BIODIVERSIDADE
E EVOLUÇÃO
A floresta espontânea e as espécies da
flora portuguesa, entre as quais podemos destacar, pela nobreza do porte e
notada significação ambiental, cultural e económica, o grupo das quercíneas, a
que pertencem todos os carvalhos, como o carvalho cerquinho, alvarinho ou
roble, o carvalho negral, mas também o sobreiro e azinheira tão vulgares no
nosso território, que, por se encontrarem inequivocamente adaptadas à nossa
realidade e cotidiano, apresentam um elevado fator de sustentabilidade aos
níveis da conservação da natureza, do equilíbrio climatérico e da qualidade do
ar, fixando o CO2, concorrendo assim para estabilidade e recarga dos aquíferos,
para a preservação e para a regeneração dos solos, bem como agindo no combate
aos incêndios pela reconhecida resistência e capacidade regenerativa que todos
lhe constatamos.
Árvores que estão connosco desde as origens
dos tempos e que, por isso mesmo, fazem parte da nossa cultura, da nossa
história, da nossa identidade, não só desde os tempos em que a castanha e a
bolota eram uma componente fundamental da nossa dieta alimentar, porquanto se
podiam denominar a batata da nossa antiguidade e idade média, que só veio a
integrá-la após os descobrimentos quinhentistas, mas também por fazerem parte
da nossa memória, do nosso imaginário e poética, do nosso património material e
imaterial, da nossa religiosidade como da nossa onomástica, quer nos nossos
nomes como na toponímia dos lugares, como por exemplo, da "capital"
do Alentejo, Évora, cujo nome deve a um étimo de origem céltica, eburone,
que significa teixo.
Contudo, e não obstante, esta floresta,
autóctone e de geração espontânea, desempenha também e ainda um papel económico
e social de relevada importância, com significativos reflexos no setor
agroindustrial e energético, que, mas não excluindo, vão muito para além da
simples e generosa produção lenhosa, alimentação de gados de insuspeita
qualidade, ajudando inclusive à produção de mel, frutos e aromáticas, atividade
cinegética e turismo de natureza, pelo que geram emprego e riqueza,
justificando assim que o mundo moderno e civilizado lhe atribua um estatuto
legal conforme a sua importância e lugar ocupado no ecossistema, como o (a)dote
também como símbolo de resiliência, atualização e combatividade que melhor
espelha a natureza e caráter das gentes alentejanas.
Honremo-la, portanto, pelo que ela é, mas
também por quem somos. E não a condenemos à solidão e ostracismo, e sobretudo,
permitam-nos deixá-la conhecer novos vizinhos e companhias. Pois é esse o
desígnio e o desafio do futuro, irradiando definitivamente as monoculturas que
sufocaram durante anos e anos as florestas autóctones e espontâneas, como foi o
caso dos eucaliptos e pinheiros bravos, facilitando agora a multiplicação de
oportunidades e espécies gerada pela biodiversidade, que sugere ser a única
forma de acrescentar sustentabilidade ao nosso ecossistema, a de propiciar
multiplicidade e diversão ao que já é por si mesmo múltiplo e diverso.
Joaquim Castanho