que, durante muito tempo ainda, continuaremos a ser uma espécie vivípara que se reproduz ao acaso. A estandardização genética com fins práticos pode ser posta de lado. Continuará a haver nas sociedades o controlo pós-natal – pela repressão, como no passado, e, numa extensão cada vez maior, pelos métodos mais eficazes da recompensa e da manipulação científica.”

In ALDOUS HUXLEY
Regresso ao Admirável Mundo Novo
Trad. Rogério Fernandes
(pág. 17/18/19)

Para as minhas filhas com amor, de Pearl S. Buck




“A emoção, o sentimento, a perceção e o discernimento, são tudo formas de combustão baseadas na imutabilidade. Nada existe de novo debaixo do sol – afirmou há milhares de anos um velho sábio – e tal afirmação continua a ser tão verdadeira atualmente como então. O que hoje existe existiu sempre e sempre existirá na Terra: o que se altera é a forma, não a essência. É a essa essência aquilo que temos de aprender e de aceitar como verdade permanente antes de nos decidirmos a transformar o seu tipo de expressão. A essência é a verdade que uma geração passa a outra e que a nova geração tem que receber se se decidir a optar pelo progresso. Os cientistas conhecem perfeitamente este processo, pois cada um deles baseia a sua nova descoberta naquilo que outro cientista já aprendeu.”

In PEARL S. BUCK
Para as Minhas Filhas Com Amor
Trad. Virgínia Motta

(pág. 18)

La vida es un tango y el que no baila es un tonto

La vida es un tango y el que no baila es un tonto
Dos calhaus da memória ao empedernido dos tempos

Onde a liquidez da água livre

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Também pode alcançar o céu

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